Os eleitores de Baixio, a 420 quilômetros de Fortaleza, no Centro-Sul do Ceará, vão às urnas no próximo dia 11, para votar na eleição suplementar que elegerá os novos prefeito e vice-prefeito do município. O pleito coloca frente a frente candidaturas do PDT e do PT, siglas que neste ano protagonizaram um rompimento no âmbito estadual que, ainda hoje, gera incertezas quanto a continuidade da relação e do projeto do grupo que gere o Ceará há 16 anos.
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A necessidade de um novo pleito municipal se apresentou após a chapa eleita em 2020, com Zé Humberto (PDT) e Donizete Cavalcante (PDT), ser cassada pela Justiça Eleitoral, que julgou haver irregularidade no uso dos canais de comunicação institucionais da prefeitura.
Em abril deste ano, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-CE) anulou os diplomas de ambos os eleitos e tornou Zé Humberto inelegível por oito anos, a contar da eleição de 2020.
Após a decisão, a gestão municipal passou a ser comandada pelo então presidente da Câmara Municipal, Raimundo Amaurílio (PDT), o Zico, que atualmente concorre a prefeito pela chapa pedetista.
Além dele, outras duas candidaturas foram postas: Kacilda Alencar (PT), que já havia disputado em 2020, e Jackson Santos (União Brasil). Este último teve a candidatura indeferida e anunciou que não recorreria da decisão, abdicando assim do pleito.
Portanto, a eleição em Baixio coloca PDT e PT em confronto direto, com lideranças estaduais apoiando as candidaturas de seus respectivos partidos. Zico reúne o apoio, por exemplo, do deputado federal André Figueiredo, presidente estadual do PDT, e do deputado estadual Guilherme Landim, líder da sigla na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE).
No último dia 17, Figueiredo esteve no município para declarar apoio ao colega de legenda. “Me sinto um cidadão baixiense e parte do município (...) Vamos buscar recursos seja no orçamento federal ou no Governo do Estado para o município. No dia 11/12, é 12”, disse Figueiredo em vídeo compartilhado nas redes sociais do candidato pedetista.
Landim visitou o município no início deste mês e participou da convenção que formalizou a chapa. “Com a união de todos os amigos baixienses, vamos eleger nosso prefeito Zico e o nosso vice Donizete, no pleito que se aproxima”, destacou o parlamentar.
No último dia 18, Landim comentou a atual situação de rompimento com o PT e disse que as conversas acerca do PDT compor a base do governador eleito Elmano de Freitas (PT) já começaram.
“A minha posição individual é de que existe uma convergência de projetos entre o PDT e o PT e o governador Elmano”, disse em entrevista à Rádio CBN Cariri. Porém, naquela disputa local, estão em lados opostos.
Do lado petista, Kacilda reúne os apoios de correligionários de peso e usa as imagens do presidente eleito Lula, do senador eleito Camilo Santana e do governador eleito Elmano de Freitas para divulgar o slogan “Baixio 4 Vezes Mais Forte” (onde ela se inclui na conta).
A frase é uma referência ao slogan utilizado na campanha estadual do PT Ceará, que dizia que o Estado seria “3 vezes mais forte” com Elmano, Camilo e Lula eleitos, o que ocorreu ao final das eleições de outubro.
O deputado federal José Guimarães (PT), vice-presidente nacional do PT, também está na lista de apoiadores e gravou um vídeo expressando apoio a Kacilda.
“O PT tem uma candidata com apoio das direções nacionais e estaduais, do senador (eleito) Camilo e do presidente reeleito Lula e o nosso apoio (...) Podem contar comigo, vou ajudar a cidade com a nossa prefeita eleita. É o 13 do Lula, o 13 do Elmano e o 13 do Camilo”.
Outro que apoia a petista é o ex-secretário e deputado estadual eleito De Assis Diniz (PT), que esteve no município no último dia 18 participando de ato de campanha da colega.
“Os meus candidatos são os mais preparados, os mais atuantes e os melhores para o povo de Baixio. Com Lula, Camilo, Elmano e Kacilda, Baixio será 4x mais forte”, escreveu em postagem onde aparece ao lado de Kacilda em carreata no município.
A campanha eleitoral em Baixio é cercada de incertezas. Houve divisão entre os vereadores do PDT no município e nem todos apoiaram a candidatura de Zico devido a um rompimento na chapa eleita em 2020, que envolveu o prefeito cassado Zé Humberto.
Além disso, Kacilda e Jackson divulgaram que tiveram pedidos de cassação de suas respectivas candidaturas ajuizados pela chapa do PDT. No caso de Jackson, que abandonou a disputa, ele disse em vídeo publicado no Instagram que foi “surpreendido” pela ação pedindo a impugnação da candidatura.
“Na data de hoje, 26 de novembro, nossa equipe compartilhou que o juiz (eleitoral) acatou um pedido de impugnação feito por Donizete (...) Tínhamos o direito de recorrer, mas em respeito ao povo de Baixio, mediante a tantas incertezas e instabilidades, decidimos não recorrer e aceitamos a decisão do juiz eleitoral”, diz. A candidatura já aparece como indeferida no site Divulga CandContas, da Justiça Eleitoral.
Outro fator dessa instabilidade é o fato de o prefeito interino Zico ter sido alvo de operação da Polícia Federal (PF) que investiga supostas fraudes em um concurso realizado pelo Legislativo local. Na época ele era presidente da Câmara. A suposta fraude teria ocorrido em 2019 e seria para beneficiar pessoas próximas aos envolvidos e o julgamento do processo ainda não foi finalizado.
Neste cenário de incertezas, com um prefeito já cassado neste ano, os baixienses terão ido às urnas três vezes em um intervalo de pouco mais de dois meses com as eleições suplementares de dezembro.
Em 2 de outubro, os eleitores votaram para deputado federal e estadual, senador, governador e presidente da República; no dia 30 do mesmo mês votaram no segundo turno presidencial e, por fim, votarão no pleito municipal no próximo dia 11. Neste último caso, os eleitos ficarão na gestão municipal até o fim de 2024.