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75% dos cearenses acreditam em sistema de voto brasileiro
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75% dos cearenses acreditam em sistema de voto brasileiro

Menor percentual de confiança está entre pessoas com 60 anos ou mais. Quanto maior a escolaridade, maior a crença de que a votação transcorrerá normalmente
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O TRE autorização a realização de eleições suplementares em fevereiro (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves O TRE autorização a realização de eleições suplementares em fevereiro

Para 75% dos cearenses, as urnas eletrônicas são confiáveis. Eles vão na contramão das críticas feitas recorrentemente pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) de que o modelo brasileiro de votação é passível de fraudes. Enquanto isso, outros 20% creem no que prega o mandatário. Não sabem ou não responderam compõem 5%. A constatação está em pesquisa Ipespe, contratada por O POVO.

A pergunta aos entrevistados foi: "você confia ou não no sistema de voto eletrônico, ou seja, na urna eletrônica?" O levantamento ouviu mil pessoas por telefone, de 30 de julho a 2 de agosto, de todas as partes do Ceará. Está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com os códigos BR-03845/2022 e CE-01693/2022. A sondagem ouviu pessoas com 16 anos ou mais. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95,5%.

Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), 72% demonstram acreditar no modelo em vigência desde 1996, assim como 77% que moram no Interior do Ceará.

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No recorte etário, o maior índice de confiança está entre os jovens de 16 a 24 anos, com 83%. Na sequência, com 77%, pessoas com idade entre 45 e 59 anos. Para 76% dos entrevistados de 25 a 44 anos são crentes que o voto computado é o mesmo registrado. O menor percentual de confiança está com quem tem 60 anos ou mais, com 64%.

Quanto maior o grau de escolaridade, conforme o Ipespe, maior o número de pessoas que creem nas urnas eletrônicas. Entre os que completaram o Ensino Superior, 79% dizem que o resultado anunciado na noite do dia 2 de outubro será legítimo. No ensino médio, este número cai para 74%. Entre os que estudaram até o ensino fundamental, este dado sobe um ponto percentual: 75%.

A reportagem do O POVO andou pela Praça do Ferreira, no Centro, na última segunda-feira, 8, para ouvir o que pensam as pessoas que passavam por ali e que irão às urnas. O tema é carro-chefe da retórica presidencial. Sem ter conseguido apresentar nenhuma evidência, ele põe sob suspeição o modelo de votação brasileiro num contexto em que aparece em segundo nas pesquisas, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Raimundo Parente, aposentado de 66 anos, perguntou: "Eu posso falar o que eu quero?" Ao ouvir que sim, respondeu que a "fake news" está instalada no País. "É uma urna que eu acho confiável. Tem candidato aí que foi eleito pela urna, está com sete mandatos, e agora que está achando errado? Então, é isso, eu acho que ela é confiável, avançada, nós estamos à frente de muitos países de primeira linha com relação a eleição."

RAIMUNDO Parente considera as urnas confiáveis(Foto: FOTOS: FERNANDA BARROS)
Foto: FOTOS: FERNANDA BARROS RAIMUNDO Parente considera as urnas confiáveis

O porteiro noturno Adauto Lúcio dos Santos, trajado com camisa "número 2" da seleção brasileira, afirmou que as urnas, embora de "primeira geração", necessitam de mais transparência. Para ele, Bolsonaro está certo ao pedi-la. "O TSE não está querendo. Acho que eles deveriam acatar, porque o povo está pedindo transparência."

ADAUTO Lúcio acha que as urnas precisam de mais transparência(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS ADAUTO Lúcio acha que as urnas precisam de mais transparência

O jovem casal de namorados Ícaro Teles, chefe de cozinha, e Tamires Ferreira, assistente social, veem risco à democracia com a investida contra as urnas. O modelo exclusivamente impresso, para Teles, é o que mais concentra chances de fraudes e pressões em que o fator financeiro é a principal explicação, como a de um empresário sobre empregados. "Ele sabe que vai perder mesmo", diz Tamires sobre Bolsonaro, como complemento à resposta do namorado.

TAMIRES vê risco à democracia com a investida de Bolsonaro contra as urnas(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS TAMIRES vê risco à democracia com a investida de Bolsonaro contra as urnas

"Toda forma de contestação que tem surgido nos últimos tempos só reverbera o quanto esse sistema em que estamos inseridos quer questionar o tempo todo a nossa democracia", diz Tamires, temendo a instabilidade política que, avalia, 2022 ainda reserva.

Sentada numa cadeira ao lado de produtos variados, a comerciante Jaqueline Félix de Melo respondeu que não sabe se votará. "Eu não confio nos candidatos, na urna, sim, eu confio."

