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PF investiga suspeitas de desvios em obras do Dnocs em prefeituras ligadas a deputado cearense
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PF investiga suspeitas de desvios em obras do Dnocs em prefeituras ligadas a deputado cearense

Relatório do COAF aponta que construtora suspeita enviou valores ao irmão de Robério Monteiro. Deputado nega envolvimento com irregularidades
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DEPUTADO federal Robério Monteiro nega participação nas acusações (Foto: Aurélio Alves)
Foto: Aurélio Alves DEPUTADO federal Robério Monteiro nega participação nas acusações

A Operação Fake Road, deflagrada pela Polícia Federal (PF) em 28 de novembro de 2025, investiga suspeitas de um esquema de superfaturamento e fraudes em licitações de obras públicas do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) no litoral cearense.

As investigações citam que o deputado federal Robério Monteiro (PDT-CE) teria patrocinado o desvio de recursos via emendas. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, que autorizou a operação, descreveu o cenário como um "processo endêmico de corrupção e desvio". Ao O POVO, Robério negou participar de qualquer irregularidade e disse que "não é investigado".

A PF e a Controladoria-Geral da União (CGU) averíguam suspeitas de superfaturamento, execução parcial ou inexistente de serviços, medições fraudulentas e favorecimento de empresas contratadas, que teriam resultado em mais de R$ 22 milhões em recursos públicos desviados.

A CGU, em análise, identificou um prejuízo estimado de R$ 6.845.360,17 em apenas dois contratos de pavimentação do Dnocs financiados com emendas destinadas por Robério.

A reportagem teve acesso ao processo e o nome do deputado federal cearense é predominante na decisão de Flávio Dino. Os contratos investigados concentraram-se nas cidades de Itarema e Acaraú, ambas administradas por familiares do deputado cearense.

O filho do parlamentar, Robério Filho (PSB), é o prefeito de Itarema, e a esposa do deputado, Ana Flávia Monteiro (PSB), é a prefeita de Acaraú.

A investigação aponta que Robério Monteiro teria participado "pelo menos do processo de desvio", a partir de um beneficiamento político gerado pelo direcionamento dos recursos via emenda de comissão. O Dnocs revelou que a alocação de serviços nessas cidades decorreu de uma "demanda parlamentar específica" de Robério.

Além disso, as investigações sugerem que verbas originalmente destinadas a municípios na Bahia foram redirecionadas para atender Itarema e Acaraú, a pedido do deputado. A execução desses contratos, decorrente da demanda parlamentar, levou a uma "manobra administrativa pouco usual" no Dnocs, expondo "aspectos inclinadamente espúrios" na construção contratual.

Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), anexado aos autos da Operação Fake Road, reforçou a suspeita de ligação financeira direta entre o esquema e a família do deputado.

O Coaf indicou que recursos supostamente desviados pela Construmaster Construções e Locação de Máquinas Ltda — principal empresa contratada nas obras suspeitas — foram repassados a Elizeu Monteiro, irmão de Robério Monteiro e ex-prefeito de Itarema.

A investigação da Polícia Federal ainda sugere que "parte do dinheiro teria sido ‘redirecionada’ ao próprio Robério". Segundo a CGU, o proprietário da Construmaster realizou transferências financeiras a um irmão do deputado, "parte dos quais para ele redirecionada". Por decisão do ministro Dino, mais de R$ 20 milhões em bens da Construmaster foram bloqueados.

Flávio Dino enfatizou a falta de transparência no uso desses recursos, indicando que o cenário é uma "peculiaridade" do "famigerado orçamento secreto".

O ministro do STF também detalhou que foram identificados pagamentos por serviços não executados, como pavimentação de vias inexistentes e projetos não entregues, além do uso "escrachado" de fotos falsas (imagens de outros locais ou manipuladas) para simular a execução dos serviços e fraudar a fiscalização.

 

Deputado nega envolvimento

O POVO procurou o deputado Robério Monteiro, que enviou uma nota. No texto, ele afirma não ter recebido qualquer notificação sobre a operação e reforçou não ser investigado.

"Como deputado federal, não tenho vínculo algum com o DNOCS e não indiquei ninguém para o órgão. Além disso, a emenda citada não é de minha autoria individual, mas sim uma Emenda de Comissão, aprovada por um colegiado, sem qualquer direcionamento pessoal", declarou.

O pedetista fala ainda não proceder o que chamou de "tentativa de criar ligação indevida" com a própria família.

"O familiar mencionado é proprietário, há 28 anos, de uma rede de postos de combustíveis, e a relação citada se refere apenas a uma operação comercial comum, sem contrato público ou vantagem indevida", argumentou, ressaltando ter trajetória política sempre pautada pela ética e responsabilidade.

"Reafirmo que não tenho qualquer envolvimento com irregularidades", concluiu.

O POVO procurou a Construmaster para comentar o assunto, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria. O número de telefone e o e-mail contatados foram localizados no Portal da Transparência da Controladoria-Geral da União. O espaço está aberto para manifestação e será atualizado em caso de resposta. 

Confira abaixo, na íntegra, a nota do deputado:

"Não recebi qualquer notificação sobre a Operação Fake Road e reforço que não sou investigado. Como deputado federal, não tenho vínculo algum com o DNOCS e não indiquei ninguém para o órgão. Além disso, a emenda citada não é de minha autoria individual, mas sim uma Emenda de Comissão, aprovada por um colegiado, sem qualquer direcionamento pessoal.

A tentativa de criar ligação indevida com minha família também não procede. O familiar mencionado é proprietário, há 28 anos, de uma rede de postos de combustíveis, e a relação citada se refere apenas a uma operação comercial comum, sem contrato público ou vantagem indevida.

Minha trajetória sempre foi pautada pela ética e responsabilidade. Reafirmo que não tenho qualquer envolvimento com irregularidades."

Colaboraram Guilherme Gonsalves e Thays Maria Salles

 


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