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Ceará tem risco de epidemia de dengue
Reportagem

Ceará tem risco de epidemia de dengue

| Ceará | Circulação do sorotipo 2 da doença faz ser grande a possibilidade de epidemia no Estado. Poder público já se movimenta e pede apoio da população
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Ilustração 3D do vírus da dengue que é transmitido pelo Aedes aegypti (Foto: Getty Images/iStockphoto)
Foto: Getty Images/iStockphoto Ilustração 3D do vírus da dengue que é transmitido pelo Aedes aegypti

Com o início da quadra chuvosa, o Estado, mais uma vez, se posta em alerta para a dengue. E as perspectivas não são positivas: espera-se uma nova epidemia da doença neste ano. O Ceará é um dos 11 estados que constam em lista feita pelo Ministério da Saúde com alerta sobre surto de dengue par 2020.

A preocupação ocorre por causa do sorotipo 2, que não circulava no Estado desde 2008. Foi desse tipo a epidemia de dengue que acometeu o Sudeste e Centro-Oeste do País no ano passado. Em 2019, foram notificados 1.544.987 casos prováveis de dengue no País, o que representa aumento de mais de 400% na comparação com 2018. Os estados de Minas Gerais, São Paulo e Goiás concentraram 67,9% desses casos, conforme o Ministério da Saúde. Especialistas apontam a tendência de deslocamento do vírus para a região Nordeste.

Desde o início deste ano, mais de 70 mil casos de dengue já foram registrados no País. O alerta do Ministério da Saúde coloca todos os estados do Nordeste, assim como Rio de Janeiro e Espírito Santo, sob risco de epidemia a partir de março próximo.

O próprio secretário de saúde do Estado, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Doutor Cabeto, admitiu a possibilidade. "Tudo leva a crer que nós teremos uma epidemia de dengue, por causa do tipo 2, que não rodava há muito tempo e muita gente não está sensibilizada", afirmou, durante o Fórum Estratégico da Saúde, em 10 de fevereiro último.

Para evitar isso, as secretarias da saúde do Estado e do Município já se movimentam. Conforme, Magda Almeida, assessora técnica da Sesa, o Estado mantém um plano de ação com relação a dengue, que inclui incentivos aos municípios que aderirem ao programa de combate à doença, assim como acompanhamentos das cidades. Além disso, cita, o Estado colocou em prática ações como a distribuição de telas para vedação de caixas d'água nos municípios e circulação de carros "fumacê".

A assessora ainda destaca campanhas de conscientização em veículos de comunicação e mídias sociais. Ela destaca a importância da educação e de ações individuais no combate à proliferação ao mosquito. "Cada um tem que fazer a sua parte, porque é isso que vai diminuir a exposição".

Para coordenador de Vigilância à Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Nélio Moraes, as perspectivas são desafiadoras. "O papel que nos resta é organizar o serviço dentro da SMS para buscar parcerias com a Sesa e intensificar as ações". Ele cita já estarem em prática ações como o monitoramento em tempo real de casos de dengue, em que, segundo conta, o médico ao fichar um caso em uma unidade de saúde, já deixa o registro disponível para a secretaria — o que torna possível identificar regiões em que o vírus mais está circulando e, consequentemente, tomar medidas como envio de fumacê.

Além disso, Moraes cita o estabelecimento de comitê intersetorial que reúne diversas secretarias para ações em diversos âmbitos. Apesar disso, pondera que a colaboração da sociedade ainda é imprescindível. "Oitenta por cento dos focos estão dentro de casa", estima.  

O professor do Departamento de Saúde Comunitária, da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luciano Pamplona, reforça que, para além da atuação do poder público, se "em 1%" o trabalho não for feito, o resultado pode ser danoso. Ele se refere ao trabalho individual de cada cidadão em eliminar possíveis criadouros do mosquito em suas próprias casas. "Governo nenhum vai ser 100% eficiente nesse caso. Se eu não fizer a minha parte, não há controle sustentável", afirma. Pamplona diz não haver aumento expressivo de casos de dengue neste ano a indicar epidemia, mas pondera que as chuvas são o grande determinante para a propagação do vírus.

 

Dengue em números

Em 2019, até 12 de dezembro, última atualização disponibilizada pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), foram registrados 14.758 casos confirmados de dengue no Ceará. Treze pessoas morreram em decorrência da doença.

