Em um cenário de indicadores preocupantes acerca de desigualdades sociais e uso de recursos naturais, a luta por um contexto diferente se torna não só fundamental, mas também uma oportunidade de negócios. Enquanto a população desperta para a mudança de hábitos mais sustentáveis, o mercado aposta no setor desenvolvendo novos serviços e produtos.
O estudo Retrato dos Pequenos Negócios Inclusivos e de Impacto no Brasil 2017, realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), explana que os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), "só podem ser alcançados se o País conseguir criar pequenos negócios bem estruturados e competitivos", uma vez que o setor responde por 27% do Produto Interno Bruto (PIB) e 51% dos postos de trabalho (Sebrae, 2014).
Frente aos números, ações de voluntariado empresarial e negócios de impacto são uma saída lucrativa e socialmente transformadora. A Aiesec, por exemplo, é uma organização da sociedade civil que trabalha com intercâmbios voluntários e vagas de emprego em empresas e startups. Com uma cadeira na ONU, a entidade envia pessoas para outros países em programas baseados em pelo menos um dos ODS, de forma que esses indivíduos possam proporcionar mudanças em comunidades e desenvolver competências como gestão e liderança.
Em Fortaleza, a Aiesec trabalha enviando e recebendo intercambistas para atuarem em instituições e empresas da Cidade. A presidente da Aiesec na Capital, Luana Galeno, afirma que, no momento, são três empresas acolhendo intercambistas e mais 12 em processo de recebimento em Fortaleza. Nessas instituições, os programas são baseados no objetivo oito da ONU, que aborda o crescimento econômico inclusivo e sustentável. Luana enxerga que os esforços das empresas estão cada vez mais voltados para o alinhamento junto aos ODS, já que os hábitos de consumo da população estão mudando. "Mesmo as empresas que não conheciam os objetivos, quando a gente apresenta, se interessam e querem aplicá-los no trabalho", indica.
Nesse sentido, o envolvimento de empresas com experiências de voluntariado tem crescido no Brasil. O Censo Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial (CBVE) 2018, estudo feito com as 17 empresas associadas, mostra que 93% dos participantes apresentam as estratégias da empresa alinhadas às atividades voluntárias, um aumento de 11,75% comparado ao Censo 2016. De acordo com o levantamento, o resultado está relacionado à "maior necessidade das ações de voluntariado empresarial estarem alinhadas aos objetivos e planos estratégicos das instituições".
"O voluntário empresarial nada mais é do que quando as empresas criam projetos para convidar os colaboradores para atuar em uma causa", explica Marcelo Nonohay, diretor da MGN, empresa especializada em gestão de projetos para transformação social.
A MGN presta consultoria para empresas que querem instalar programas de voluntariado com participação dos funcionários, fazendo ponte entre empresas e associações. Marcelo destaca que a prática é uma boa estratégia para empresas à medida que a instituição passa a se relacionar melhor com a comunidade em que está inserida, contribuindo para a reputação da empresa.
Além disso, o voluntariado permite que os participantes desenvolvam habilidades de relacionamento, planejamento e trabalho em equipe, além de se sentirem mais conectados com a empresa e instigadas a cumprirem um propósito. Aspectos como esses aumentam a produtividade dos trabalhadores e reduzem pedidos de demissão, evitando o gasto de esforços e recursos na procura de novos talentos.
"O voluntariado empresarial não é mais tendência, já é consolidado. Empresas grandes, pequenas e de médio porte nos procuram. Elas querem contribuir nesse País tão desigual. É uma crescente. Tem empresa que está só começando, mas outras têm programas de 20 anos de duração", indica Marcelo. Atualmente, a MGN trabalha com cerca de 20 a 25 clientes por ano.
AIESEC
Voluntario global: intercâmbio realizado em ONG's, com duração de seis a oito semanas
Empreendedor global: intercâmbio em startups, com duração de seis a 12 semanas
Talento global: intercâmbio em empresas, com duração de três a 12 meses
17
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU devem ser implementados por todos os países do mundo até 2030
Acesse em:
nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/
Voluntariado X negócio de impacto social
Programas de voluntariado em empresas ocorrem quando os funcionários da instituição se organizam para desenvolverem um projeto solidário, como promover aulas gratuitas para determinada comunidade. A ação não gera lucros para a empresa. Já negócios de impacto social investem em ideias que beneficiam um grupo, transformando-se, ao mesmo tempo, em uma atividade social e lucrativa.
50%
Dos associados tem uma média anual de voluntários entre 100 e 1.000, 6,25% maior do que em 2016
320.893 Pessoas foram beneficiadas pelas instituições em 2018, contra 287.825 em 2016
R$ 18.140.210 Foi o total orçado para as atividades de voluntariado
Fonte: Censo Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial (CBVE),2018
Benefícios do voluntariado
Desenvolvimento de competências e habilidades dos funcionários (19%)
Fortalecimento do engajamento cívico dos funcionários (16%)
Melhoria do clima organizacional (16%)
Maior identificação e pertencimento à instituição (13%)
Fonte: Censo Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial (CBVE),2018
Como desenvolver um voluntariado empresarial
Escute a comunidade, entenda as necessidades
Escute sua equipe. Provavelmente já existem funcionários que fazem trabalho voluntário
Alinhe os objetivos da empresa aos objetivos da ONU, pois são importantes diretrizes
Saiba qual o propósito da sua empresa
Lembre-se: atividade voluntária é diferente de arrecadação de donativos. A doação é importante e às vezes fundamental, mas é um auxílio pontual talvez deixe um impacto a curto prazo na comunidade. Desenvolver programas de transformação social geram resultados positivos de longa duração