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Luta pela representatividade
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Luta pela representatividade

Iniciativas pelo País unem empregadores a talentos, fortalecendo a inclusão coorporativa, e empreendedoras levantam a bandeira da diversidade de forma leve e saborosa
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Vitória e Marília criaram hamburgueria com referências pop e orgulho da cultura LGBT  
 (Foto: divulgação)
Foto: divulgação Vitória e Marília criaram hamburgueria com referências pop e orgulho da cultura LGBT

Enquanto há dados que comprovam as vantagens competitivas da diversidade, mulheres, negros, pessoas com deficiência, LGBTQIA e quem mais não está dentro de padrões continuam sendo minoria dentro das empresas ou têm acesso mais difícil aos cargos de liderança e a salários melhores. O ambiente corporativo caminha a passos lentos, com políticas para aumentar a presença dessas pessoas e mecanismos de inclusão, mas iniciativas pelo País promovem profissionais que buscam vagas e clientes.

Desde 2013, o projeto social TransEmpregos consolidou-se como o maior banco de currículos e vagas para pessoas transgêneras no Brasil. Hoje, mais do que o chamado "match" entre profissional e empresas, o site capacita. "Entendemos que primeiro a gente tinha que transformar esses ambientes de maneira a serem mais inclusivos. Fazer inserção e aumentar a pluralidade vai muito além da empregabilidade", explica a consultora de diversidade e uma das fundadoras do TransEmpregos, Maite Schneider.

Ao todo, o TransEmpregos trabalha com 452 empresas e tem cerca de 16 mil currículos cadastrados. Desse total de currículos, que muda conforme contratação ou atualização de dados, 40% têm graduação, mestrado ou doutorado. O que desmistifica o preconceito sobre a capacitação dessas pessoas. "Talento e competência não têm nada a ver com identidade, orientação, credo ou raça. Na verdade, são excludentes e fazem com que as pessoas não se potencializem por conta disso, é extremamente cruel. Por isso, cada vez mais a gente tem que buscar mais equidade nos processos para que as pessoas tenham as mesmas oportunidades", explica ela.

Também com o objetivo de criar mais inclusão no mercado, nasceu aqui no Ceará a Profissionais Negros CE. A página divulga há mais de um ano empreendedores negros de forma voluntária e, segundo Mickaela Correia, 31, já levou muitos profissionais à formalidade. "As pessoas começaram a entender a importância do Black Money, de investir o seu dinheiro em profissionais, em marcas que contextualizam a diversidade."

Embora a página fomente o Black Money, Mickaela, que hoje empreende na marca Senty Store, alerta para a importância de esses profissionais não ficarem restritos aos próprios nichos, seja no empreendedorismo ou no corporativo. "Colocam a gente num subnicho, e não ficamos interessantes para o mercado. Dificilmente você vê uma consultora financeira negra cuidando do público A, não consegue atingir. Tem muitas mudanças que precisam ser feitas, e realmente temos que começar pela base, educação", reflete.

 

Ponte no mercado

A vontade de romper com os preconceitos no mercado de trabalho também moveu a empreendedora Maira Reis (LinkedIn Top Voice 2019), que já sofreu lesbofobia por não performar o estereótipo de gênero da mulher feminina. Em 2017, ela criou a startup camaleao.co para conectar empregadores a talentos LGBTQIA "com todas as cores e todos os gêneros". Agora, já são cerca de três mil currículos cadastrados. A startup ainda não trabalha com empresas do Nordeste, mas tem clientes com atuação nacional, como a Ambev, e pode fazer a ponte entre candidatos daqui que aceitem propostas comerciais em outros estados.

Segundo Maira, a camaleao.co desenvolve soluções customizadas, além de pesquisas de clima organizacional e treinamento para lideranças e RH. "O programa de diversidade é muito complexo, mas também muito completo, porque mexe em estruturas que jamais foram pensadas e jamais vistas por outras pessoas que nunca sofreram por ser LGBT ", avalia.

Essa transformação da cultura organizacional e o maior recrutamento são parte do processo de mudança do mundo, mas de nenhuma forma a empregabilidade dessas pessoas, sejam negras, trans ou PcD pode ser entendida como caridade. "Essa pessoa, além de LGBT , é uma pessoa competente, a gente não trabalha contratando por contratar, não é um espaço de caridade, é um business", completa.