JAQUELINE não sabe se votará, mas confia na urna(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS JAQUELINE não sabe se votará, mas confia na urna

Fortaleza integra agenda de atos de 11 de agosto em defesa da democracia

Está previsto para esta quinta-feira, 11, em Fortaleza, um ato em defesa da democracia, do sistema eleitoral brasileiro e por eleições livres. São dois atos agendados para ocorrer na capital cearense: um às 9 horas, na Praça da Bandeira (Centro), e outro na Praça da Gentilândia, às 16 horas.

O evento integra programação nacional de 11 de agosto, com manifestações em várias capitais, em defesa de um processo eleitoral democrático e contra o discurso do presidente Jair Bolsonaro (PL) de ataque ao sistema eleitoral.

No mesmo dia, será lida a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito. O manifesto organizado na Faculdade de Direito da USP, passou ontem da a marca de 800 mil assinaturas, dois dias antes de sua apresentação em ato no Largo de São Francisco, na capital paulista.

A carta pela democracia é uma reação aos ataques ao processo eleitoral feitos pelo presidente. A expectativa é que artistas populares que assinaram o manifesto também passem a engajar seus públicos, o que pode acelerar a marca de 1 milhão de assinaturas até o dia 11 de agosto, data em que será realizado ato na Faculdade de Direito da USP.

Os presidenciáveis Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e Luiz Felipe d'Avila (Novo) assinaram o documento logo após seu lançamento. Na última segunda-feira, 8, após ser cobrado por apoiadores, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sua esposa, a socióloga Rosângela "Janja" da Silva, também endossaram o movimento.


FORTALEZA, CE, BRASIL, 05.08.2022: Convenção do Capitão Wagner (União Brasil) aconteceu hoje no ginasio da Unifametro ao lado dos partidos aliados (Foto: Thais Mesquita/OPOVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 05.08.2022: Convenção do Capitão Wagner (União Brasil) aconteceu hoje no ginasio da Unifametro ao lado dos partidos aliados (Foto: Thais Mesquita/OPOVO)

Eleitor de Capitão Wagner é quem menos confia em voto eletrônico

Eleitores do candidato ao Governo do Ceará Capitão Wagner (União Brasil) são os que menos creem na lisura do processo eleitoral brasileiro, na comparação com apoiadores dos candidatos Roberto Cláudio (PDT) e Elmano Freitas (PT). É o que aponta pesquisa Ipespe contratada por O POVO

Mais da metade, 58% dos que votarão em Wagner, dizem acreditar na lisura da urna eletrônica, enquanto 35% não creem. Entre apoiadores de Elmano, 95% dizem confiar na urna, enquanto 89% apoiam Roberto Cláudio. O candidato do PDT é apoiado por 8% de descrentes nos equipamentos e Elmano, por 2%. 

Wagner votou "sim" à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) conhecida como "PEC do Voto Impresso", apesar de afirmar que acredita na urna eletrônica. A votação completa um ano hoje, 10 de agosto.

O levantamento ouviu mil pessoas por telefone, de 30 de julho a 2 de agosto, de todas as partes do Ceará. Está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com os códigos BR-03845/2022 e CE-01693/2022. A sondagem ouviu pessoas com 16 anos ou mais. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95,5%.

Na média dos cearenses, 75% dos entrevistados afirmam confiar no sistema eleitoral brasileiro. Já 20% dos eleitores do Estado vão na direção oposta, enquanto 5% não soube ou não respondeu à pesquisa.

Entre eleitores cearenses do presidente Jair Bolsonaro (PL), 47% dizem acreditar nos equipamentos, ao passo que 45% seguem Bolsonaro na descrença. Como a margem de erro da pesquisa é de 3,2 pontos, o retrato entre bolsonaristas é de empate técnico.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 12% de apoiadores que não acreditam nas máquinas que receberão os votos brasileiros no próximo dia 2 de outubro, enquanto 83% dizem ter crença na integridade delas.

Já entre os eleitores de Ciro Gomes (PDT), terceiro nas pesquisas de intenção de voto, são 89% de apoiadores com fé nas urnas brasileiras, com 9% que vão em direção oposta. No retrato geral, 5% não sabem ou não souberam responder.

Jair Bolsonaro havia prometido a Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, que encerraria o assunto no caso de a proposta ser derrotada no plenário. O texto que foi a voto a despeito da não aprovação em comissão especial teve placar de 229 parlamentares, com 218 contrários. O mínimo necessário era de 308.

 

Tse disponibiliza meios de reforçar transparência e lisura do voto
Tse disponibiliza meios de reforçar transparência e lisura do voto

Urnas são protagonistas de um processo com pessoas, normas e auditorias, diz técnica do TRE

Em entrevista ao O POVO, a secretária Tecnologia da Informação do Tribunal Regional Eleitoral no Ceará (TRE-CE), Lorena Belo, destacou que o processo eletrônico de votação tem de ser compreendido exatamente como o nome anuncia, ou seja, um processo, do qual fazem parte diversos personagens.

