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Orçamento familiar está pressionado em 2021
Reportagem

Orçamento familiar está pressionado em 2021

Principais altas estão relacionados às despesas com alimentação e moradia. Altas mais importantes, do índice do aluguel e água e esgoto, são bem acima da inflação
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FORTALEZA, CE, Brasil. 04.01.2021: Aumento de preços de produtos em mercantis no Ceará. (Fotos: Deisa Garcêz/Especial para O Povo) (Foto: Deisa Garcêz/Especial para O Povo)
Foto: Deisa Garcêz/Especial para O Povo FORTALEZA, CE, Brasil. 04.01.2021: Aumento de preços de produtos em mercantis no Ceará. (Fotos: Deisa Garcêz/Especial para O Povo)

A pressão sobre o orçamento familiar retomou com toda força neste início de 2021. Se no ano passado muitos reajustes foram postergados por causa do momento mais crítico da pandemia, a conta precisará ser paga neste ano novo e os reajustes já começaram a ser anunciados. Os principais, relacionados às despesas com alimentação, e moradia, são os mais preocupantes pelo peso que têm sobre a renda dos cearenses.

Uma das primeiras confirmações, ainda nos últimos dias de 2020, é que no fim de janeiro a conta de água e esgoto será reajustada em 12,25% pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). A revisão da tarifa seria oficializada em maio do ano passado, no auge da pandemia, mas foi atrasada para o início deste ano. A Cagece sustenta que a atualização é anual e representa a manutenção periódica de valores junto com variações de inflação.

Outra alta que gera preocupações em quem não tem casa própria é a do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele é a base de cálculo para diversos reajustes, o principal deles sendo o do aluguel. O aumento acumulado de 23,14% no índice pode indicar uma elevação acentuada dos valores.

No entanto, segundo Lívia Rigueiral, CEO da plataforma de soluções tecnológicas para corretores imobiliários Homer, está cada vez mais comum a renegociação de contratos em termos diferentes. Para não perder o inquilino ou enfrentar inadimplência, a base de cálculo para reajustes têm sido o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Isso aconteceu em 2020 e deve continuar como tendência. "O importante sempre será o diálogo entre o inquilino e os proprietários. Para não ficar muito difícil do cliente pagar, é preciso se renovar e readaptar", afirma.

Rodrigo Costa, vice-presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-CE), destaca que até o momento, a definição é que deva prevalecer o diálogo para que se chegue ao entendimento sobre o reajuste. O IGP-M deve servir como um teto na negociação. "Realmente é um aumento que pesa sobre uma despesa fixa como é o aluguel. Em alguns casos, estamos negociando, oferecendo um desconto de 50% no reajuste, a depender do valor de mercado do imóvel."

Outro grande e sensível peso no orçamento e que já data do ano passado é o custo da alimentação. A prévia da inflação de 2020 revela que a pressão nos preços dos alimentos segue em alta, com alta do IPCA-15 dos alimentos de 17,85% no acumulado. Podem ser considerados os principais vilões o óleo de soja, com alta de 117,89% no ano; tomate (102,32%); e arroz (84,85%).

Engel Rocha, administrador de empresas, advogado e proprietária da rede supermercadista Max Rede, diz que por enquanto ainda observamos preços inflacionados nos produtos da cesta básica. Isso é ocasionado por conta pela falta de produtos desde a pandemia, além da pressão referente ao dólar mais valorizado que o real em que os produtores preferiram vender no mercado internacional. Outro problema que afetou os preços foi que houve falta de embalagens de latas e plásticos no mercado.

"Agora, ainda estamos sofrendo com a questão das exportações e o mercado interno está ficando desabastecido. Isso faz com que os preços permaneçam com essa tendência de alta", diz Engel. Ainda ressalta que os reajustes tarifários também afetam na produção e os custos acabam sendo repassados aos consumidores.

Para o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), Raul dos Santos, vivemos um momento atípico, pois não houve controle na oferta, já que na pandemia, muitas atividades pararam, seja parcial ou totalmente. "Esse desequilíbrio justifica um pouco esse aumento de preços que estamos observando", observa.

