A federação entre o União Brasil e o Progressistas (PP) enfrenta, sete meses após o anúncio sobre a criação, um acúmulo de divisões internas nos estados, somado a uma crescente apreensão nacional. O motivo é a proximidade de dirigentes com empresários e grupos empresariais que são alvos de investigações recentes.
Enquanto a cúpula nacional tenta contornar sucessivos escândalos envolvendo caciques e aliados, no Ceará a federação está rachada entre aqueles que querem estar na base governista e os que defendem fazer oposição ao grupo liderado pelo PT em 2026.
Integrantes do União Brasil enfrentam desgaste crescente devido a uma série de investigações da Polícia Federal (PF), que atingem dirigentes ou aliados próximos em ao menos sete estados. Os casos envolvendo o Banco Master e o Grupo Fit (antiga Refit) agravaram tensões internas sobre a distribuição dos diretórios estaduais da federação.
Os presidentes nacionais do União Brasil e do PP, Antonio Rueda e Ciro Nogueira respectivamente, mantêm relações pessoais com Daniel Vorcaro, dono do Banco Master. Vorcaro foi preso em novembro, acusado de emitir títulos de crédito falsos, o que levou à liquidação do banco. A proximidade entre eles deve alimentar novos desgastes nos próximos meses.
A PF apura a venda de títulos do Master a fundos de previdência que, entre outubro de 2023 e dezembro de 2024, renderam ao banco pelo menos R$ 1,867 bilhão. Diversos fundos ligados a gestões sob influência do União Brasil realizaram aportes expressivos, apesar de alerta sobre a situação financeira da instituição.
Entre as empresas envolvida, está a Amazonprev, com um aporte de R$ 50 milhões autorizado por Ary Renato Vasconcelos de Souza, filiado ao União Brasil e contador da campanha do governador Wilson Lima. Documentos apontam ausência de autorização colegiada e de análise formal de risco.
É citada também a Amprev, que teria aportado R$ 400 milhões sob gestão de Jocildo Silva Lemos, integrante da executiva estadual do União e aliado do senador Davi Alcolumbre. Além dela, há a Rioprevidência, citada como maior comprador, com R$ 970 milhões aplicados no Master. Em um dos episódios, dirigentes migraram do Rioprevidência para o fundo municipal de Itaguaí (Itaprevi), onde novos aportes de R$ 60 milhões foram feitos duas semanas após a troca de gestão.
Outro ponto sensível é o projeto apresentado por Ciro Nogueira, em agosto de 2024, para elevar de R$ 250 mil para R$ 1 milhão o limite de indenização do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), proposta que favoreceria diretamente o Master por aumentar seu limite de captação.
A crise nacional também envolve o Grupo Fit, antiga Refit, controlado por Ricardo Magro. Em novembro, a Receita Federal realizou a Operação Poço de Lobato contra o conglomerado, sob suspeita de sonegação, fraude e ocultação de patrimônio — um esquema que teria causado prejuízo de R$ 26 bilhões ao erário.
Magro, cujo grupo é um dos maiores devedores de ICMS de São Paulo e da União, foi DJ em evento familiar de Antonio Rueda. Ciro Nogueira, por sua vez, atuou no Congresso em projetos de interesse da empresa, como propostas para endurecer regras sobre devedores contumazes.
As investigações revelaram ainda a existência de um "dashboard do crime" — anotações feitas em vidro na sede de um escritório no Rio — citando “Beto Louco”, investigado pelo Ministério Público de São Paulo por comandar um esquema bilionário do PCC no setor de combustíveis.
Além disso, Rueda foi citado na Operação Carbono Oculto, na qual um piloto disse à PF que o presidente do partido seria dono de aeronaves usadas por integrantes de uma facção criminosa. Rueda nega qualquer envolvimento.
No Ceará, a federação União Brasil–PP está dividida pela disputa de 2026. O governador Elmano de Freitas (PT) demonstra expectativa de obter apoio do bloco, citando que o deputado federal Moses Rodrigues (União Brasil) deve presidir a federação no Estado, com a deputada Fernanda Pessoa como vice. Ambos apoiam o governador, embora o partido faça oposição nacionalmente.
Na outra ponta, o ex-deputado Capitão Wagner, presidente estadual do União Brasil e nome cotado para comandar a federação local, rejeita qualquer hipótese de apoio ao PT em 2026. Ele classificou a possibilidade como “ilusão” e afirmou que Moses e Fernanda podem ser punidos — inclusive expulsos — se descumprirem eventual diretriz nacional contrária ao PT.
O prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (União Brasil), também sinalizou apoio à reeleição de Elmano e afirmou considerar deixar o partido caso a sigla se alinhe à oposição.
Mesmo com as tensões, os líderes nacionais do União e do PP reiteram que a federação será mantida e estará formalizada para 2026. Eles admitem, porém, que o plano original — atuar como força presidencial — perdeu força. Hoje, o objetivo central é eleger o maior número possível de deputados e senadores e consolidar a federação como uma das maiores forças no Congresso.
União Brasil expulsa Celso Sabino
O União Brasil expulsou Celso Sabino, atual ministro do Turismo no Governo Lula, dos quadros do partido. A executiva nacional da sigla se reuniu em Brasília, na tarde desta segunda-feira, 8, e tomou a decisão por unanimidade, conforme O POVO antecipou antes do início da reunião.
Em nota, a legenda destacou que a expulsão foi discutida durante reunião. "A expulsão decorre de uma representação apresentada contra Sabino, que permaneceu no Governo Federal, em atitude contrária a uma determinação do partido anunciada em setembro envolvendo todos os filiados".
Sabino também foi demovido do comando do partido no Pará, estado pelo qual é deputado federal licenciado, que passará a ser gerido por uma comissão provisória. Em setembro, o União Brasil determinou que políticos filiados ao partido deveriam entregar os respectivos cargos que ocupassem no Executivo, sob o risco de sanções por "infidelidade partidária" para aqueles que se negassem a cumprir a determinação.
No início de setembro, a federação formada por União Brasil e PP anunciou que os filiados deveriam entregar os cargos no governo sob a pena de sofrerem punições. Na ocasião, ficou determinado que todos os filiados com mandato que possuiam algum cargo na administração federal deveriam renunciar às funções, incluindo os ministros de Estado.
Sabino não deixou o Ministério do Turismo e afirmou que permaneceria no Governo Lula. Ele foi suspenso de atividades internas e afastado da presidência do diretório do União no Pará.