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Como ficar com as contas no azul em 2020
Reportagem

Como ficar com as contas no azul em 2020

Identificar gastos, controlá-los e planejar as finanças em curto, médio e longo prazo são os melhores caminhos para manter o equilíbrio da vida financeira
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A gerência sobre os gastos pessoais parece algo simples, mas culturalmente se tornou um desafio no Brasil. Por motivos diversos, sejam ligados à macroeconomia que impacta a todos ou mesmo por descontrole, milhões de pessoas sofrem com o "nome sujo na praça". O POVO consultou especialistas em finanças que deram dicas e analisaram por que muitos brasileiros contraem dívidas e ficam inadimplentes.

A perspectiva para o próximo ano é positiva, já que em 2019 houve o primeiro recuo (0,27%) na inadimplência do consumidor em dois anos, de acordo com pesquisa feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Em três faixas etárias houve queda, também no setor bancário, e a maioria dos inadimplentes possui dívida menor do que R$ 1 mil.

Na avaliação do presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior, a recuperação econômica do País, mesmo que tímida, tem contribuído para o recuo da inadimplência. "Houve uma demora considerável para observarmos a primeira queda no número de inadimplentes. Além do fator conjuntural, o dado coincide com acontecimentos extraordinários, como a liberação dos recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e a realização de diversos feirões de renegociação de dívidas, que impulsionaram a recuperação de crédito no mercado".

Se, por um lado, fatores positivos como a liberação do saque das contas do FGTS ajudaram, por outro, o aumento o preço da carne, a inflação sobre outros alimentos como o feijão, o peso do gás de cozinha e da gasolina no orçamento contribuíram para um fim de ano com contas apertadas para parte das famílias. E 2020 já começa com as tradicionais contas de janeiro: Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), matrícula e material escolar.

Para o professor Ricardo Teixeira, coordenador do MBA em Gestão Financeira da Fundação Getúlio Vargas (FGV), basicamente, os consumidores precisam se organizar. Mas há dois cenários: pessoas com dinheiro no bolso e aquelas que vão começar o ano sem reserva financeira.

Em ambos os casos, Teixeira destaca que é necessário realizar um planejamento financeiro. Colocar na ponta do lápis ou na planilha as receitas e despesas. Ainda acrescenta que é possível aproveitar o parcelamento de impostos como o IPTU quando não se tem a quantia integral. Porém, segundo ele, os parcelamentos são mais indicados para aqueles mais organizados.

"Para fazer o planejamento, é preciso primeiro ver quais as contas de 2019 estão ficando para trás e como fazer para pagá-las junto com as contas de 2020. Quem tem dinheiro para resolver, melhor quitar tudo, pedindo abatimento ou parcelando", orienta.

Para que em 2020 não aconteça o mesmo de 2019, recomenda, é preciso utilizar da experiência obtida e definir prioridades, como os vencimentos inevitáveis, aproveitando os abatimentos. Sobre os cortes de despesas, ele diz que deve ser uma atitude a ser tomada em conjunto com a família.

"A melhor maneira de resolver a situação é não deixando com que as dívidas surjam novamente. Se eventualmente a carne ou outros produtos que são do gosto da família estão elevados, é importante procurar mudar o cardápio ou hábito, mesmo que de forma passageira, para organizar as contas", acrescenta.

O pesquisador da área de finanças pessoais e comportamentais da Universidade Federal do Ceará (UFC), Érico Veras Marques, afirma que, para organizar as finanças, é possível separar as despesas em categorias, das obrigatórias e fixas, como a prestação de financiamento imobiliário ou aluguel, até as não obrigatórias, como uma ida ao salão de beleza.

"É preciso se conhecer. Colocar na balança e saber o que está pesando. Existem pessoas que não têm a mínima ideia de como estão as contas. Outra coisa complicada para as famílias é o desemprego, que faz com que não se tenha condições de manter o mesmo padrão. É doloroso, mas é preciso rever os gastos e, para os desempregados há mais tempo, é preciso cortar", reforça.

