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Brasileiros deixam Gaza após um mês de tensão e angústias
Politica

Brasileiros deixam Gaza após um mês de tensão e angústias

A jornada de repatriação, marcada por momentos de tensão, angústia e terror, teve início no dia 7 de outubro, logo após o atentado do Hamas a Israel. Foram dias de espera aguardando a inclusão na lista de pessoas autorizadas a atravessar a passagem de Rafah, o que só ocorreu na sétima lista
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Algumas das crianças do grupo de brasileiros repatriados no lado egípcio da fronteira com Gaza (Foto: MRE/Divulgação/Via Agência Brasil)
Foto: MRE/Divulgação/Via Agência Brasil Algumas das crianças do grupo de brasileiros repatriados no lado egípcio da fronteira com Gaza

Depois de mais de um mês de tentativas frustradas, 32 brasileiros e palestinos que estavam presos na Faixa de Gaza conseguiram chegar ao Egito neste domingo, 12, confirmou o Itamaraty no X, antigo Twitter. Duas pessoas que constavam da lista original, de 34 nomes, decidiram permanecer em Gaza.

A chegada das 32 pessoas marca o fim de uma longa espera pela retirada dos brasileiros do enclave governado pelo Hamas e sob uma operação militar conduzida por Israel após o atentado de de 7 de outubro. O grupo é composto de 22 brasileiros de nascimento, 7 palestinos naturalizados brasileiros e 3 palestinos familiares próximos. São 17 crianças, 9 mulheres e 6 homens. Eles tentam escapar do conflito entre o Hamas e Israel que já deixou mais de 12 mil mortos, dos quais cerca de 1,2 mil israelenses e 11 mil palestinos, sendo quase 70% mulheres e crianças.

O grupo dormiu no Egito e embarca para o Brasil somente nesta segunda-feira, 13. Eles deverão passar por Roma, Las Palmas, Recife e Brasília.

Longa espera

A jornada de repatriação, marcada por momentos de tensão, angústia e terror, teve início no dia 7 de outubro, logo após o atentado do Hamas a Israel. Foram dias de espera aguardando a inclusão na lista de pessoas autorizadas a atravessar a passagem de Rafah, o que só ocorreu na sétima lista.

Mesmo com a inclusão, os brasileiros ainda tiveram que aguardar, já que a fronteira de Rafah, em Gaza, para o Egito foi fechada no sábado, 4, após ataque a ambulâncias, que deixou vários palestinos mortos e feridos.

A fronteira permaneceu fechada nos dias seguintes por razões de segurança. Na sexta-feira, 10, ataques aéreos de Israel atingiram ao menos três hospitais na Faixa de Gaza e mantiveram a fronteira fechada.

Durante esse período, os brasileiros sofreram com difíceis condições de sobrevivência. Foram momentos sem energia, sem comunicação. No dia 27, a empresa de telefonia Palestina Jawal informou o corte de todas as comunicações com a Faixa de Gaza.

Os brasileiros sofreram ainda com os bombardeios de Israel, que também atingiram o sul de Gaza. No dia 30, novo bombardeio atingiu um prédio ao lado da residência de uma das famílias de brasileiros em Khan Yunes.

Mal-estar diplomático

A ausência dos brasileiros em seguidas listas de autorizados a cruzar a fronteira causou mal-estar nas relações diplomáticas entre Brasil e Israel. Dos 3.463 estrangeiros autorizados a sair da Faixa de Gaza até a quarta-feira, 8, 1.253 têm passaporte dos Estados Unidos, o que representava 36,1% do total. O principal aliado de Israel na guerra que o país declarou contra o Hamas lidera a lista de nacionalidades até agora autorizadas a deixar o enclave palestino. Além dos Estados Unidos, mais oito países tiveram mais de 100 nacionais autorizados a sair da região. Essas nove nações somam 86% do total de estrangeiros autorizados a deixar Gaza. A segunda nacionalidade mais beneficiada foi a Alemanha, com 335 pessoas, o que representa 9,6% do total.

Em terceiro lugar está a Ucrânia, com 329 pessoas (9,5%) e, em quarto, a Jordânia, com 289 pessoas autorizadas a sair de Gaza (8,3%). Em seguida, estão o Reino Unido com 241 pessoas nas listas (6,9%), a Romênia com 154 (4,4%), as Filipinas com 153 (4,4%), o Canadá com 120 (3,4%) e a França com 111 (3,2%).

A demora foi considerada uma espécie de “retaliação” de Israel à postura do Brasil em relação ao conflito com o Hamas e ocorreu após críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente disse que a postura do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, é de querer acabar com a Faixa de Gaza e classificou o ato como “insanidade".

Lula também defendeu o fim do poder de veto de membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) para que a entidade assuma posição mais forte em relação ao conflito.

Saída de Gaza

Na saída da Faixa de Gaza, antes de chegar ao Cairo, o grupo fez percurso de ônibus de aproximadamente 2 km, onde realizaram os procedimentos obrigatórios para entrada no país. Os brasileiros passaram pelo controle migratório palestino de Gaza, cumprindo os trâmites necessários para deixar a região.

O cidadão brasileiro Hasan Rabee, que está no grupo de brasileiros, registrou no Instagram o momento em que os brasileiros chegaram à fronteira. "Bom dia, gente: a gente chegou na fronteira. Daqui a pouco vamos para o lado do Egito. Rezem por nós", afirmou Hasan Rabee.

Ele estava na Faixa de Gaza para visitar a mãe quando ele e sua família ficaram presos após a reação de Israel ao ataque terrorista do Hamas em território israelense.

Os brasileiros foram incluídos na lista de estrangeiros autorizados a deixar a Faixa de Gaza por meio da passagem de Rafah na fronteira do Egito na sexta-feira, 10, mas pouco depois da liberação, a fronteira foi fechada.

O posto fronteiriço de Rafah foi o ponto de entrada, com a chegada do grupo ocorrendo às 8 horas da manhã deste domingo, no horário local, equivalente às 3 horas da madrugada no horário de Brasília.

Além dos brasileiros, a lista de saída tem cidadãos de outros 14 países, com 554 pessoas. Essa foi a sétima leva de estrangeiros que deixaria o local.

Segundo Paulino Carvalho Neto, embaixador do Brasil no Egito, a previsão inicial é de que o grupo durma no Egito neste domingo, 12, para descansar e se alimentar.

O avião presidencial está no Aeroporto do Cairo à espera do grupo que será repatriado e também com autorização para decolar até o aeroporto de El Arish. Uma médica oficial da Aeronáutica também irá acompanhar as famílias no voo com destino ao Brasil.

O grupo é formado por pessoas que estavam no sul da Faixa de Gaza, nas cidades de Khan Younis e Rafah. Quando chegarem ao Brasil, elas devem permanecer por duas noites em Brasília, em um alojamento da FAB se recuperando e descansando.

Uma força-tarefa será mobilizada no aeroporto, onde haverá estrutura de acolhimento com representantes da Polícia Federal e Receita Federal destacados para auxiliar no desembaraço de documentação, caso haja necessidade.

Haverá ainda a presença de médicos, psicólogos e um posto de imunização para fazer o atendimento imediato.

Segundo o Itamaraty, nem todos têm casa no Brasil e alguns são palestinos, e será preciso oferecer apoio e documentação para viverem no Brasil. Algumas famílias poderão ficar abrigadas no interior do estado de São Paulo. (Com Agência Brasil)

Ataque

O escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) em Gaza foi bombardeado, disse o administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Achim Steiner. Segundo a autoridade, há relatos de que o ataque deixou mortos e feridos

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