Raul analisa que o estado de calamidade vivido em 2020 abrandou, mas que o represamento dos reajustes do ano passado devem prejudicar os consumidores agora. Ainda assim, não acredita em superinflação. "O aumento da inflação está relacionado à corrida do consumo e nem a infraestrutura, nem a indústria ou os serviços estavam preparados, mas a tendência é que seja estabilizada."

O professor da área de Finanças Pessoais e Comportamentais da Universidade Federal do Ceará (UFC), Érico Veras Marques, observa que os reajustes das diversas tarifas de serviços no início de ano, em maior parte, precisam ser absorvidos pelo consumidor.

Ele destaca que o consumidor deve traçar estratégias para gastar menos, como montar um grupo de compras para encontrar descontos na alimentação, ou no caso dos planos de saúde, buscar alternativas mais baratas, mas que podem significar uma queda no padrão de atendimento. Buscar novas fontes de receitas em horários livres é alternativa. "Resta ao consumidor a dor, de diminuir de algum lugar, quando se tem aumento de custos sem aumento de receitas."

Reajuste de 8,14% já vem sendo aplicado em planos de saúde

Anunciado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) no último trimestre de 2020, o aumento de 8,14% e a retomada da cobrança de valores suspensos durante a pandemia já foi retomada no Ceará. O servidor público federal Henrique Viana conta que paga plano para a tia, de 93 anos, e que neste mês de janeiro o valor já veio alterado, saltando de R$ 975,01 para R$ 1.072,85, alta de 10%. A beneficiária está na faixa mais alta de plano do Hapvida.

Henrique afirma que mesmo assim não pensa em deixar o serviço atualmente, considera que "vale a pena porque ela é muito bem assistida, com atendimento em casa", acrescenta.

A Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) esclarece que a suspensão de reajustes entre maio e julho foi voluntária, mas que agora a retomada da cobrança "visa proteger o conjunto de beneficiários e a continuidade do sistema suplementar de saúde ainda em plena pandemia".

Para diminuir o impacto, os reajustes suspensos em 2020, que são referentes ao ano de 2019, serão diluídos em 12 meses. Procurado, o Hapvida afirmou que segue o posicionamento da Abramge. Já a Unimed Fortaleza informou que na mensalidade de janeiro, os clientes perceberão o reajuste de 8,14%, que foi autorizado pela ANS. Já o retroativo dos valores da recomposição do reajuste anual e de faixa etária suspensos em decorrência da pandemia do Covid-19, a Unimed deliberou cobrar somente a partir de março, dividindo o valor em 12 parcelas iguais e sucessivas.

O reajuste de 2021 ainda deve ser anunciado pela ANS, mas já existe expectativa de aumento maior. Técnicos da Fundação Getúlio Vargas preveem alta entre 20% e 25%, somando o aumento retroativo e o que vai vigorar neste ano. Por isso, a Comissão de Direito do Consumidor da Ordem dos Advogados do Brasil Secção Ceará (OAB-CE) já está atenta para prevenir possíveis abusos.

O presidente da comissão, Thiago Fujita, diz que essa é uma situação problemática e que exige muita atenção, pois os cálculos não podem penalizar o consumidor, já que os gastos das operadoras em 2020 estavam muito ligados aos atendimentos de urgência da pandemia, mas outros serviços eletivos foram bem menos demandados.

"É um estudo muito criterioso, estamos analisando com advogados especialistas no setor de saúde, para verificar as medidas que podem ser tomadas", diz.

Ainda em 2020, a ANS definiu que o percentual máximo de reajuste dos planos individuais ou familiares contratados a partir de janeiro de 1999 ou adaptados à Lei nº 9.656/98 ficou estabelecido em 8,14%. O índice é válido para o período de maio de 2020 a abril de 2021.

Já a suspensão foi aplicada ao reajuste por variação de custos (reajuste anual) e à variação do preço por mudança de faixa etária ocorridos em 2020 em planos de saúde de assistência médico-hospitalar. 

