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O novo padrão de consumo dos brasileiros
Reportagem

O novo padrão de consumo dos brasileiros

Pesquisa da Fecomércio-SP mostra que sete em cada dez brasileiros mudaram seus hábitos de consumo neste ano
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Mudanças nos hábitos de consumo dos brasileiros (Foto: Getty Images)
Foto: Getty Images Mudanças nos hábitos de consumo dos brasileiros

A pandemia trouxe uma série de restrições ao dia a dia das famílias. Mas não são apenas as políticas de isolamento que estão moldando os novos hábitos. A combinação de um mercado de trabalho mais instável, mesmo com o processo de reabertura das atividades econômicas em andamento, dólar alto e disparada nos preços dos alimentos têm provocado uma série de mudanças no padrão de consumo dos brasileiros.

Uma pesquisa nacional da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) mostra, por exemplo, que sete em cada dez brasileiros alteraram seu padrão de compras nos últimos seis meses.

Os setores mais impactados foram os de roupas e calçados (42% dos entrevistados reduziram o consumo destes itens), viagens a turismo (30%) e atividades físicas (27%). Mas chama atenção, também, o fato de 22% das pessoas terem cortado custos com bens essenciais, como alimentos e remédios. A maioria (54%) daqueles que tiraram estes gastos aponta que o fizeram porque tiveram diminuição na renda.

Foi o que ocorreu com a assistente social Isaína Macedo, de 34 anos. Ela perdeu o emprego em abril e teve de fazer uma série de ajustes no orçamento para se adequar à nova realidade.

Dentre outras medidas, cancelou a matrícula na academia, reduziu as compras, adiou viagens e passou a cozinhar mais em casa. E mesmo depois de entrar em um novo emprego, em agosto, segue com outra postura.

"A academia voltei, mas continuo restringindo muitas coisas. Estou saindo e comprando muito pouco. Antes, qualquer saída minha era R$ 100 que gastava, agora não. Meu maior gasto continua sendo com alimentação em casa, mas estou selecionando melhor o que compro para me alimentar melhor. E tudo é anotado na planilha".

Este maior rigor na forma como os gastos são feitos é uma lição que deve ficar dessa pandemia para muitos brasileiros. De acordo com a pesquisa da Fecomércio, mesmo quando a pandemia passar, 67% declararam que vão poupar mais e 63% vão controlar melhor as despesas.

"Ou seja, ao que tudo indica, há uma reeducação financeira em curso e que veio para ficar. As pessoas estão tendo de ter um olhar mais clínico sobre as suas contas", avalia o assessor econômico da Fecomércio-SP, Guilherme Dietze.

Mas isso não significa que o consumo caiu de forma generalizada. No Ceará, por exemplo, em agosto, as vendas de móveis cresceram 47,2%, em relação a igual mês do ano passado, conforme a mais recente Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O mesmo ocorreu com as vendas de materiais de construção e de equipamentos de escritório, informática e comunicação que tiveram altas expressivas de 38,9% e 31,7%, respectivamente.

Este movimento é fruto do tempo maior que as pessoas estão passando dentro de casa e da necessidade de estabelecer novas rotinas na quarentena. Da mesma forma, as pessoas passaram a comprar mais por aplicativo e pela internet.

O publicitário Gustavo Tavares, 21, é um deles. "Eu já comprava muito pela internet, mas passei a comprar mais, principalmente, comida rápida por aplicativo. Mas também comprei mais eletrônicos, como webcam, uma cadeira melhor para poder trabalhar de forma mais confortável no home office".

Também passou a investir mais em qualificação profissional. Já foram pelo menos três cursos de educação a distância adquiridos no período. "Sempre tive vontade, mas também um receio de que não fosse tão bom. Mas gostei muito e pretendo fazer mais".

O que a pandemia mudou no País

A pandemia alterou seu padrão de consumo?
Sim 72%
Não 28%

Como ficou a renda durante a pandemia?
Diminuiu 54%
Permaneceu a mesma 40%
Aumentou 7%

Onde mais cortou gastos?
Com vestuário e/ou calçados 42%
Com turismo 30%
Com atividade física 27%
Cancelei compras que faria de eletrônicos e eletrodomésticos 25%
De bens essenciais 22%

Durante a Pandemia, você aumentou a quantidade de compras através de comércio eletrônico ou aplicativos de entrega?
Sim, pouco 24%
Sim, muito 22%
Não alterei 29%
Não realizei compras por comércio eletrônico durante a Pandemia 25%

Como será seu consumo via comércio eletrônico após a pandemia?
Voltará ao patamar anterior à Pandemia 47%
Continuará mais intenso do que antes da Pandemia 22%
Será menos intenso do que antes da Pandemia 32%

Quais dessas práticas você adotou ou tornou mais frequente por conta da pandemia?
Pedir comida por serviço de delivery 56%
Educação a distância 37%
Comprar itens essenciais (alimentos e medicamentos) online 35%
Comprar eletrodomésticos e eletroeletrônicos online 25%
Saúde a distância 23%
Comprar roupas e calçados através de aplicativos 21%
Comprar itens de construção e decoração online 14%
Não adotei novos comportamentos por conta da Pandemia 19%

Quais destes comportamentos você adotou por conta da pandemia?
Passei a cozinhar mais em casa 72%
Passei a fazer compras melhores (diminui as compras desnecessárias) 52%
Passei a realizar cuidados pessoais 51%
Passei a praticar atividade física em casa 42%
Passei a trabalhar de casa 39%
Passei a estudar à distância 31%
Passei a comprar mais por impulso 12%
Nenhum 2%

Quais destes hábitos foram incorporados no seu dia a dia por conta da pandemia e que você pretende manter?
Poupar mais 67%
Controlar melhor as despesas pessoais e/ou da família 63%
Pesquisar preço antes de adquirir um produto 60%
Prestar mais atenção as promoções 59%
Reduzir consumo de água, luz, telefone e TV 49%
Comprar produtos de marcas mais baratas 42%
Gastos com lazer 27%
Nenhum 4%

Com o que pretende gastar após a pandemia?
Eletrodomésticos/eletrônicos 37%
Vestuário ou calçados 33%
Materiais de construção (consertos da casa) 21%
Turismo 21%
Investimentos 19%
Carro 19%
Pagar dívidas 17%
Móveis e decoração 16%
Bares, eventos e shows 13%
Cinema 6%
Outros 6%
Nenhum 1%

Em relação a viagens, como você se sente?
Estou ansioso(a) e em menos de seis meses devo viajar 26%
Vou demorar de seis meses a um ano para viajar 21%
Vou demorar mais de um ano para viajar 18%
Não pretendo viajar 35%
Total Geral 100%

 

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