Dias após moradores de um distrito de Quixeré, no Vale do Jaguaribe, serem surpreendidas com focos de despejo de agrotóxicos, o clima na comunidade é de “medo geral” e apreensão pela conclusão das investigações em curso. A informação foi dada em entrevista pelo Padre Júnior, da Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte, à coluna Vertical, do O POVO.
Conforme O POVO noticiou nesta quinta-feira, 21, a Polícia Civil do Ceará já abriu investigação para apurar possível crime ambiental no caso. Nesta semana, agentes da Polícia Forense do Ceará estiveram no local e colheram mostras de agrotóxicos que foi despejado sobre estradas, quintais e residências da comunidade.
“O problema de agrotóxico aqui na região é um problema antigo, é um problema dramático, que toca na saúde das pessoas, que toca no meio ambiente, que vai se intensificando mais e com situações novas, como essa de usar veneno como arma contra pessoas em outras regiões do país”, relata Padre Júnior, que visitou famílias da região após o episódio.
“Existe um medo geral na comunidade, com a lembrança de casos como o de Zé Maria do Tomé”, continua, em alusão ao ativista ambiental assassinado em abril de 2010 após denunciar a utilização de agrotóxicos na região. Para o padre, a situação exige “alerta da população” e “medidas enérgicas” para conter possíveis ameaças a famílias da região.
“Para além do que já se tem sempre, de contaminação de pessoas, da água, da terra, dos riscos que tem para saúde pública e para o meio ambiente, que vão aparecendo nessas situações novas”, afirma. Caso é acompanhado pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alece, Renato Roseno (Psol), que divulgou o caso nas redes.
Segundo relatos de moradores, pelo menos dois episódios de despejo de veneno foram registrados na região. O primeiro em 27 de julho, quando agrotóxicos foram espalhados entre duas lombadas de uma estrada local, o que deixou forte cheiro na área e levou à intoxicação de crianças. Mesmo com reclamações, a limpeza levou quase uma semana.
O despejo voltou a acontecer na última terça-feira, 19, dessa vez atingindo diretamente a residência de uma família. O derramamento de veneno teria acontecido sobre o telhado, o piso da área de serviço, uma casa de criação de abelhas e até objetos pessoais da família, como brinquedos, roupas e recipientes para armazenamento de água. Mais uma vez, o incidente provocou forte cheiro na área e a intoxicação de parte das famílias.
Padre Júnior afirma que ainda não existem suspeitas sobre quem teria ocasionado o despejo dos agrotóxicos, mas relata indícios de que o caso pode ter sido intencional. “Nos fundos da casa tem um sítio. Entraram por lá e jogaram na cerca dentro e no telhado. A família não tem suspeito e não faz ideia de quem foi”, relata.
Ele destaca que, após o despejo, a casa precisou ser abandonada pela família. “Não tem condição de ficar lá. A catinga é muito forte. Então, eles saíram da casa. Eu fiquei um tempo pequeno e com um catinga de veneno horrível. Saíram temporariamente e estão apreensivos, porque isso é uma coisa que, segundo eles, nunca tinha acontecido”, afirma.