Concedidas durante encontro do PDT no Ceará conduzido por Cid Gomes na semana passada, as mais de duas dezenas de cartas de anuência para desfiliação foram uma “medida de precaução”, segundo pedetistas ouvidos em reserva pelo O POVO.
“Desde o acontecido no Rio de Janeiro (plenária do diretório nacional) que alguns já insistiam nessa tese, mas o Cid sempre resistia”, relata um parlamentar da legenda, para quem a “reunião da executiva que previa a intervenção no diretório foi o ponto determinante para essa medida de precaução”.
Realizada no dia 27 de outubro, a agenda da cúpula nacional, sob comando do deputado federal André Figueiredo, decidiu pela instauração de processo de intervenção no diretório estadual e consequente afastamento de Cid da frente dos trabalhos locais.
Na semana seguinte, o colegiado nacional voltaria a se agrupar, agora para aprovar parecer da comissão de ética do partido recomendando a tutela da unidade estadual à executiva nacional, destituindo o senador do posto de dirigente.
Para o seu lugar, foi designado o ex-parlamentar Flávio Torres, um aliado de Figueiredo que tocaria uma comissão provisória interventora até o fim do mandato do diretório, em 31 de dezembro de 2023.
Decisão judicial obtida por Cid, no entanto, invalidou a intervenção, devolvendo-lhe novamente a função de presidente do PDT cearense e corroborando, conforme o bloco cidista, as cartas de anuência.
De acordo com um deputado do partido, tratou-se, mediante a aprovação das permissões para saída do PDT, de “evitar uma perseguição ainda maior, sem que a gente pudesse tomar algo que protegesse nossos mandatos”.
Outro pedetista reitera que, no quadro de instabilidade pelo qual a agremiação passa, as cartas eram o único instrumento de que dispunham para salvaguardar suas cadeiras de congressistas, no caso de deputados federais, ou seus assentos na Assembleia Legislativa, na hipótese dos estaduais.
Para esse bloco ligado a Cid, todas as etapas na disputa interna com o grupo de Figueiredo e de Ciro Gomes, a partir de agora, vão ser definidas coletivamente, sem pressa.
O primeiro desses movimentos prevê, nas palavras de um trabalhista, “ingressar na Justiça Eleitoral para consultar se temos o direito ou não de sairmos de forma antecipada sem a perda dos mandatos”.
“Enquanto o processo tramita”, ele complementa, “temos tempo para continuar dialogando e aguardar um desfecho positivo dentro do partido”.
Essa fonte calcula, no entanto, que as chances de que o jogo de forças intrapartidárias seja revertido são muito pequenas, uma vez que os ciristas detêm controle da máquina partidária nacional, restando aos cidistas apenas a via da judicialização, a qual têm recorrido até aqui.
Desde julho, o PDT nacional já tentou duas vezes dissolver o diretório local, apeando Cid do comando do partido – em ambas, foi impedido por liminar de magistrado cearense acionado pelo colegiado pedetista local.
“Até o momento, os sinais vindos da direção nacional são de que não desejam a nossa permanência no partido. No dia em que ganharmos o processo, vamos avaliar os próximos passos. Mas vai depender muito mais do PDT mudar a postura do que de nós, que não fizemos nada de errado”, avalia outro pedetista.