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Queda histórica da Selic impõe desafio aos investidores
Reportagem

Queda histórica da Selic impõe desafio aos investidores

| TAXA BÁSICA | Aqueles com aplicações financeiras em opções mais conservadoras verão seus rendimentos diminuir. Mesmo assim, em meio à crise, essa é a preferência da maioria
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Efeitos da queda da seilic (Foto: luciana pimenta)
Foto: luciana pimenta Efeitos da queda da seilic

A terceira redução consecutiva de 0,75 ponto percentual (p.p.) da taxa básica de juros (Selic), para 2,25%, anunciada nesta semana pelo Banco Central (BC), trouxe algumas alterações importantes no mercado de investimentos e a possibilidade de melhoria no crédito. Com a economia abalada pela crise, desaquecimento do consumo e inflação em baixa, a redução da Selic deve beneficiar os inadimplentes, já que, ocasionalmente, as taxas das dívidas estão atreladas ou influenciadas pela Selic. Mas, prejudica aqueles com investimentos indexados na taxa básica de juros.

Segundo Camilla Dolle, coordenadora de análise de Renda Fixa da XP Investimentos, é importante ter cautela e discernimento para saber o quanto de risco é possível adicionar de acordo com o perfil. Ela indica três mercados: Tesouro Direto, com o menor risco do mercado; Emissões bancárias de renda fixa, como CDBs (Certificado de Depósito Bancário), LCIs (Letra de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letra de Crédito do Agronegócio), de risco intermediário; e o Mercado de crédito privado, de maior risco e, portanto, maior rentabilidade.

"É possível encontrar risco e boa rentabilidade mesmo em um mercado mais conservador e mesmo neste período de crise que vivemos", diz.

Para o doutor em Administração e professor de Finanças da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Josilmar Cordenonssi, a queda da Selic será de difícil percepção para o cidadão comum. Ele exemplifica que é pouco provável que a redução seja muito ampla no crédito bancário por causa da inadimplência e alta do risco para os bancos.

Josilmar ainda acredita que os títulos do Tesouro mais conservadores devem continuar relevantes, mesmo com a perda no rendimento, devido a busca por segurança nas aplicações. O analista acrescenta que os juros ainda podem baixar mais, no entanto, há riscos com uma redução demasiada.

"Enquanto a inflação não voltar à meta, o BC continuará diminuindo os juros. O que é impensável no Brasil são taxas negativas, pois 40% da dívida é indexada à Selic, o impacto seria inédito no mundo, já que esse tipo de política é uma 'jabuticaba', só existe no Brasil", analisa.

A queda dos juros também pode gerar impacto no mercado imobiliário. Para Rafael Sasso, cofundador da Melhortaxa - maior plataforma digital de crédito imobiliário do País, a queda da Selic deve acirrar a concorrência entre os bancos e aumentar a pressão por redução das suas taxas. Ele diz ainda que a margem para queda do juro imobiliário é grande.

Segundo Rafael, a nova Selic a 2,25% ampliou de 4,51 para 5,06 p.p. a sua diferença em relação à taxa média de crédito imobiliário efetivamente praticada pelos grandes bancos, que está em 7,31% com base nos contratos fechados por intermédio da nossa plataforma. "Essa diferença era de 2,56 p.p. em novembro de 2019, quando a nossa média estava em 7,56%, enquanto a Selic marcava 5%. Ou seja, a diferença hoje é bem grande, o que teoricamente pressionaria os bancos a reduzir as taxas de financiamento imobiliário".

 

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Bolsa fecha em alta após ajuste feito pelo Copom

A Selic em nova mínima histórica, a 2,25% ao ano - e com a possibilidade, mantida ontem pelo Copom, de novo corte de juros - colocou o Ibovespa em terreno positivo pela terceira sessão consecutiva, em alta de 0,60%, a 96.125,24 pontos. O balanço foi marcado pelo desempenho lateralizado ou negativo das bolsas do Exterior ontem, também por avanço do dólar no Brasil em meio à ressurgência do risco político, após a prisão de Fabrício Queiroz.

Para abrandar as chamas em outra frente, o presidente Jair Bolsonaro anunciou ontem, em vídeo ao lado de Abraham Weintraub, que o ministro da Educação deixará o cargo para ocupar uma diretoria no Banco Mundial.Enquanto os índices de Nova York se mantinham em baixa moderada, o Ibovespa limitou um pouco os ganhos após o anúncio - antes, apontava ganho de 0,77%, oscilando para baixo de 0,5% após o vídeo presidencial. Na semana, o Ibovespa acumula ganho de 3,59%, elevando o do mês a 9,98%, enquanto no ano limita agora as perdas a 16,88%. Em um mês, o avanço é de 18,39%.

Riscos

Segundo o diretor financeiro da Veritas Capital Management, Flavio Rietmann, o investidor, já vem sendo obrigado a sair da zona de conforto e passar a correr riscos maiores para obter ganhos reais e mais expressivos.

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