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League of Legends: no universo dos jogos eletrônicos
Reportagem

League of Legends: no universo dos jogos eletrônicos

| E-SPORTS | Um dos jogos mais populares da rede, League of Legends se consolida como mina de ouro no universo dos esportes eletrônicos
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Assassinos, atiradores, lutadores, suporte, magos e tanques se espalham por uma arena, envolvidos na defesa de sua torre. Um rio corta o espaço ao meio, dividindo o território do campo inimigo. Mas se a batalha - mais mágica que sangrenta - acontece na tela de um computador, seus efeitos chegam ao mundo real. O time vencedor no Campeonato Mundial de League of Legends leva pra casa US$ 2 milhões de dólares - mais ou menos R$ 8 milhões de reais. A premiação total chega aos US$ 5 milhões.

E há brasileiros envolvidos nessa brincadeira. Estão em atividades no País 14 equipes profissionais, sendo oito da League of Legends (LoL), a elite da competição, a maioria representante de lojas e marcas de tecnologia. Para o público leigo, deve chamar mais atenção a Flamengo eSports, ligada ao famoso clube, vice-campeã na edição 2019 do CBLoL, o campeonato brasileiro da modalidade. A equipe de sete jogadores e dois técnicos levou para casa R$ 40 mil por sua colocação.

Na dianteira do campeonato nacional está a INTZ e-Sports, com quatro títulos e uma vice-liderança. Realizado entre janeiro e abril deste ano, o torneio premiou o time da INTZ com R$ 70 mil. As entradas para assistir à final, montada em uma grande arena high tech de São Paulo, custavam R$ 80. A lotação do espaço e a animação do público impressionam. Na final da edição 2018, o rapper Emicida se apresentou, aproveitando a ocasião para lançar sua música "É só um joguinho".

"É só um joguinho, eles disseram / Hoje tão igual bobo / Enquanto eu, pelo globo, reverbero", cantou emicida no refrão de sua letra. Para Lucas Almeida, CEO da INTZ, o joguinho virou profissão. O publicitário, que foi responsável pelo primeiro e-commerce da antiga TAM, foi convencido por um amigo a investir no universo dos esportes eletrônicos. Antes, jogava Counter-Strike, um dos jogos de tiro mais populares da rede. "Eu não ia entrar, mas aos 48 minutos do segundo tempo, em março de 2014, fui a um campeonato de LoL e vi mais de 30 mil pessoas indo ao delírio. Os atletas passavam e as pessoas gritavam, rasgavam as camisas. É a paixão pelo esporte. E aí percebi que a demanda era muita, mas a oferta, pouca", relembra.

O INTZ, "o clube mais intrépido do mundo", foi fundado três meses depois e em pouco tempo se consolidou como um dos principais times da modalidade na América Latina. Para garantir os quatro títulos nacionais, construiu em Perdizes, bairro nobre de São Paulo, uma complexa estrutura que engloba do setor comercial ao alojamento dos atletas. "São mais de 1000 metros quadrados, quatro andares e 100 funcionários", explica Lucas, que planeja a abertura de quatro novos centros de treinamento nos próximos anos.

Mas tamanho não é tudo - os detalhes também chamam atenção. Cuidando dos meandros jurídicos da INTZ está André Sica, advogado especializado em esportes e representante do Palmeiras. Todos os atletas e funcionários trabalham com carteira assinada, e as equipes de jogadores e técnicos têm seus direitos e obrigações assegurados pela Lei Pelé (Lei 9.615, de 1998), que inclusive disciplina a prestação de contas por dirigentes dos clubes e institui o direito do consumidor

nos esportes.

Como em outros esportes, também há no universo de LoL a venda de jogadores. Um dos jogadores mais famoso do Brasil, Gabriel "Kami" tinha multa rescisória de R$ 1 milhão em 2016, quando já integrava a equipe da Pain Gaming. Aos 21 anos, assumiu-se gay (a comunidade gamer está longe de ser a mais tolerante) e entrou para listas dos dez melhores jogadores do mundo. Hoje com 23 anos, vive a faixa etária que especialistas estabelecem como a mais produtiva para os guerreiros virtuais.

"Existe uma idade, entre os 20 e os 25 anos, na qual é mais fácil manter o ritmo de treino, aprender os comandos. É o auge do físico de um jogador. Depois ele vai perdendo um pouco dos reflexos e da habilidade mecânica", explica o técnico Gabriel Loureiro, representante de uma das equipes mais tradicionais da modalidade no Brasil, a CNB e-Sports Club. Curiosidade: Ronaldo Fenômeno comprou, em 2016, por valor não divulgado, participação de 50% da equipe da CNB.

E se o astro do futebol sentiu o peso da idade, o mesmo acontece com muitos jogadores de LoL. Enquanto alguns abandonam os grandes campeonatos quando cruzam a faixa dos 25 anos, outros escolhem aprofundar conhecimentos e trabalhar como técnicos das equipes. "Você ganha experiência, aprende a desenvolver novas estratégias", argumenta Gabriel. Segundo o treinador, que passou pelo cenário amador antes de assumir o comando de um dos principais times brasileiros, o treino físico e mental são fundamentais para qualquer idade.

"Nós vivemos na gamehouse e temos um horário de treino coletivo, das 13 às 20 horas. A equipe também faz alongamentos e malha na academia. Temos a ajuda de fisioterapeutas. E também temos um talent manager que faz um trabalho mental, pra ajudar o jogador a se compreender melhor. Além do horário normal de treinamento, dedicamos umas 4 ou 5 horas a esses outros elementos", explica Gabriel, que abandonou uma carreira de computação gráfica para se dedicar em tempo integral ao universo de LoL.

Tanto esforço dos jogadores e treinadores é bem recompensado. Afinal, são poucos os jovens de 20 anos que podem se gabar de morar fora da casa dos pais, sem custos de aluguel e alimentação. É o caso dos jogadores que vivem nas gamehouses, grandes centros de treinamento pensados para garantir uma imersão total no universo dos esportes eletrônicos. "Nossa casa tem cozinha industrial com chef, nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogos. Os salários de um jogador de ponta podem variar entre R$ 3 e 30 mil. Incluídos valores de premiação e marketing", explica Lucas Almeida.

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