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731 dias sem Marielle: o legado da vereadora que se tornou símbolo de ativismo político
Reportagem

731 dias sem Marielle: o legado da vereadora que se tornou símbolo de ativismo político

Dois anos após seu assassinato, figura de Marielle Franco segue despertando debates sobre direitos humanos e minorias. Crime reforçou olhares para a luta contra milícias no Brasil
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"HQ Marielle Franco Raízes" será lançada em formato digital e físico com objetivo de inspirar jovens (Foto: Reprodução)
Foto: Reprodução "HQ Marielle Franco Raízes" será lançada em formato digital e físico com objetivo de inspirar jovens

''O nosso corpo que fala, a nossa cor que fala, a nossa raça que fala, o nosso gênero que fala". A frase foi uma das últimas ditas pela vereadora carioca Marielle Franco (Psol), criada na favela da Maré. Minutos depois, seria assassinada com quatro tiros na cabeça após deixar a Casa das Pretas, espaço coletivo de mulheres negras na Lapa, região central do Rio de Janeiro. Anderson Pedro Gomes, motorista do carro em que ela estava, também morreu.

 Após 731 dias do assassinato da vereadora, a fala de Marielle ainda ecoa, tornando-a presente e à espera de respostas sobre os mandantes do crime. A morte dela ampliou, a níveis nacionais e internacionais, o debate social sobre ativismo político, direitos humanos e políticas para minorias. Ao mesmo tempo, a demora para uma elucidar o caso aponta para sua complexidade.

Segundo Newton de Menezes, professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC), há um legado positivo de multiplicação de Marielle como "uma mulher destemida, compromissada com o povo e com a periferia". Contudo, ele aponta que o crime "deixa estampado" um processo de fusão do Estado com o crime organizado e as milícias.

"Ela deixa um legado positivo, pois surgiram muitas outras Marielles. Mas isso demonstra uma situação desafiadora de como a política hoje é ameaçada de ser capturada não só pela grandes corporações, mas pelo crime organizado" avalia Newton. O professor aponta que a morte da parlamentar aconteceu durante a expansão da extrema direita no Brasil e uma consequente série de violações da Constituição e dos direitos humanos.

13 de março de 2020, Foto reprodução da ex-vereadora e sociologa, Marielle Franco. (Foto Reprodução Wikipedia)
13 de março de 2020, Foto reprodução da ex-vereadora e sociologa, Marielle Franco. (Foto Reprodução Wikipedia) (Foto: Reprodução)

Para o deputado estadual cearense Renato Roseno (Psol), a repercussão do caso Marielle se estendeu durante três fases nos últimos dois anos. "Tivemos o assassinato físico, o simbólico, com a disseminação das fake news que denegriam publicamente a imagem da vereadora, e o social, resultado da recusa do Estado de encontrar os mandantes" disse.

Roseno afirma ainda que Marielle representava uma nova liderança feminina que lutava contra os privilégios e pensava em outras maneiras de ocupação dos espaços pelas minorias. "Ela queria muito essa transformação de uma política de fato mais representativa, isso justifica sua grande repercussão. A democracia brasileira foi violentada quando você vê uma parlamentar, mulher negra e da periferia carregando símbolos que poderiam fazer avançar a sociedade brasileira" afirma.

Em 2019, após um ano da sua morte, a vereadora foi homenageada em diversos pontos do Rio de Janeiro. Houve atos em São Paulo, na Avenida Paulista, e no bairro do Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, e em várias de cidades pelo Brasil e no mundo. Nos EUA, a parlamentar foi tema de uma série de conferências. No centro de estudos brasileiros na Universidade Princeton, Angela Davis, uma das principais representantes do movimento negro mundial, fez o discurso principal.

 

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