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Aumento de preços dos materiais eleva custos na construção civil
Reportagem

Aumento de preços dos materiais eleva custos na construção civil

Aumento nos insumos para construção civil pesa nas contas, já que o Ceará teve o maior crescimento do Nordeste no custo para o setor nos últimos 12 meses. Nesta retomada, preços de produtos na indústria ficaram até 40% mais caros e valores aumentam na ponta
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Preços de materiais para construção disparam em plena pandemia (Foto: Aurelio Alves/ O POVO)
Foto: Aurelio Alves/ O POVO Preços de materiais para construção disparam em plena pandemia

A pandemia gerou escassez de estoque de alguns produtos e os preços ficaram mais altos para os consumidores. A variação de para os derivados de plástico, por exemplo, chegam a 40%. Outros produtos, como cimento, cerâmicas e louças sanitárias, foram os que mais apresentaram altas desde que a Capital saiu do isolamento rígido (lockdown).

Essas elevações colocaram o Ceará como o quarto estado do País e o primeiro do Nordeste com o maior dos índices de preços da construção civil nos últimos 12 meses. De acordo com dados do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi), a alta foi de 5,36%.

Levantamento da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) revela que todas as construtoras cearenses relataram que, durante a pandemia, o preço do cimento e do aço aumentaram nas proporções mais importantes. O presidente da Cbic, José Carlos Martins, frisa que o momento é o mais importuno.

"Quando temos a expectativa de que a construção civil possa puxar a retomada do crescimento, alguém decide levar vantagem", queixa-se. E complementa que isso pode se refletir num efeito rebote, que aumentaria os juros, já que essas variações acontecem mesmo em momento de queda dos juros e inflação em baixa.

"Seria ruim para Brasil, em especial para a construção, pois desequilibraria todo o mercado. As empresas contrataram obras considerando uma realidade. Se essa realidade é modificada, as obras ficam novamente reduzidas", diz.

Já o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Materiais de Construção (Sindimac), Cid Alves, destaca que, no varejo, alguns produtos estão com um patamar elevado de preços. As principais justificativas estão relacionadas à paralisação da indústria durante a pandemia e à retomada lenta do setor, apesar de crescente demanda na ponta.

Ele explica que acontecem aumentos acima do normal e o crescimento do volume de vendas no Ceará, mas que não existem vínculos que justifiquem a queda no estoque. Ele aponta que o principal problema no momento é a questão logística, já que as maiores fábricas produtoras ficam localizadas em Santa Catarina e São Paulo. A disputa por commodities também pressiona o setor.

"Agora, combinado com a supersafra, a cadeia de transporte está priorizando o transporte de alimentos do Centro-Oeste. Está faltando matéria prima, está faltando caminhão, tudo. No momento em que o mercado melhorou para o setor, com juros baixos, o setor foi pego com esse problema", afirma.

Com isso, alguns materiais estão escassos nas prateleiras, com destaque para tubos, conduítes e outros derivados de plástico, já que a produção nas fábricas de plástico foi suspensa para o setor, pela alta demanda no mercado internacional.

No caso das cerâmicas e louças sanitárias produzidas, em especial, nos estados do Nordeste, o problema é que a indústria está com dificuldade de atender a demanda. Segundo Alves, fábricas estão com três a quatro vezes mais pedidos em carteira, pois tiveram de paralisar atividades durante a pandemia.

"A cadeia da construção civil foi considerada essencial, mas a indústria que oferece a matéria prima não teve o mesmo privilégio em alguns estados", diz.

A construção civil avançou 1,6% em 2019, puxada principalmente por edificações imobiliárias, segundo o IBGE. Foi o primeiro ano positivo do setor após cinco anos no vermelho. Em 2019, as vendas de imóveis aumentaram 9,7% em comparação com 2018, segundo pesquisa da Cbic. E o desempenho da construção civil puxou os investimentos, que avançaram 2,2% em 2019. O segmento de construção respondeu por 44% do total dessa expansão.