 

Reajustes em contas

O QUE JÁ ESTÁ MAIS CARO EM 2021

Planos de saúde

Ainda em 2020, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) definiu que o percentual máximo de reajuste dos planos individuais ou familiares contratados a partir de janeiro de 1999 ou adaptados à Lei nº 9.656/98 ficou estabelecido em 8,14%. O índice é válido para o período de maio de 2020 a abril de 2021, com a cobrança sendo iniciada a partir de janeiro de 2021, juntamente com a recomposição dos reajustes suspensos.Para o reajuste de 2021, que ainda deve ser anunciado oficialmente pela ANS, existe expectativa de aumento ainda maior. Técnicos da Fundação Getulio Vargas preveem alta entre 20% e 25%, somando o aumento retroativo e o que vai vigorar neste ano.

Conta de água

A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) informou que as contas de água e esgoto dos cearenses terão reajuste de 12,25% na tarifa média a partir de 29 de janeiro. O valor de consumo por metro cúbico (m³) passa de R$ 4,11 para R$ 4,61. De acordo com a Cagece, o reajuste estava previsto para maio de 2020, mas foi adiado por conta da pandemia de Covid-19. A Companhia explica que a atualização é anual e representa a manutenção periódica de valores junto com variações de inflação. A nova taxa foi aprovada pela Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará (Arce).

Gasolina

A Petrobras anunciou aumento de 5%, ou R$ 0,09 a mais por litro a partir do último dia 29 de dezembro de 2020. O preço médio repassado pela empresa petrolífera é de R$ 1,84 por litro. Em Fortaleza, os condutores podem encontrar o litro do combustível entre R$ 4,57 e R$ 4.79.

Alimentos

Até novembro, o acumulado do aumento dos alimentos no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) bateu alta de 15%. Já na prévia da inflação de dezembro, essa pressão nos preços aumentou para 17,85% no acumulado. Podem ser considerados os principais vilões: óleo de soja, com alta de 117,89% no ano; tomate (102,32%); e arroz (84,85%).

Gás de cozinha

O Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), o gás de cozinha, sofreu aumento de valor faltando menos de um mês para o final de 2020. A Petrobras informou que o GLP teve aumento de 5% no preço médio em 3 de dezembro de 2020. O preço médio de venda da petroleira para as distribuidoras é de R$ 33,89 por botijão de 13 kg. O preço corresponde a cerca de 46% do valor médio que o consumidor final paga. Em Fortaleza, o gás de cozinha pode ser encontrado entre R$ 85 e R$ 90.

Gás encanado

O serviço de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) encanado, mais comum em prédios e condomínios, também teve seu reajuste autorizado ao fim de 2020 e passa a vigorar no fim de janeiro. A revisão ordinária da margem bruta de distribuição de gás canalizado no Ceará, referente ao contrato de concessão da Cegás com o Estado, prevê que a tarifa passe a ser de R$ 0,5191 por metro cúbico. No reajuste do ano passado, o valor do metro cúbico foi de R$ 0,2875.

Aluguel

Os contratos de aluguéis para 2021 podem ter aumento de até 23,14%, conforme aponta o Índice Geral de Preços – Mercado, medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O indicador é um dos principais para reajustes contratuais por ser divulgado ainda durante os meses de referência. A previsão do fator de atualização para cálculo dos meses de janeiro e fevereiro de 2021 é de 1,2452 e 1,2314, respectivamente. Para atualizar um aluguel de R$ 1.500 que vigorou até dezembro de 2020 realiza-se a multiplicação de R$ 1.500 por 1,2314, que resultará em R$ 1.847,10 a ser pago no final do mês de janeiro ou início de fevereiro de 2021.

Transporte rodoviário

O transporte rodoviário intermunicipal teve tarifas reajustadas para 2021 e passam a valer ao fim de janeiro. Para o serviço metropolitano regular, a alta será de 3,99%.


O QUE FICA MAIS BARATO OU SEGUE A INFLAÇÃO EM 2021

Transporte interurbano regular

No caso dos interurbanos regular e regular complementar, há revisão de queda para 2021: ambos com redução de 0,18% em suas respectivas tarifas.

IPVA

O IPVA pago pelos cidadãos cearenses terá uma redução média de 4,95% em 2021. A novidade foi anunciada pela Secretaria da Fazenda do Ceará (Sefaz) no dia 29 de dezembro de 2020. Além da redução média, quem pagar o imposto em cota única, em 29 de janeiro, terá desconto de 5% no valor cobrado. As alíquotas do IPVA variam de 2% a 3,5% sobre o valor venal dos automóveis. No caso de motocicletas, motonetas, ciclomotores e triciclos até 125 cilindradas (com infração de trânsito) os percentuais oscilam entre 1% e 3,5%. Já a categoria dos ônibus, micro-ônibus, caminhões e veículos de locadoras possuem alíquota de 1% e os veículos elétricos, de 0,50%.

