Um dia após o fim da paralisação de policiais militares, o governador Camilo Santana (PT) criticou o que considera como influência política dentro da PM durante os atos dos manifestantes. "Um debate que precisa ser aprofundado é o da partidarização da polícia, mistura de política partidária com polícia", disse ontem em entrevista no Palácio da Abolição.
Como exemplo dessa interferência, o governador ressaltou que "todas as lideranças desse movimento têm mandato, são filiados a partidos", citando indiretamente o deputado estadual Soldado Noelio e o federal Capitão Wagner, ambos do Pros, além do vereador Sargento Reginauro (sem partido) - os três são ligados aos policiais.
Para Camilo, essa contaminação é grave. "É um debate que precisa ser feito a nível federal porque não ocorre apenas no Ceará. Espero que, a partir daí, Congresso, Supremo e estados brasileiros possam tomar decisões para garantir que a polícia cumpra o seu papel constitucional", acrescentou.
Ontem, representantes dos PMs e a comissão que negociava o fim do motim assinaram um acordo que encerrou o movimento depois de 13 dias. O termo foi chancelado em evento na sede do Ministério Público do Estado (MP-CE), com presença de autoridades do Estado.
O texto aprovado não prevê anistia entre as cláusulas, mas a aplicação do processo legal, com acompanhamento de um grupo externo formado por integrantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-CE), Defensoria Pública e MP-CE.
Sobre a avaliação que fazia da paralisação dos policiais, Camilo disse que o episódio "foi lamentável e inaceitável", mas que "todos se apresentaram hoje (ontem) pela manhã nos seus quartéis".
Segundo o governador, "o momento é de retomar os trabalhos e garantir a normalidade no combate à violência". O petista estimou que o Exército, cuja presença foi requisitada ao Governo Federal e autorizada pelo presidente Jair Bolsonaro, permanece no Ceará até a próxima sexta-feira, 6.
"É importante que o Exército permaneça por esses dias no Estado, até para restabelecer a normalidade. Muitos equipamentos estão sendo recuperados."
Resolvido o impasse com os policiais, que iniciaram a paralisação em protesto contra os percentuais de reajuste salarial presentes em projeto que tramita na Assembleia Legislativa (AL-CE), o chefe do Executivo antecipou que irá agora fazer uma ampla avaliação do impacto do motim.
"Vou reunir os meus secretários, os comandos, para que a gente possa avaliar o fato ocorrido no Ceará e tomar as medidas necessárias", respondeu. "O Estado tem sido uma referência nessa área. Precisamos restabelecer foco, estratégia, metas, para o restante do ano."
Procurado por O POVO, Sargento Reginauro rebateu fala de Camilo. "Eu não consigo entender a insistência do governador em querer classificar o movimento como político", disse. "É mais uma forma de mirar todas as armas contra Capitão Wagner do que qualquer outra coisa."