Com a inversão na proporção de casos de Covid-19 entre Fortaleza e Interior, municípios fora da Capital já somam 58,6% das confirmações do Ceará (40.473). Os leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), contudo, se concentram em municípios polo nas macrorregiões de saúde e na Capital. Não é viável nem estratégico que cidades pequenas tenham leitos de alta complexidades. Mas, para além da ampliação dos leitos nos hospitais de referência, é preciso otimizar fluxos, monitorar o processo de regulação de leitos, rastrear grupos vulneráveis e enviar pacientes de risco precocemente para que eles não cheguem tarde demais.
Quando se analisa assistência de alta complexidade para o Interior, a primeira demanda é "pactuação das regiões de saúde para fluxo e incremento da capacidade instalada", avalia Helyn Thami, pesquisadora do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e integrante da plataforma CoronaCidades.
"É preciso pensar em localidades de referência. Se tem municípios mais perto que podem ter leitos de retaguarda. Unidades de estabilização com drogas específicas e estrutura intermediária sobretudo de suporte cardiovascular e de respiradores. Não tão complexa quanto de uma UTI, mas mais complexa que de uma unidade básica", aponta.
Helyn destaca a necessidade de monitorar o processo de regulação a partir de indicadores como tempo de demora para liberar o leito após o paciente sair e tempo para acionar uma ambulância. Isso para atuar onde o sistema apresenta gargalos.
Se o Interior sofre com a pouca oferta de leitos de alta complexidade, por outro lado, tem ampla cobertura na atenção primária, na maioria dos casos. Essa potencialidade deve ser utilizada para fazer busca ativa, rastreio de casos potencialmente graves e monitoramento precoce.
A macrorregião de saúde de Sobral, na Região Norte, com 17% (11.850) das confirmações do Ceará, tornou-se o foco das ações do Governo do Estado. "Do momento em que o município identifica a gravidade, (os pacientes) pioram muito rápido. Pede a vaga, a gente cede, conseguem uma Ambulância de Suporte Avançado para ir. Tivemos relatos de pacientes que tiveram parada respiratória dentro da ambulância", conta Regina Carvalho, secretária da Saúde de Sobral.
"A principal dificuldade é ter a vaga para o paciente. Você coloca o paciente e espera a vaga", afirma Ana Carmem de Carvalho, coordenadora da vigilância epidemiológica da Secretaria da Saúde de Bela Cruz. "Se a gente conseguisse melhorar os polos regionais para atender a região de Acaraú, por exemplo, a gente não precisaria de Sobral e Fortaleza. Os casos de pacientes moderados podiam até ficar aqui na região, com medicação mais complexa, respirador", avalia.
"À medida que os pacientes vão sendo inseridos, a gente vai regulando para os leitos vagos, sempre respeitado a complexidade dos pacientes e prioridade, conforme as normas técnicas das sociedades médicas e da própria regulação", explica Mozart Rolim, coordenador da Central de Regulação do Estado.