"A urna eletrônica pode ser considerada protagonista porque acaba sendo aquela com a qual o eleitor tem contato diretamente. A urna eletrônica representa visual e fisicamente o canal de interação do eleitor com esse processo, mas é um processo formado por pessoas, normas, oportunidades de auditoria e fiscalização, procedimentos que são previstos na lei e em resoluções criadas especificamente para cada pleito. Esse processo é construído de uma forma a conferir segurança, transparência e confiabilidade ao todo", explica Lorena.

Ela sublinha que as atribuições de cada parte envolvida são bem divididas, de modo que uma não detém conhecimento sobre a outra, tampouco prerrogativa de acesso que permitam fraudar um pleito, "porque cada personagem atua dentro do seu espaço de atuação e sempre controlado por ferramentas de auditoria e transparência."

No Ceará, por exemplo, o Teste de Integridade (ver infográfico) será realizado com 27 urnas. Elas são selecionadas quando já prontas e lacradas em seus locais de votação em todo o Estado. O número segue proporção em relação ao eleitorado. A coleta das urnas ocorrerá sábado anterior ao pleito e com escolta da Polícia Federal (PF). 

Como exemplo de ação de transparência, Lorena cita a abertura do código-fonte a um ano da eleição para que partidos e entidades possam realizar inspeções. "Não é, de fato, algo inteligível para o cidadão médio, mas a resolução 23.673, do TSE no ano passado, diz que temos que um rol de entidades fiscalizadoras que devem acompanhar esse processo e que podem, por exemplo, ter acesso aos códigos-fonte desse sistema." 

A resolução citada por Lorena engloba partidos políticos, coligações e federações, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Ministério Público Federal (MPF), a Controladoria-Geral da União (CGU), a Polícia Federal, a Sociedade Brasileira de Computação, o Conselho de Engenharia e Agronomia (Crea), Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Tribunal de Contas da União (TCU), Forças Armadas e outras entidades públicas e privadas.

A técnica explica ainda que os códigos-fonte são responsáveis por "dizerem" o que o sistema deve fazer. Se forem programados por "técnico mal intencionado" para que a urna se comporte desta ou daquela forma, os códigos dirão isso. Daí a importância de que possam ser inspecionados. Como as informações são extremamente técnicas, diz Lorena, "a população precisa entender que se faz representar por aquelas entidades todas que tem capacidade técnica para fazer esse processo de auditoria e fiscalização."

 


 

 

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Suspeitas ou fraudes eleitorais eram constantes antes de voto eletrônico

No período anterior a 1996, ou seja, antes da votação como a conhecemos atualmente no País, era comum que a suspeita de fraudes fosse um dos componentes da história de cada disputa. Em 1982, indícios de fraude cercaram a eleição do candidato a vereador Sergio Costa

O Tribunal Regional Eleitoral no Ceará (TRE-CE) decidiu anular votos das urnas da 278ª Seção, da 83ª Zona Eleitoral, em Fortaleza. O perito Jarbas Botelho disse à época ter havido indícios de fraude no preenchimento das cédulas. A Polícia Federal abriu inquérito para apurar o caso.

Foram 37 cédulas preenchidas pelo punho de uma única pessoa. Mais 28 cédulas preenchidas por outra; 23 foram preenchidas por outra; quatro por um "punho D" e três por um "punho E".

A história ainda ficaria mais delicada, com a descoberta de que na 462ª seção também existiu fraude. Foram 240 cédulas preenchidas por seis punhos, todas com preferência por Costa. Mais votos falsamente dados a Costa também seriam anulados.

Em 1996, o juiz auxiliar da corregedoria do TRe-CE, Luiz Gerard de Pontes Brígido, decidiu investigar evidências de fraude na disputa municipal de Camocim. O juiz levou para o tribunal vários documentos retirados do armário que estava lacrado desde as eleições. Tratavam-se de canhotos de entregas de títulos, folhas de votação de algumas seções e outros documentos.

O juiz quis confirmar se canhotos que estão sem assinatura foram entregues a pessoas que não eram suas donas. Naquele ano, Sergio Aguiar (então no PSDB), atualmente deputado estadual, vencera a disputa contra o tio Murilo Aguiar (PSD).

No antigo sistema de voto, havia a estratégia chamada "voto formiguinha", em que um dos primeiros a entrar na cabine de votação recebia a cédula do mesário e, diante da urna, guardava a cédula no bolso e colocava um papel qualquer na urna.

Outra pessoa pessoa recebia a cédula, marcava os candidatos desejados e entregava a um próximo eleitor. Este pegava a cédula preenchida e mais outra em branco. Depositava a primeira e devolvia a segunda ao operador do esquema. As "urnas emprenhadas" também constituíam outro modelo de fraude, pois já vinham com votos dentro em razão da fragilidade do lacre.

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