IPTU

Historicamente, o imposto municipal sobre a propriedade de imóveis segue o ritmo da inflação do ano anterior.


OUTRAS CONTAS QUE AINDA PASSARÃO POR REAJUSTE

Conta de luz

Em 22 de abril inicia-se processo de revisão tarifária de energia elétrica no Ceará. O processo será conduzido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em janeiro, as contas de luz estão mais baratas. A bandeira amarela foi acionada e as contas terão custo adicional de R$ 1,343 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. As bandeiras tarifárias foram criadas em 2015 para sinalizar aos consumidores os custos de cobrança extra nas contas de luz. As cores e modalidades verde, amarela ou vermelha indicam quando o consumidor irá pagar a mais por cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.

Ônibus em Fortaleza

A Etufor e a Prefeitura ainda não anunciaram a finalização das negociações sobre o reajuste das passagens de ônibus e transporte alternativo em Fortaleza.

 

DICAS DE COMO SE PLANEJAR FINANCEIRAMENTE PARA OS AUMENTOS

• Análise dos recursos: o valor do salário de janeiro e do restante do seu 13° salário são suficientes para pagar todas as dívidas? Se não, faça um planejamento mínimo. Não decida o que fazer por impulso..

• Negociação sempre: não pague as dívidas sem acordo, é muito conveniente para os bancos destinar o pagamento de dívidas sem precisar revisar a correção dos juros. Na renegociação, avalie se vale a pena dar uma parte do 13° salário como entrada e parcele o saldo de acordo com a sua capacidade mensal de pagamentos e evite o parcelamento muito longo. Tanto para renegociar como para quitar, solicite um desconto. Caso precise de um empréstimo para quitar uma dívida com juros mais desfavoráveis (como o cartão de crédito), é importante saber que um crédito novo deve ser utilizado para quitar os anteriores e concentrar toda dívida para um só credor.

• Organização para pagar as contas: ainda não é possível saber quando haverá uma vacina contra o coronavírus, mas com certeza as contas de IPTU, IPVA, lista de materiais escolares e matrículas chegarão na casa do contribuinte. É provável que ainda por conta da pandemia, os materiais e a matrícula tenham alguma adequação em função do distanciamento social, mas eles terão um custo. Então reserve uma parcela ou defina o que for mais estratégico conforme sua necessidade. Se for necessário solicitar um empréstimo. É preciso estar com o orçamento minimamente organizado, ou seja, saber o quanto está sendo gasto e de que maneira.

• Se possível, reserve: se o objetivo for guardar parte dos recursos do fim de 2020, como o 13° salário, busque as opções de investimentos mais adequadas a cada realidade. Se for um iniciante, busque ativos conservadores e informe-se previamente. É importante criar uma reserva emergencial de recursos.

• Programe como fará o pagamento: ao tomar crédito, é essencial que já se tenha em mente como ele será pago, ou pelo menos como ele pode ser quitado. Assim, é possível definir tanto o número quanto o valor das parcelas, assim como a data de vencimento delas, evitando a incidência de mais juros.

Fonte: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) / SuperSim

AJUDA PARA ORGANIZAR FINANÇAS

GUIA BOLSO

Disponível nas plataformas Android e iOS, o app é um dos mais utilizados no País para controle de gastos. Contabiliza mais de 5 milhões de usuários. O principal diferencial é que, além da interface leve e simples, pode ser conectado diretamente a contas bancárias. Assim, sempre que se usar algum cartão de crédito ou se fizer movimentações, o app é atualizado. Ele também mostra o fluxo de caixa, analisa CPF e informa como avaliação de crédito.

MOBILLS

Disponível nas plataformas Android, iOS e Desktop. Teve mais de 5 milhões de downloads e permite controle de gastos diários e finanças pessoais através de gráficos. Também pode acompanhar metas e orçamento de maneira simples.

Fonte: Blog.Rico

 

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