Logo O POVO+
Edifício Andréa: um mês após desabamento, inquérito não foi concluído e prazo deve ser prorrogado
Reportagem

Edifício Andréa: um mês após desabamento, inquérito não foi concluído e prazo deve ser prorrogado

Polícia Civil irá pedir novo prazo para conclusão do inquérito. Ao todo, 36 pessoas já prestaram depoimento. Somente com a identificação dos responsáveis, vítimas podem entrar com ações indenizatórias
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Terreno onde se localizava o edifício Andréa que desabou no dia 15 de outubro de 2019 (Fotos: Sandro Valentim/O POVO) (Foto: Sandro Valentim)
Foto: Sandro Valentim Terreno onde se localizava o edifício Andréa que desabou no dia 15 de outubro de 2019 (Fotos: Sandro Valentim/O POVO)

Um mês se passou desde que os sete andares do Edifício Andréa ruíram e soterraram 16 pessoas, provocando a morte de nove delas. A Polícia Civil e a Perícia Forense do Ceará ouviram, nas últimas semanas, 36 envolvidos na tragédia, incluindo o engenheiro responsável pela reforma do prédio, mas ainda não sabem o que causou o desabamento — vão, inclusive, pedir à Justiça aumento do prazo para a conclusão do inquérito. Nesse meio tempo, de diferentes partes da Cidade, sobreviventes tentam, a duras penas, retomar o rumo da vida.

Gilson Gomes, 53, que estava num mercadinho próximo quando o edifício desabou, teve as pernas e alguns dedos do pé esmagados — dois precisaram ser amputados. Ele recebeu alta do Instituto Doutor José Frota (IJF) apenas na penúltima sexta-feira, 8. Agora, segundo sua irmã, Jocélia Moreira, ele se desloca de cadeira de rodas. E evita falar sobre a tragédia. "Acho difícil ele esquecer. (...) A gente fala que ele, agora, tem duas datas de aniversário", ela conta.

Fernando de Castro, eletricista que ainda hoje trabalha numa obra ao lado do terreno onde estava erguido o Andréa, também não consegue esquecer o momento do desabamento. Estava de serviço quando aconteceu. "Estar de segunda a sexta do lado não faz bem pra ninguém. Não tem um dia que a gente (da equipe) não fale sobre", garante. No desmoronamento, Fernando teve sua motocicleta esmagada, mas, com ajuda, já conseguiu comprar outra.

Clotário Souza Nogueira, 77, que morava com a esposa, a filha, o genro e a neta na cobertura do prédio, se abriga, atualmente, num imóvel que a família tinha para alugar no São João do Tauape. O aposentado tenta reaver parte dos bens que perdeu no desastre. "Consegui uns livros e outras coisas menores. Nada que sirva, nada de valor. Documento, também, não", lamenta. Sente falta, ainda, de eletrodomésticos e de uma quantia em dinheiro.

Uma das filhas de Clotário, a nutricionista Cibele Nogueira, 51, diz que apresentou às autoridades policiais um inventário dos bens que a família tinha em casa. E que, por isso, não entende por que só apareceram para resgate livros e "mulambos". "A gente tava na maior esperança de encontrar alguma coisa", principalmente, documentos perdidos, ela disse. À época, lembra, "teve muita solidariedade, vi muita gente boa, mas eu sabia que só ia restar porcaria. Se tivessem tido um pouco mais de cuidado e de respeito… É, respeito mesmo".

Kátia Nogueira, 40, a filha de Clotário que morava junto aos pais no Edifício Andréa, agradece a Deus por sua família ter escapado ilesa da tragédia — ela e o esposo estavam no trabalho, a filha, na escola, e, seus pais, no banco —, mas sente falta da convivência diária. "Por enquanto, estou na minha sogra", contou. Ela e a filha conseguiram recuperar as carteiras de identidade, mas perderam certidões de nascimento e títulos eleitorais. "Sinto falta de morar perto da minha mãe. E do meu cachorrinho (Lucky, que morreu após ser resgatado)".

A Polícia Civil informou que alguns dos bens recuperados entre os escombros podem ser restituídos na sede do 4º Distrito Policial, no Pio XII. Sobre o laudo pericial que analisa as causas e circunstâncias do desabamento, a Pefoce, em nota, afirmou que não foi possível, ainda, concluir. "É necessário um trabalho minucioso, com levantamento de dados e análises. Ainda não é possível estabelecer um prazo para a conclusão", escreveu.

Dias após a tragédia, curiosos ainda visitam o local onde, antes, havia o Edifício Andréa, no Dionísio Torres. Fernando de Castro, o eletricista que ainda trabalha lá perto, se incomoda com as perguntas que ouve. "Quero sair de perto pra ver se a lembrança não fica tão forte".

Clique na imagem para abrir a galeria

Bazar

Voluntários que auxiliaram as equipes de resgate na semana da tragédia do Edifício Andréa dão início hoje, 14, das 8h às 20h30min, na rua Joaquim Nabuco, 2425, a um bazar para ajudar as vítimas. O bazar continua amanhã, 16, no mesmo horário, e termina domingo, 17, ao meio-dia.

 

Vistoria

O desabamento do Edifício Andréa motivou a criação de uma força-tarefa para vistoriar prédios com risco de desabamento em Fortaleza. A operação é coordenada pelo Ministério Público do Ceará e envolve órgãos como a Defesa Civil do Município e o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-CE). A Prefeitura também divulgou uma operação-piloto de inspeção no Centro e na Jacarecanga.

 

Entorno

A Defesa Civil afirmou que as sete edificações do entorno do Edifício Andréa foram desinterditadas e que nenhuma família sobrevivente acionou o Programa de Locação Social.

 

Relembre as vítimas da tragédia do Edifício Andréa

Frederick Santana dos Santos - Primeira vítima identificada. O corpo dele foi retirado dos escombros ainda na noite de terça-feira, 15 de novembro, por volta das 23h30min. Trabalhava como entregador de água.

Maria da Penha Bezerril Cavalcante - Segundo corpo encontrado pelos bombeiros. Seguiu sem identificação até a noite de quinta-feira, 17. Ela foi encontrada com a ajuda de cães farejadores.

Izaura Marques - Com 81 anos de idade, era professora aposentada e foi a terceira vítima identificada. Morava com o marido no apartamento 501. Era carioca.

Antônio Gildasio Holanda Silveira - Pai de Nayara Pinho. Seu corpo só foi identificado por meio da necropapiloscopia. Morava no apartamento 301 com a filha.

Nayara Pinho Silveira - Quinta vítima identificada. Filha de Gildasio. Havia perdido a mãe recentemente e residia com o pai há pouco tempo no prédio.

Rosane Marques de Menezes - Tinha 56 anos. Seu corpo, o sexto, foi encontrado na noite de quinta-feira, 17. Era filha de Vicente e Izaura.

Vicente de Paula de Menezes - A sétima vítima identificada tinha 86 anos de idade. Seu corpo foi retirado dos escombros na noite de sexta-feira, 18.

Eriverton Laurentino Araújo - Oitava vítima localizada. Seu corpo foi removido dos escombros na manhã de sábado, 19. Era o cuidador que acompanhava Vicente de Paula.

Maria das Graças Rodrigues - Nona vítima localizada pelo Corpo de Bombeiros. Removida dos escombros na tarde de sábado, 19. Era a síndica do prédio.

O que você achou desse conteúdo?