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Pessoas com mais de 50 anos são as que mais doam no Brasil
Reportagem

Pessoas com mais de 50 anos são as que mais doam no Brasil

Com base numa maior participação econômica e social dos brasileiros com mais de 50 anos, pesquisadores querem saber como e porque esse público doa para organizações sem fins lucrativos
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A DONA de casa Suzana Honorato diz que doação é algo comum em casa. Ligações telefônicas são uma das formas de buscar doadores (Foto: julio caesar)
Foto: julio caesar A DONA de casa Suzana Honorato diz que doação é algo comum em casa. Ligações telefônicas são uma das formas de buscar doadores

Pessoas com mais de 50 anos têm sido destaque no Brasil. Vivem mais, consomem mais, pagam mais. Doam mais? A pergunta é base de uma pesquisa que quer subsidiar instituições e causas de impacto social. É preciso saber a melhor forma de atrair doadores, as causas prioritárias, o resultado de uma sociedade civil mais responsável pelos seus.

Os elaboradores do estudo "Doações para Brasileiros" ainda procuram mais informações sobre os nordestinos. No Nordeste, de acordo com levantamento do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), é onde residem mais doadores. Conforme os dados, 50% dos entrevistados na região tinham feito doação a instituições sociais.

Mas mesmo que estatísticas e metodologias possam tentar mensurar, talvez ainda não consigam explicar porque o casal de aposentados Maria Creuza Oliveira, 72, e João Batista Paulo, 73, fazem questão de doar parte da pequena renda mensal de um salário mínimo. "Já vem descontado R$ 5 na conta de luz para a Associação de Crianças com Câncer", diz Maria. Desde 2002, quando fez uma cirurgia em um hospital, Paulo também doa mensalmente para a unidade. "Era R$ 20, mas aí pedi pra ser só R$ 15. Se eu ganhasse três salários mínimos, um seria para a casa que acolhe idosos. E se for eu que precisar um dia?", pondera o aposentado.

As pessoas com mais de 50 anos já fazem parte da parcela da população brasileira que mais doa. Resultado de uma maior estabilidade financeira e experiência de vida, que a fazem sensibilizar-se mais com o próximo. Os mais velhos tendem a seguir com o modelo tradicional de doação e um dos mais comuns ainda é a ligação telefônica.

"Hoje mesmo meu marido atendeu uma ligação e estava conversando", conta a dona de casa Suzana Honorato, 64. Ajudar é prática em casa, encabeçada pelo marido Antônio. Uma das contribuições mensais é para o hospital público onde a filha, fisioterapeuta, estagiou. "Eles também ligavam muito lá para casa. Meu marido, quando atende, já diz que vai ajudar, sem nem saber se pode", complementa. Mas Suzana lembra que já pagou, por anos, a conta de energia de um conhecido que ficou doente e não pôde trabalhar. "Uma coisa é certa: é melhor dar do que receber", destaca.

A religião também está entre as maiores justificativas de quem costuma fazer doações. A engenheira civil Marly Parente de Alencar, 64, afirma que financiar a divulgação da evangelização vale cada centavo. "Recebo vários boletos, a maioria de instituições ligadas à igreja. E faço doação para uma televisão, porque acredito na obra e vejo resultado", explica.

A economista Juliana Vanin, fundadora da NOZ Pesquisa e Inteligência, que busca informações sobre os hábitos de doação da população com mais de 50 anos, destaca a capacidade econômica da faixa etária. "Percebe-se um movimento do mercado de aproximação e engajamento com 50 , mas sabe-se pouco ainda. Como focar os esforços de captação para esse público? É fundamental entender as motivações desses doadores e nos aproximar, gerar identificação dos 50 com causas e projetos sociais", explica.

A especialista em captação de recursos, Flávia Lang Revkolevsky, destaca a importância de organizações sociais saberem como doadores gostam de contribuir. "O bom relacionamento é fundamental para que o doador entenda qual o impacto que sua contribuição fará no mundo. Para que ele se sinta seguro com as informações e feliz pelos resultados", afirma.

Serviço

Como participar da pesquisa: https://pt.surveymonkey.com/r/doacao_brasil

Barreira

A doação média anual do brasileiro caiu de R$ 250 para R$ 200 entre 2017 e 2018. A falta de confiança e transparência corroborou para este cenário

 

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