Candidato a prefeito de Fortaleza, Tecio Nunes recebeu, até agora, R$ 700 mil para a sua campanha. O valor foi integralmente repassado a ele pela direção nacional do Partido Socialismo e Liberdade (Psol). A candidatura, assim, supera a soma das últimas três campanhas do Psol que lhe antecederam em Fortaleza, quando Renato Roseno (2012 e 2020) e João Alfredo (2016) tentaram chegar ao Paço Municipal.
Produtor cultural, Técio Nunes é secretário da Organização da Executiva Nacional do Psol, além de presidente do Psol Fortaleza e da federação estadual Psol/Rede.
Campanhas inteiras do Psol em 2012, 2016 e 2020:
Soma das campanhas de 2012, 2016 e 2020: R$ 532.564,03
Campanha do Psol até 27/8/2024:
Fonte: Divulgacandcontas, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
Em 2012, Roseno ficou em quinto lugar, com 11,84% dos votos válidos (148.128 votos). Foi o melhor aproveitamento do Psol em disputas em Fortaleza na história. Em 2016, João Alfredo obteve 1,4% dos votos válidos, ficando em 6º lugar na disputa em que Roberto Cláudio foi reeleito.
Na eleição municipal passada, Renato Roseno foi novamente candidato, também ficando em sexto lugar. Ele totalizou 2,68% dos votos válidos, o equivalente a 34.346 votos.
Questionado sobre as razões que justificam o aumento da receita na comparação com outras campanhas, Tecio respondeu que, "sem dúvida nenhuma, "R$ 700 mil é um repasse significativo". Ele afirmou ser consequência direta do crescimento da agremiação.
Ponderou, porém, que o valor é muito menor do que as grandes campanhas terão disponíveis. A campanha do prefeito José Sarto (PDT), por exemplo, arrecadou R$ 8,5 milhões. A de Capitão Wagner (União Brasil), R$ 7,2 milhões.
"Esse repasse é resultado de um conjunto de fatores. Tem, sim, a ver com crescimento do Psol e como vamos trabalhar as campanhas majoritárias do partido daqui pra frente, mas tem, centralmente, outro fator, o fator decisivo inclusive para esse repasse: o fato de o partido estar investindo na construção de novos quadros e o fato de o partido estar investindo em candidaturas negras", explica Técio, primeiro candidato negro do Psol a prefeito de Fortaleza.
"Houve aumento real do Fundo Eleitoral", ressalta o deputado estadual Renato Roseno ao O POVO. O Fundo Eleitoral a que o parlamentar se refere é consequência direta da operação anticorrupção Lava Jato, que mostrou relações promíscuas entre empresas e partidos políticos.
As tratativas tinham como ponto de partida exatamente o período eleitoral, no qual as campanhas eleitorais buscavam o financiamento de empresas que, no momento seguinte, obtinham favorecimentos ilegais, sobretudo por meio de fraudes licitatórias.
Embora reconheça como "grande vitória" a proibição do financiamento empresarial de campanha, Roseno afirma que o Fundo Eleitoral carece de reflexão.
"É uma grande vitória vedar o financiamento empresarial. Mas as formas de financiamento público não podem afastar o engajamento voluntário da militância. Nossa melhor campanha municipal, em 2012, foi feita quase que exclusivamente com doações individuais (sequer havia Fundo Eleitoral) e chegamos a 12%", afirma Roseno, frisando que, em suas campanhas, nunca aceitou receber dinheiro de empresas, ainda que isso fosse permitido à época.
"Eu fiz as campanhas iniciais sempre recusando apoio empresarial, praticando transparência e chamando a doação módica individual, já que não havia Fundão. O que quero refletir é que a existência do Fundo não deve afastar essa crítica às campanhas milionárias nem tampouco desestimular a participação das pessoas por via da doação individual. Toda doação é um ato político. A existência do Fundo diminuiu substantivamente a doação individual. É preciso reequilibrar isso", acrescentou, defendendo que o Fundo seja menor ao que é atualmente.
São R$ 4,9 bilhões distribuídos para candidaturas de todo o País. Conforme a coluna Vertical, do O POVO, em Fortaleza o "Fundão" já atingiu a casa dos R$ 20 milhões.