As denúncias de abuso sexual contra José Hilson Paiva não são recentes. Eleito, em 2016, prefeito de Uruburetama, onde também atua como médico, ele já foi processado judicialmente por abuso sexual em 1995 por duas mulheres, mas a ação foi arquivada em 1998. No ano passado, novas denúncias chegaram ao conhecimento público após ser divulgado um vídeo em que Hilson aparece fazendo sexo com uma mulher em um consultório particular na Cidade.
Somente com a veiculação, no último domingo, 14, das cenas de abusos gravadas por Hilson, o caso tomou dimensão nacional e trouxe efeitos práticos, como o afastamento dele do cargo. Nas imagens, obtidas e parcialmente exibidas pela TV Globo, o médico apalpa e põe a boca nos seios de mulheres, argumentando se tratar de procedimento para retirar secreção. Com outra vítima, o médico pede que faça sexo oral, mas ela se nega.
Em março do ano passado, após a divulgação do vídeo em que faz sexo aparentemente consentido com uma mulher, pelo menos outras quatro pacientes gravaram depoimentos contra o médico em que se diziam vítimas de estupro e pedofilia. Conforme elas, Hilson sugeria uma terapia de banho de luz próximo ao seio e pedia para que fechassem os olhos enquanto se masturbava próximo a elas. À época, nenhuma delas chegou a realizar denúncia formal no Ministério Público ou procurar a polícia. A influência do político causava medo em relação às possíveis consequências.
Hilson negou as acusações e afirmou se tratar de perseguição política. Ainda em março do ano passado, o médico - que não possui registro de ginecologista - chegou a fazer um Boletim de Ocorrência (B.O.) na Delegacia do 13º Distrito Policial (DP), em Fortaleza. Ele denunciava crime de extorsão cometido por um empresário. O prefeito alegava que estava sendo alvo de chantagens envolvendo conteúdos pornográficos.
Ao O POVO, uma das vítimas falou que não fez a denúncia antes porque era casada e tinha medo. "Eu era uma pessoa jovem e ele sempre foi influente na cidade".
Outra moradora da cidade afirma que a filha, então menor de idade, foi vítima de pedofilia. Com febre reumática, ela começou a fazer o tratamento com o médico. "Ele passava as mãos nos seios e tentava estuprar". Além disso, teria introduzido na adolescente um instrumento "que não era de médico", relata. A mãe, que não acreditou na filha a princípio, desabafa: "Ela ainda tem muito mágoa de mim".
Ontem, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) informou que investiga o político por suspeita de crimes sexuais, por meio da Promotoria de Justiça de Uruburetama. Entre os últimos dias 24 e 27 de junho, seis mulheres, entre 30 e 55 anos de idade, compareceram à sede do Núcleo de Investigação Criminal (Nuinc), em Fortaleza, onde prestaram depoimento e assinaram Termo de Representação Criminal contra Hilson, pelos crimes de estupro, violação sexual e importunação sexual. Por meio de nota, o MPCE informou que "medidas judiciais estão sendo tomadas visando elucidar todas as condutas delitivas e punir rigorosamente o responsável".
O Nuinc, conforme O POVO apurou, solicitou ontem ao MPCE em caráter de urgência cópia integral das investigações, inclusive os judicializados, contra o prefeito afastado, pelos supostos crimes sexuais e de improbidade administrativa.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec) informou que irá apurar o caso. De acordo com a lei nº 3.268, de 1957, que dispõe sobre os Conselhos de Medicinas, estão previstas cinco penas disciplinares para médicos que desrespeitarem o exercício da profissão. São elas: advertência confidencial em aviso reservado; censura confidencial em aviso reservado; censura pública em publicação oficial; suspensão do exercício profissional até 30 dias; cassação do exercício profissional.
Para o presidente do Cremec, Helvécio Neves Feitosa, as denúncias contra o médico José Hilson Paiva são de "extrema gravidade", mas ele destaca que o médico tem direito à defesa e que a entidade pode levar até dois anos para chegar a uma decisão. "A gente não pode antecipar juízo de valor, se não a gente perde a neutralidade e a condição de julgador", afirma.