O ex-senador e ex-ministro do presidente Lula (PT), José Pimentel (PT), foi homenageado na manhã desta sexta-feira, 17, na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor). Em reconhecimento à trajetória e atuação política, ele recebeu a Medalha do Mérito Legislativo José Barros de Alencar, em solenidade presidida pelo vereador Dr. Vicente (PT), autor do requerimento.
Recuperado de um câncer no estômago, que o fez passar por cirurgia no ano passado, Pimentel enfrenta hoje problemas de mobilidade e de visão agravados por uma diabetes "muito violenta, fruto do meu descuido com a vida e da minha dedicação à política”, como classificou.
No discurso, o ex-ministro afirmou ter dedicado sua trajetória à defesa do Nordeste. “Me dediquei, nos 24 anos no Congresso Nacional, a fazer o melhor por aqueles que confiaram em mim com seu voto. E era com essa visão, com essa forma de fazer e com os compromissos assumidos com a família cearense que eu procurei fazer o melhor”.
Relator do Plano Nacional de Educação (PNE) no Senado, em 2014, Pimentel lamentou que a Câmara dos Deputados não “teve a dignidade” de votar o plano, enquanto aprovou rapidamente a PEC da Blindagem, dispositivo que dificultava abertura de processos contra parlamentares e que foi enterrado no Senado.
O PNE, com validade de 10 anos, deveria ter sido aprovado ainda em 2024, mas segue em tramitação no Congresso. “A consequência do voto mal dado, em 2022, deu essa Câmara lá no Congresso Nacional, que é considerada a pior Câmara na história da República Brasileira. É bom lembrar também que não tem nenhum nomeado. Todos eles tiveram apoiadores, tiveram seguidores, tiveram financiadores. Apesar do financiamento público, que é muito generoso”, criticou.
Pimentel afirmou que, enquanto a classe política pressiona o governo para reduzir investimentos em programas sociais, aumentou os gastos com campanhas eleitorais para quase R$ 5 bilhões em 2026. Para Pimentel, observar quem votou a favor da PEC da Blindagem é uma forma de orientar o voto no próximo ano.
"Aquele que não quiser dar um voto errado em 2026, é só olhar o voto ‘Sim’ na ‘PEC da bandidagem’, porque aqueles ali têm lado e não é o lado da sociedade brasileira", completou.
Mesmo com dificuldades de saúde, Pimentel afirmou estar disposto a atuar politicamente em 2026 para ajudar na reeleição de Lula.
“Eu quero dizer que estou vivo, para em 2026, ao lado dos companheiros, fazer um forte debate aqui no Estado para reeleger Lula com um novo programa, porque esse programa da frente ampla coube muita gente, mas não coube os trabalhadores e nem as famílias desses trabalhadores”, afirmou.
“Essa tal de ‘frente ampla’ serviu para fortalecer o Centrão, mas não para fortalecer a democracia brasileira. E registrar aqui que quem vai para os Estados Unidos pedir impostos, penas e punições ao povo brasileiro, não merece mais estar na política brasileira. A justiça será feita. A cadeia é pouco para eles", argumentou em referência a Eduardo Bolsonaro.
O vereador Dr. Vicente destacou a biografia do homenageado, lembrando que ele assumiu a presidência nacional do PT em um momento difícil e reorganizou as contas do partido.
“A Câmara entrega essa medalha às pessoas que são a favor da democracia, que têm um passado no Legislativo e defendem a cidadania. Pimentel é uma pessoa que tem todos os atributos”.
“Melhor ministro da Previdência da história do país”, acrescentou, em frase corroborada pelo líder do governo Elmano (PT) na Assembleia e vice-presidente do PT no Ceará, Guilherme Sampaio.
Sampaio lembrou que, na época em que Pimentel comandava a Previdência, tirava-se aposentadoria "em minutos”. “Hoje há fila imensa após o desmonte do governo Bolsonaro”, criticou. Ele destacou ainda que o ex-senador foi responsável pela criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).
O deputado afirmou considerar Pimentel seu “pai na política”, por ter sido inspiração e o primeiro a incentivá-lo a seguir a carreira legislativa. “Se eu posso afirmar que tenho um pai na vida pública, esse pai se chama José Pimentel. Sem o Pimentel eu não teria me encontrado comigo mesmo, com a minha vocação”, disse.
Presidente do PT em Fortaleza, o ex-deputado Antônio Carlos falou com o O POVO após a cerimônia.
“Fiquei muito emocionado, porque ainda no movimento estudantil me aproximei do PT, foi meu primeiro voto, nesse ser humano extraordinário, homem público gigante que é o Pimentel. E o encontro de várias gerações de militantes, sindicalistas, militantes do PT, de outros partidos nessa homenagem propiciada pelo mandato do Dr. Vicente, que é uma mais do que justa”, afirmou.
O dirigente ressaltou que Pimentel tem uma história que ultrapassa o cenário cearense. “De compromisso com o Brasil, deputado federal, o primeiro do PT, o primeiro senador do PT do Ceará também. E eu não poderia deixar de vir essa grande homenagem. E é bom reencontrá-lo, se recuperando de uma situação de saúde, mas firme, na luta”, completou.
José Barroso Pimentel completou 72 anos nesta quinta-feira, 16. Natural do Piauí, se autointitula “cearense por adoção” pela trajetória política construída no Estado. Bancário de profissão, foi diretor do Sindicato dos Bancários do Ceará e secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Fortaleza.
Foi eleito deputado federal pelo Ceará em 1994 e exerceu quatro mandatos consecutivos. Em 2008, foi ministro da Previdência Social no governo Lula. Em 2010, foi eleito senador da República, cargo que exerceu até o fim de 2018.
A Medalha do Mérito Legislativo José Barros de Alencar é concedida pela Câmara Municipal de Fortaleza a pessoas cujas ações — dentro ou fora do âmbito municipal — se destacam por contribuir para a defesa dos princípios democráticos, o fortalecimento das funções legislativas e o respeito às atribuições do Poder Legislativo.
Criada em 1973, a comenda é uma das mais tradicionais do Legislativo municipal e homenageia o político cearense José Barros de Alencar (1923–1984), ex-presidente da Câmara de Fortaleza e vereador por 34 anos.