FORTALEZA, CE, BRASIL, 28-12-2019: Antônio Campos, 53, porteiro fala como passar 2020 com as finanças no azul. Praça do Ferreira (Sandro Valentim/O POVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 28-12-2019: Antônio Campos, 53, porteiro fala como passar 2020 com as finanças no azul. Praça do Ferreira (Sandro Valentim/O POVO)

PERSONAGENS

ANTÔNIO CAMPOS, 53, PORTEIRO

Depois de quase três anos trabalhando informalmente, Antônio conseguiu recolocação no mercado com carteira assinada no fim de 2018 e recolocou as finanças na direção ao rumo pretendido. Morador de Pindoretama, na Região Metropolitana de Fortaleza, trabalha na Capital. Para evitar o gasto diário com locomoção entre os dois municípios, só volta para sua residência aos fins de semana. Para 2020, o quer iniciar um planejamento financeiro que lhe permita juntar dinheiro. "O salário mínimo que o Governo define não paga as despesas de um casa", reclama. Também lamenta a dificuldade dos filhos, de 21 e 22 anos, em conseguir uma oportunidade no mercado formal.

 

FORTALEZA, CE, BRASIL, 28-12-2019: Francisco de Abreu Oliveira, 43, auxiliar de produção fala como passar 2020 com as finanças no azul. Local: Praça do Ferreira (Sandro Valentim/O POVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 28-12-2019: Francisco de Abreu Oliveira, 43, auxiliar de produção fala como passar 2020 com as finanças no azul. Local: Praça do Ferreira (Sandro Valentim/O POVO)

INVESTIR COM CUIDADO

FRANCISCO DE ABREU OLIVEIRA, 43, AUXILIAR DE PRODUÇÃO

Oliveira conseguiu a recolocação no mercado de trabalho há um ano. Iniciou 2019 com emprego após passar quase todo o ano de 2018 sem trabalho. Quando falou com O POVO, estava no Centro de Fortaleza fazendo compras de fim de ano, com recursos do 13º salário. Disse que, desde que conseguiu a recolocação no mercado pôde retomar um padrão de vida. Em 2020, quer realizar algumas compras, mas com cuidado. Pois sabe que precisa quitar antes o IPVA e o licenciamento de seu veículo, que usa para ir ao trabalho, no Eusébio. Quer um ano "com tranquilidade" nas finanças.

 

FORTALEZA, CE, BRASIL, 28-12-2019: Hadassa Gomes, 24, barista fala como passar 2020 com as finanças no azul. Local: Praça do Ferreira (Sandro Valentim/O POVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 28-12-2019: Hadassa Gomes, 24, barista fala como passar 2020 com as finanças no azul. Local: Praça do Ferreira (Sandro Valentim/O POVO)

REALIZAR SONHOS

HADASSA GOMES, 24, BARISTA

A jovem Hadassa conta que, em 2019, conviveu com o fechamento de oportunidade de trabalho, mas comemora os seis meses que completa no atual trabalho, como barista, num café no Centro de Fortaleza. Estudante de Arquitetura, mas com curso trancado, precisou conviver com o acúmulo de dívidas no ano passado. Com o atual emprego, conseguiu quitá-las e tirou lições do período de aperto nas contas: diminuiu as saídas a lazer, por exemplo. Para o ano novo, quer juntar dinheiro e realizar sonhos. Passar no exame de direção é o primeiro e, depois, conseguir comprar um veículo ou casa própria.

TIPOS DE DESPESAS

OBRIGATÓRIAS FIXAS: Aluguel, prestação do financiamento do apartamento ou casa, condomínio, financiamento do veículo. São despesas fixas que chegam e precisam ser pagas independentemente da situação.

OBRIGATÓRIAS VARIÁVEIS: Contas de energia elétrica, serviço de telefonia, água e esgoto, supermercado. São despesas em que podemos tomar cuidado com o gasto, consumir menos, rever opções de fornecimento.

NÃO OBRIGATÓRIAS FIXAS: TV por assinatura, assinatura de revistas, academia. Despesas que não é obrigatória, mas é de cobrança fixada mensalmente. É uma conta em que é possível rever.

NÃO OBRIGATÓRIAS VARIÁVEIS: Ligadas ao lazer, compras no varejo (exemplo de roupas e calçados), gastos com beleza e estética. São despesas em que no caso mais drástico é possível diminuir sensivelmente ou cortar.

 

Dicas de leitura para endividados

Pai rico e pai pobre, de Robert Kiyosaki

Casais inteligentes enriquecem juntos, de Gustavo Cerbasi

Eu vou te ensinar a ser rico, de Ben Zruel

O que os ricos sabem e não contam, de Brian Sher

Escolas

A educação financeira chega ao ensino infantil e fundamental das escolas brasileiras em 2020. Pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a temática será abordada de forma transversal pelas escolas, em aulas e projetos. Parecer homologado pelo Ministério da Educação (MEC) prevê que as redes de ensino adequem os currículos da educação infantil e fundamental, incluindo esta competência no ensino, até 2020.

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