Patriolino Dias, presidente do Sindicato das Construtoras do Ceará (Sinduscon-CE), avalia que os empresários estão sem entender tamanhos aumentos. Ele diz que o repasse de produtos sofreu impacto com as altas. As principais foram de materiais em PVC ( 15%), do cimento ( 20%), das argamassas ( 30%) e do tijolo ( 60%).

Ele ressalta que aguarda a normalização da oferta, sob risco de os aumentos serem repassados no valor final dos imóveis novos. "Tenho sido pressionado pelos associados, que não sabem o que fazer, pois absorver esses aumentos é prejuízo na certa. Muitos já têm preços combinados, como com a Caixa, para os que atendem o Minha Casa, Minha Vida (MCMV)".

 

Lavanery Wanderley, presidente da Acomac e da Apiguana
Lavanery Wanderley, presidente da Acomac e da Apiguana

Perspectivas

QUANDO AS LOJAS FECHARAM no início da pandemia, ainda no mês de março, uma profunda preocupação do setor de varejo ligado à construção civil se estabeleceu. Este ano seria o marco de uma retomada mais robusta na expansão do setor após 2019.

No entanto, a pandemia trouxe um efeito contrário, de despertar nas pessoas uma necessidade de atenção ao próprio lar e de investir em conforto. Isso move o presidente da Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção do Ceará (Acomac) e da Apiguana, Lavanery Wanderley Filho, a esperar que o setor evolua na casa dos 30% em 2020 na comparação com o ano passado.

Ele reconhece que a indústria que abastece o setor varejista enfrenta dificuldades para abastecer as lojas e por conta disso o preço dos produtos aumentaram, mas crê que até novembro ou dezembro a situação se resolva.

 

Demanda reprimida fez as vendas aumentarem

Atualizado em 2/9, às 10 horas

Quando 2020 iniciou, os setores envolvidos na cadeia da construção civil esperavam por um ano promissor, de grandes resultados. A pandemia veio para reaver esses planos, mas as perspectivas positivas - para surpresa dos próprios empresários - continua para o varejo de produtos. Segundo a Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção do Ceará (Acomac), mesmo com o lockdown, o setor retornou altivo e espera para 2020 crescimento de 30% nas vendas ante o ano anterior.

Para Gilberto Costa, vice-presidente da Acal Home Center, a perspectiva é positiva desde a surpresa na reabertura das lojas: uma demanda reprimida correu para comprar. Ele destaca que é assustadoramente forte o desejo das pessoas de querer reformar o lar, mesmo com pequenas intervenções.

Esta vontade está muito ligada ao próprio período de isolamento, em que as pessoas passaram praticamente 24 horas dentro de casa e acabaram encontrando problemas, concertos a serem feitos.

Na retomada, outro fator fez a diferença: os auxílios liberados pelo Governo Federal para a população mais pobre. Apesar de corresponder a valores menores, serviram para clientes em busca de material para pequenas obras.

Cid Alves, presidente do Sindimac, afirma que, para os setores do varejo, que sofreram muito com o fechamento das lojas, a notícia é muito positiva.

"Para o varejo, é um dinheiro novo que entra no mercado. Para a construção civil, os R$ 600 são muito importante, mas com o melhor acesso aos créditos e financiamentos foi melhor ainda", destaca.

Gilberto diz que, na retomada, as vendas foram ampliadas em pelo menos 10%, seguindo o ritmo contrário do resto do varejo, que ainda não alcançou patamar de vendas pré-crise. No entanto, com a variação de preços, o canal digital de comunicação com os clientes vem relatando que eles estão percebendo e reclamando.

"Os insumos em dólar são os que estão impactando nessa conta. No caso do revendedor, não tem muito o que fazer, só repassar. Não sei até que ponto existe um aumento por aumento, mas é muito mais por um fator externo, de custo da indústria", frisa.

Não é apenas nos grandes varejos que o problema existe, nas lojas de bairro a demanda é a mesma. "Por causa da pandemia, as fábricas fecharam e a logística não funcionou. Assim aplicamos a lei da oferta e da procura", simplifica o proprietário do Comercial Monte Castelo, Raimundo Araújo. (Colaborou Thaís Mesquita)

 

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