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Pressão sobre o leilão 5G no Brasil
Reportagem

Pressão sobre o leilão 5G no Brasil

| Estimativa de atraso | A participação da Huawei no leilão 5G no Brasil pode trazer repercussões negativas
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Depois do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, ter declarado que o Brasil terá "consequências" econômicas negativas caso decida manter a Huawei no leilão do 5G, ontem foi a vez da China acusar o governo norte-americano de tentar "eliminar" a empresa chinesa por todos os meios. O leilão está previsto para ocorrer em 2021, mas o acirramento da disputa traz incertezas não somente em relação ao calendário, mas também ao custo e a forma como a tecnologia chegará ao País.

A fabricante chinesa tem contrato com as principais operadoras do Brasil. É, inclusive, quem fornece a maior parte dos equipamentos nas tecnologias 2G, 3G e 4G. O professor de telemática do Instituto Federal do Ceará (IFCE), Edson Almeida, explica, que caso a Huawei participasse do leilão, as operadoras poderiam aproveitar essa infraestrutura existente.

"Seria só começar a partir do que já tem. Mas se a empresa for bloqueada, isso pode ter um impacto forte não só no custo, mas no tempo para comprar novos equipamentos, instalar tudo de novo. O que também pode gerar repercussões no preço dos serviços em torno de 15% a 20%", avalia.

Ele alerta que um eventual banimento da chinesa pode trazer repercussões, inclusive, para o Ceará, já que hoje a empresa mantém parceria com o IFCE e a Universidade Federal do Ceará (UFC) na formação de estudantes para atuar com a tecnologia 5G. "Estes programas podem ter descontinuidade", frisa.

Nos Estados Unidos, as agências federais já haviam determinado a substituição dos equipamentos não apenas da Huawei, como da ZTE. E, em outra medida, uma ordem de emergência nacional, assinada no ano passado, proibiu as empresas norte-americanas de negociar com as companhias que possam trazer riscos à segurança do País.

A ameaça de restrições de investimentos em países que adotem tecnologia chinesa para o 5G não é só com o Brasil. Austrália e Nova Zelândia já haviam cedido à pressão. E, no último dia 17, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, também baniu a Huawei e deu um prazo para 2027 para as empresas de telecomunicações substituírem os componentes chineses de suas operações.

A principal alegação é que a utilização dos equipamentos chineses trazem risco à segurança cibernética e de informações consideradas estratégicas para defesa nacional.

O coordenador do grupo de pesquisa em Telecomunicações sem fio da UFC, Rodrigo Porto, explica que este é um ponto que acaba ganhando ainda maior relevância no contexto do 5G, já que a tecnologia abre caminho para um amplo leques de possibilidades, como Internet das Coisas, Inteligência Artificial (IA), cidades inteligentes etc.

"Se esta infraestrutura falha, evidentemente, há uma preocupação natural com a disrupção que isso causa. Há uma preocupação maior com a segurança cibernética e com o não compartilhamento de informações vitais, seja na área da segurança nacional, seja de informações privadas do cidadão", afirma.

Apesar das acusações, não há nada até o momento que comprove eventuais vazamentos de informações por parte da empresa chinesa. Rodrigo explica que o fato de a Huawei não ser uma empresa listada em bolsa, com obrigação de prestar contas a acionistas, sobretudo por estar em um regime considerado opaco, do ponto de vista da transparência, há um receio natural quanto à segurança cibernética. "A preocupação é legítima, tem fundamento, mas a forma de lidar com a preocupação é que não precisaria chegar a tanto", opina.

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