TransEmpregos: https://www.transempregos.org/

Negros CE: @profissionaisnegrosce

camaleao.co: https://camaleao.co/

 

EMPREENDEDORISMO

Ella's no comando

Quando Vitória Medeiros, 23, e Marília Almeida, 22, saíram dos respectivos trabalhos, a ideia da hamburgueria delivery (@ellasburguer) tomou forma. "Queríamos algo diferente, algo que fosse da nossa vivência, nossa cara e que nosso público se sentisse representado. Foi aí que sentamos em uma roda de amigos e foi unânime: a hamburgueria teria que ser pop!", conta Vitória, bacharel em Direito.

Vitória e Marília (estudante de Odontologia) cuidam sozinhas de todo o processo de produção e administração da Ella's Burguer. Mas, com a identidade LGBTQIA simbolizada em nomes e cores dos produtos (pão rosa, bacon azul, cobertura de glitter), o casal já foi alvo de xingamentos e ódio. "Infelizmente, um preconceito sem nexo, absurdo e generalizado envolvendo nossa vida pessoal e nossos produtos de forma ignorante! Mas, em contrapartida, a comunidade foi coletiva abraçando a Ella's como causa de ser, pela representatividade", explica Vitória. Agora, diz Vitória, as duas comemoram a aceitação crescente do produto no mercado. "Não é fácil ser levada a sério quando nos veem tão novas em busca de grandes sonhos, quando veem uma proposta leve e divertida de trabalho, mas que mantém qualidade e seriedade. Mas, da luta nascemos e de luta nos manteremos para outras depois de nós terem um acesso melhor ao mercado e na vida", acrescenta.

42,5%

É a porcentagem de quanto pretos e pardos ganham a menos que os brancos

20,5%

É a porcentagem de quanto mulheres ganham a menos que os homens

23,8%

É a porcentagem de quanto mulheres brancas ganham a menos que os homens brancos

19,9%

É a porcentagem de quanto mulheres pretas ou pardas ganham a menos que os homens pretos ou pardos

Fonte: IBGE, 2018

AMBIENTE EMPRESARIAL

Um dos passos para a maior diversidade é o diagnóstico interno sobre colaboradores. Mas pesquisar orientação do funcionário não é permitido pela Lei Geral de Proteção de Dados, por isso o grupo Bayer busca agora fazer um diagnóstico anônimo para colher a informação do seu quadro de cerca de seis mil funcionários no Brasil. "Contratamos uma consultoria para o diagnóstico de nossa diversidade demográfica e para avaliar a percepção de nossos colaboradores em relação ao tema de inclusão no ambiente de trabalho. Além disso, temos o chamado People Analytics, que possibilita identificar a nossa diversidade demográfica e em nossos processos, contribuindo para nortear e calibrar as nossas iniciativas em busca da promoção de equidade de oportunidades", informa Aline Cintra, diretora de Inclusão e Diversidade do Grupo Bayer no Brasil.

Aline cita um exemplo em que abordar o tema diversidade e inclusão em cima do "viés inconsciente" foi necessário: "Em uma das nossas 36 localidades, tínhamos um ambiente majoritariamente masculino onde enfrentávamos limitações para inclusão de mulheres. Capacitamos a liderança e colaboradores para promover equidade de gênero em todos os processos e interações". Dentre outras iniciativas, a Bayer ainda oferta o Programa de Mentoria de Empresas de Diversidade (PMED), com duração de um ano, para apoiar o desenvolvimento e fortalecimento empresas nas quais mais de 50% do quadro de funcionários seja constituído por grupos negros, LGBT , indígenas, pessoas com deficiência e mulheres. "O nosso programa tem abrangência nacional, mas infelizmente não tivemos empresas do Ceará selecionadas até o momento. Em breve, teremos uma nova edição, e todas as empresas do Brasil poderão se inscrever", diz Aline.

LEIA MAIS

Acompanhe a série de matérias sobre diversidade do POP Empregos&Carreiras

1 - Diversidade: Por que isso é tão importante?: https://bit.ly/382WRIq

2 - Como ser uma empresa com diversidade?: https://bit.ly/2VlEjhg

 

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