Logo O POVO+
Número de cearenses sem emprego cresce 83,5% em quatro meses
Reportagem

Número de cearenses sem emprego cresce 83,5% em quatro meses

A desocupação atingiu 530 mil pessoas no Estado, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid-19 (Pnad covid-19) mensal. Especialistas apontam o que esperar do mercado de trabalho em 2021
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Desemprego volta a bater recorde com 14,8 milhões de desocupados (Foto: ABR)
Foto: ABR Desemprego volta a bater recorde com 14,8 milhões de desocupados

No Ceará, 530 mil pessoas ficaram sem emprego em setembro último. O número é 83,4% maior do que o observado em maio, quando eram 289 mil. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid-19 mensal, divulgada ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aumentam o temor em torno do desemprego para o fim do ano e em 2021. A avaliação é que haverá recuperação gradual e, consequentemente, o reaquecimento do mercado de trabalho.

Mas segunda onda de Covid-19 interromperia o ciclo de retomada e iniciaria novo retrocesso econômico. Na comparação com agosto, quando a população desempregada era de 443 mil, a alta foi de 19,6%.

Já o contingente fora da força de trabalho passou de 4 milhões em maio, manteve-se estável em agosto e alcançou 3,9 milhões em setembro, o que corresponde uma queda de 2,6% na margem e de 3,6% em relação a maio. O analista do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT/Sine), Erle Mesquita, explica que a reabertura das atividades facilitou a busca por vagas.

"Os trabalhadores tiveram de suspender a procura em razão do isolamento social e agora estão voltando a tentar entregar currículos, por exemplo, tanto pela necessidade do processo sazonal de fim do ano, como pela redução do auxílio emergencial e a necessidade de complementar a renda", observa. "Ou seja, a pressão da busca tende a aumentar as taxas desemprego", destaca.

Erle pondera que a crise no mercado de trabalho se arrasta há alguns anos. Nesse contexto, a pandemia agravou ainda mais essa realidade e, também, a precarização com a chamada economia de bico e o crescimento da informalidade.

"E 2021 será um ano pós-eleitoral. Embora tenha ocorrido avanços em relação à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), houve elevação de gastos e endividamento tanto dos setores públicos e privados", expõe.

Para o economista, professor da Universidade de Fortaleza (Unifor) e membro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon), Ricardo Eleutério, o País atravessou uma recessão profunda entre 2015 e 2016 e, desde então, caminha em lenta recuperação agora interrompida pela crise sanitária.

"Há uma incerteza com a retirada dos estímulos fiscais e monetárias, mas temos uma sinalização de retomada gradual. Ela deve acontecer de forma heterogênea, mais concentrada em alguns setores. A redução da taxa do desemprego vai ocorrer na medida em que a dinâmica econômica melhorar", analisa.

O doutor em Economia e analista de Políticas Públicas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), Alexsandre Cavalcante, avalia que o auxílio emergencial e o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda serviram como um colchão a amenizar os efeitos da crise.

"Na medida em que o nível de confiança por parte do empresário for retornando, os empregos virão a reboque. Podemos notar que o comércio está animado, antecipando as vendas de Natal. Esperados uma dinâmica forte", diz.

"Além do setor privado, a estimativa da Lei Orçamentária Anual (LOA) é de R$ 29, 5 bilhões para 2021. Se isso se concretizar, o Governo vai injetar na área de construção, obras metroviárias, saneamento básico e área da saúde. Esses investimentos vão contribuir para o ânimo do empresariado e gerar mais empregos", projeta.

"Esse cenário, porém, só se concretizará se houver, também, consciência por parte da sociedade e empresariado para que não ocorra uma segunda onda. Do contrário, veremos uma situação ainda pior", complementa.

 

TESTADOS

Até setembro, 21,9 milhões de pessoas (10,4% da população) haviam feito algum teste para saber se estavam infectadas pelo novo coronavírus (até agosto esse número estava em 17,9 milhões de pessoas, ou 8,5% da população). Entre essas pessoas, 22,1% (ou 4,8 milhões) testaram positivo.

O que você achou desse conteúdo?