Exames

O diagnóstico fechado da dengue é laboratorial. A coleta do sangue deve ser feito entre o terceiro e o quinto dia após os sintomas iniciais da doença. A prova do laço é indicada nos casos de suspeita, porque pode refletir a queda das plaquetas.

Perguntas e respostas sobre a dengue

Quais os sintomas da doença?
Na chamada dengue clássica, a primeira manifestação é febre alta e de início abrupto. Usualmente, é seguida de dor de cabeça ou nos olhos, cansaço ou dores musculares e ósseas, falta de apetite, náuseas, tonteiras e vômitos. Também podem haver manchas vermelhas no corpo e coceira. A doença tem duração média de cinco a sete dias.

Quais os sintomas da dengue hemorrágica?
Os sintomas são semelhantes, porém, há agravamento a partir do terceiro ou quarto dia de evolução, com aparecimento de manifestações hemorrágicas e colapso circulatório. Nos casos graves, entre terceiro e sétimo dia ocorre o choque, geralmente precedido por dor abdominal. Alguns pacientes podem ainda apresentar manifestações neurológicas, como convulsões e irritabilidade

Quais os principais tipos de criadouro do mosquito da dengue?
O Ministério da Saúde lista doze tipos principais criadouros domésticos do Aedes aegypti. Para isso recomenda:
— Certificar que caixa d’água e outros reservatórios de água estejam devidamente tampados.
— Retirar folhas ou outro tipo de sujeira que pode gerar acúmulo de água nas calhas.
— Guardar pneus em locais cobertos.
— Guardar garrafas com a boca virada para baixo.
— Realizar limpeza periódica em ralos, canaletas e outros tipos escoamentos de água.
— Limpar e retirar acúmulo de água de bandejas de ar-condicionado e de geladeiras.
— Utilizar areia nos pratos de vasos de plantas ou realizar limpeza semanal.
— Retirar água e fazer limpeza periódica em plantas e árvores que podem acumular água, como bambu e bromélias.
— Guardar baldes com a boca virada para baixo.
— Esticar lonas usadas para cobrir objetos, como pneus e entulhos.
— Manter limpas as piscinas.
— Guardar ou jogar no lixo os objetos que pode acumular água: tampas de garrafa, folhas secas, brinquedos.

Como eliminar os focos do mosquito da dengue (aedes aegypti)?
— Lavar as bordas dos recipientes que acumulam água com sabão e escova/bucha.
— Jogar as larvas na terra ou no chão seco.
— Em recipientes com larvas onde não é possível eliminar ou dar a destinação adequada, colocar produtos de limpeza (sabão em pó, detergente, desinfetante e cloro de piscina) e inspecionar semanalmente o recipiente, desde que a água não seja destinada a consumo humano ou animal. Importante solicitar a presença de agente de saúde para realizar o tratamento com larvicida.
— Para grandes depósitos de água e outros reservatórios de água para consumo humano é necessária a presença de agente de saúde para aplicação do larvicida.

Como utilizar água sanitária no combate ao aedes?
Água sanitária é eficaz no combate às larvas do mosquito, mas ela deve ser usada apenas em recipientes de água que não se destine ao consumo humano ou de animais, como, por exemplo, ralos, caixas de descarga e vasos sanitários não usados diariamente e vasos de planta. A recomendação é de que a aplicação seja semanal.

O mosquito Aedes aegypti se reproduz apenas em água limpa?
Não. Conforme o Ministério da Saúde, há um processo de adaptação biológica do mosquito que o faz ser capaz de reproduzir mesmo em fossas, cisternas, boca de lobo.

Por quanto tempo o ovo de Aedes aegypti pode viver em ambiente seco?
Ovos do mosquito podem viver mais de um ano no ambiente seco. Por isso, é importante lavar reservatórios de água com água, bucha e sabão.

Repelentes são eficazes contra o Aedes aegypti?
Sim, desde que sejam usados aqueles registrados na Anvisa, como alerta o Ministério da Saúde. Também devem ser observadas as precauções descitas nos rótulos dos produtos. Repelentes de uso tópico pode ser usados em gestantes e crianças maiores de dois anos.

Quais os sorotipos do vírus da dengue?
São quatro: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. A última epidemia de dengue registrada em Fortaleza, ocorrido em 2012, foi do tipo 4. Quem já teve dengue causada por um dos sorotipos adquire imunidade.

Fonte: Ministério da Saúde, Secretaria Municipal de Saúde e Fiocruz

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