O cheirinho do carro que seu pai tinha na sua infância, a sensação do vento no rosto que você só sentia nas viagens em família quando criança, a vontade de concretizar, na vida adulta, o item de desejo que não foi possível ter na juventude. São emoções como essa que estimulam a maioria dos fãs do antigomobilismo. O conceito se refere à paixão pelo universo de veículos antigos e à prática de colecionar e restaurar esses carros. Aqui no Ceará, o mercado ainda é restrito, mas isso não significa que o amor seja menor.
O professor Marcos Martins relata que o amor pelos veículos antigos data desde a infância, vivida na cidade de Ipu. Com a memória guardada de carros como Jeep Willys , Rural e F-75, aos 49 anos, depois de quatro anos de pesquisa, concretizou o desejo de comprar uma Rural Willys. A partir daí, a ferrugem não saiu mais do sangue. Hoje, aos 60, Marcos é dono de sete carros antigos, sendo um Ford Corcel 1969, um Ford Corcel 1973, um Renault Gordine 1965, três Ford Rural Willys e uma Volkswagen Kombi corujinha.
"O meu brinquedo favorito, o 69, me custou a bagatela de R$ 9 mil e quase nada de manutenção. Foi sorte e muita pesquisa. Os demais saíram por R$ 20 mil, em média. A Chapéu de Couro, uma das três Rural Willys, era meu sonho de consumo e aquisição. Foi cerca de R$ 9 mil e com a restauração deve custar uns R$ 15 mil, mas era meu sonho.... então não tem preço", explica Marcos. Diariamente, o professor desfila orgulhoso pelas ruas de Fortaleza com os dois corcéis, levando para passear, aos fins de semana, um modelo diferente do seu acervo.
Já o primeiro item da coleção do comerciante Renato Barboza foi um Fusca 1968, comprado há cerca de 18 anos. "Ele só não fica na minha sala porque não passa na porta e minha mulher me mata", brinca. Apaixonado por fuscas, o comerciante também adquiriu um modelo do ano 1971 e se prepara para restaurá-lo. O veículo havia sido um presente de aniversário de 18 anos do pai de Renato para ele, que, na época, negou. Após a rejeição, o veículo foi vendido para o vizinho, e, 38 anos depois, o carro finalmente se tornou do comerciante. "São carros que eu não vou vender nunca na minha vida. A gente que gosta de carro antigo é um pouco disso. Quase todo carro tem uma história para contar. Eu sou apaixonado e se eu pudesse eu teria 20 carros antigos. Gosto de mexer quando eu tenho tempo, deito debaixo do carro, limpo e se puder trocar um parafuso eu troco", destaca Renato.
O hobby movido por amor também requer paciência. Um dos participantes de encontros de carros antigos, Beto Rocha indica que as duas grandes dificuldades de quem segue o antigomobilismo é conseguir peças originais e encontrar mão de obra qualificada, porque, em Fortaleza, não existem oficinas especializadas. "As oficinas geralmente não querem trabalhar com carro antigo porque para ser restaurado normalmente é de dois a três anos. O cara começa e não termina, aí você vai trocando de oficina. Alguns mecânicos que a gente conhece de amizade dos encontros aceitam fazer restauração de carros antigos", relata.
Para encontrar peças, é preciso garimpar e, muitas vezes, importar itens de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e até dos Estados Unidos. "As peças vão sumindo e à medida que elas somem o valor vai lá em cima. Se você está num lugar e vê alguma peça que pode te servir, até de um carro que você não tenha, ou possa vir a ter, ou algum amigo que tem, é um vício, você acaba comprando aquilo e guarda porque quando você menos esperar você pode precisar de uma peça daquela", sugere Renato.
O ex-presidente e atual diretor jurídico do Museu do Automóvel, Magno Câmara, diz que um dos fatores que contribuem para que o antigomobilismo não encontre muitos adeptos em Fortaleza é o fato de o carro antigo não ser um gênero de primeira necessidade. "Geralmente, os colecionadores de carros antigos são pessoas acima dos 50 anos de idade, que têm um nível financeiro um pouco mais folgado no qual eles podem gastar o dinheiro deles com esse tipo de hobby", destaca.
Então, a ideia de que colecionadores compram os carros antigos para vendê-los posteriormente, após o automóvel ter agregado valor de mercado, pode não ser muito adequada. Magno garante que, em quase todos os casos, o vendedor não recupera o valor investido na restauração do veículo por meio da venda. "Se acontecer é uma coisa em um milhão, não reflete o mercado", aponta Magno. Já o professor Marcos acredita que, apesar das dificuldades, em comparação a modelos modernos, alguns gastos de carros antigos seriam relativamente menores, já que a mecânica seria mais simples, a ponto do próprio proprietário poder executar determinados reparos.
"Quando você vai restaurar um carro antigo você não vai pensar em quanto vai gastar, porque se você pensar, você para. Eu tenho uma Picape Chevrolet Brasil 1963 que eu passei 12 anos restaurando. Comprei as peças em vários estados e quando chegou em R$ 30 mil eu parei de contar. Você fala para as pessoas que gastou tanto e às pessoas nem acreditam", revela Beto.
Veículo antigo
O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) define veículos de coleção como aqueles que foram fabricados há mais de 20 anos, conservam as características originais de fabricação, integram uma coleção e apresentam certificado de Originalidade, reconhecido pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).
Peças
As peças mais fáceis de achar em Fortaleza são de carros nacionais, como Fusca e Opala.
Carros americanos da década de 1950 e 1960, como o Cadillac, têm as peças mais difíceis de
se encontrar.
Acessórios e peças de acabamento são mais difíceis de achar.
Preços
Fusca
Estribo - R$ 400 (par)
Borracha para para-brisa - R$ 80
Borracha para portas - R$ 100 (duas portas)
Faixa Branca - R$ 75
Braço limpador - R$ 50
Calota cromada reta - R$ 60
Corcel
Jogo de calha das portas com às pestanas completo - R$ 380
Maçaneta de abrir a porta - R$ 25
Acabamento dos trincos - R$ 18 (par)
Opala
Bucha da sapata - R$ 15
Bucha do tensor - R$ 20
Bieleta - R$ 15
Farol dianteiro -
R$ 50 (cada)
Fonte: Ênio Júnior - proprietário da Iguatu Peças e Tintas