Logo O POVO+
Os desafios para as reeleições
Reportagem

Os desafios para as reeleições

Crise econômica e atual cenário político são apontados como barreiras para continuidade nas prefeituras. Alianças e tradicionalismo no Interior podem contribuir para uma nova chance a prefeitos
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
 (Foto: )
Foto:

(Foto: )

Dos 184 prefeitos cearenses, 32 estão terminando neste ano o segundo mandato e não poderão se reeleger no pleito de outubro. O número equivale a 17% dos municípios do Estado (1/6 do total). Por conseguinte, a possível busca por recandidaturas dos outros 152 gestores municipais que poderão estar na disputa eleitoral já é vista como desafiadora por especialistas, que projetam as dificuldades enfrentadas pelos postulantes aos cargos nas prefeituras.

Segundo Cleyton Monte, pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da UFC e membro do Conselho de Leitores do O POVO, é possível que haja uma "alta renovação" nas prefeituras, visto as crises econômicas enfrentadas pelas atuais gestões.

"No Ceará, os municípios mais distantes passaram por muita restrição, o que significa menos investimentos, algo que desgasta muito as gestões. Então eu acredito que vai ser muito difícil que (muitos) candidatos consigam se reeleger" afirma.

De acordo com Cleyton, o número de reeleitos tende a diminuir nos próximos anos. "A gente vive um momento de grandes mudanças no cenário político. O Ceará tem casos de famílias dominando municípios por décadas, como em cidades do Sertão Central, Sertão dos Inhamuns, Litoral Leste e Cariri. Acredito que esses grupos familiares terão sérias dificuldades. Quem vai tentar reeleição não vai ter vida fácil" avalia.

O professor universitário especula que, neste ano, o fenômeno das grandes alianças entre partidos — estratégia vista para fortalecer os candidatos - não terá tanta força. "Essa estratégia já não funcionou tão bem em 2016, pois aqueles prefeitos que foram vitoriosos venceram por demonstrarem alguma conexão com as comunidades", diz Cleyton. Todavia, ele ressalta que os resultados vão depender do contexto de cada município.

Já para a professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e também integrante do Lepem, Monalisa Soares, o fenômeno da reeleição é historicamente prevalente no Ceará devido ao fenômeno do "situacionismo verticalizado", uma tendência de alinhamento dos candidatos à reeleição a grupos políticos hegemônicos. Ela afirma que candidatos que visam mais quatro anos de mandato tendem a se aproximar de lideranças políticas mais consolidadas e com mais capital no momento.

"No Ceará, os municípios pequenos do Interior são historicamente dependentes dos repasses federais e estaduais. A tendência é que os prefeitos tentem se alinhar ao governador Camilo (Santana), aumentando a possibilidade de captar recursos e conseguirem reeleição", afirma a especialista.

Ainda segundo Monalisa, há uma influência política significativa nos municípios cearenses, onde partidos visam crescer nas regiões e antecipar as eleições de 2022. "As eleições de 2020 são importantes para marcar território. Os partidos vão tentar fortalecer seus nomes nestes municípios pequenos" prevê.

Para as eleições deste ano, para conquistarem a continuidade nos mandatos, Monalisa aponta que haverá um esforço ainda maior dos partidos em criar debates focados nos temas nacionais. Fator que ela considera ser resultado do aumento da polarização política. "O Ceará nunca teve discussões a nível nacional sendo debatidas a nível local. Essa polarização começou nas eleições de 2018 e ainda é muito latente", ressalta.

 

O que você achou desse conteúdo?