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Com 2ª onda, janeiro pode ser pior mês da pandemia no Brasil
Reportagem

Com 2ª onda, janeiro pode ser pior mês da pandemia no Brasil

Com mais de mil novos óbitos por Covid-19 pelo segundo dia, Brasil soma 200.498 mortes. Segunda onda é considerada mais aguda e, após aglomerações no final do ano, janeiro pode ser o pior mês da doença
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CEMITÉRIO Parque Bom Jardim, em Fortaleza, em registro de maio, quando a epidemia chegava ao ápice no Ceará   (Foto: Jarbas OLIVEIRA / AFP)
Foto: Jarbas OLIVEIRA / AFP CEMITÉRIO Parque Bom Jardim, em Fortaleza, em registro de maio, quando a epidemia chegava ao ápice no Ceará

A cada dia sem distanciamento social e sem vacinação, o Brasil dá mais um passo em direção a um cenário que pode ser do pior mês da pandemia até agora. O custo de uma condução nacional desastrosa e da falta de atenção às medidas para evitar o contágio foi a morte de mais de 200 mil pessoas. No curso de uma segunda onda que está evoluindo mais rapidamente, a situação deve se agravar na segunda quinzena de janeiro, com as consequências das aglomerações em festas de Natal e Ano Novo. Conforme especialistas, estados e municípios devem tomar medidas de isolamento rígido para evitar novo colapso do sistema de saúde.

Segundo o Ministério da Saúde (MS), até ontem, 7, às 19 horas, o Brasil somou 200.498 mortes pela Covid-19. Foram registrados 7.961.673 casos confirmados da infecção. Nas últimas 24 horas, foram 87.843 novos casos e 1.524 óbitos em decorrência da doença. O número total de mortos dobrou em cinco meses.

De acordo com o professor Domingos Alves, responsável pelo Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Covid-19 Brasil, a chance de ver os sistemas de saúde de vários estados e capitais entrarem em colapso antes do iniciar o processo de vacinação é muito grande.

"Hoje, nós temos pelos menos 10 estados com média móvel de casos por dia maior do que em toda a pandemia. Estamos em uma segunda onda intensa. Devemos acelerar na ida para os 300 mil mais rápido do que aceleramos dos 100 mil para os 200 mil", projeta o físico, que pesquisa modelagem computacional e sistemas de informação em saúde.

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Para ele, é urgente que locais com aumento de indicadores adotem lockdown novamente, a exemplo da Inglaterra e outros países europeus, que também enfrentam segunda onda da pandemia. "Em nenhuma previsão minha, eu conseguiria prever isso. Pensei que íamos chegar a mil óbitos por dia novamente no final de janeiro. Até eu, que sou muito crítico, comecei a ficar assustado. Meus modelos não estão sendo páreos para a realidade. Vamos ter um janeiro muito preocupante", alerta.

Na avaliação do médico sanitarista Walter Cintra, professor de Gestão de Serviços de Saúde da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP), considerando as aglomerações durante as festas de final de ano, o cenário para a segunda quinzena de janeiro é preocupante.

"Teremos pico de novos casos e óbitos. Independentemente da vacina. A imunização vai ser gradativa e nós vamos ter que continuar mantendo as medidas de afastamento social. A vacinação não autoriza de maneira nenhuma a relaxar de imediato as medidas de precaução", frisa. Ele destaca que as medidas a serem tomadas para evitar a infecção não mudaram. "Nós não tomamos as ações que deveriam ter sido tomadas e, não por outra razão, somos o país em pior condição. Exatamente onde a condução do governo central foi a mais irresponsável", avalia. Segundo ele, "janeiro pode ser o pior mês, com certeza".

"Temos que ter paciência e manter o isolamento social. Mesmo com a vacina, ainda temos que tomar cuidados por um bom tempo até que possa ter uma efetividade da imunidade coletiva. Certamente, esse ano de 2021 vai ser mais ou menos parecido com o de 2020 com relação aos cuidados. A situação deve amenizar no segundo semestre", prospecta.

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info cotidiano covid 200 mil mortos brasil
info cotidiano covid 200 mil mortos brasil (Foto: lfcorullon)

 

Ministério da Saúde tem cinco dias para informar STF sobre insumos

O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu prazo de cinco dias para o Ministério da Saúde (MS) prestar informações sobre o estoque de seringas e agulhas da União e dos estados para a vacinação contra a Covid-19, ao menos para grupos prioritários previstos.

O processo, do partido Rede Sustentabilidade, solicita que, caso não haja reserva suficiente de insumos, o governo apresente planejamento de novas aquisições para as primeiras fases da imunização em 48 horas.

Segundo o Ministério, o País tem cerca de 80 milhões de seringas e agulhas disponíveis, e a Organização Panamericana de Saúde (OPAS) garantiu reforço de 8 milhões de unidades do final de janeiro até início de fevereiro. Ao todo, serão 40 milhões. Outras 30 milhões de unidades ainda foram requisitadas pelo MS à Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (ABIMO).

"O SUS (Sistema Único de Saúde) é tripartite. Tem as ações do Ministério, com o Governo Federal, as dos estados e as dos municípios. A execução delas, inclusive insumos, é dos estados e municípios. Por que estamos comprando? Para não deixar faltar, como faltaram medicamentos de intubação", afirmou o ministro Eduardo Pazuello em coletiva de imprensa ontem, 7. (Com Agencia Brasil)

Butantã diz que Coronavac tem 78% de eficácia

Após quatro adiamentos, o governo de São Paulo divulgou ontem, 7, que a Coronavac, vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e o Instituto Butantã, tem 78% de eficácia contra casos leves de covid, incluindo os de tratamento ambulatorial.

A gestão João Doria (PSDB) também informou que o imunizante apresentou 100% de eficácia na prevenção de casos graves, moderados ou que necessitassem de internação hospitalar. Isto é, nenhum voluntário vacinado precisou ser hospitalizado por causa da Covid-19.

O Estado tem 10,8 milhões de doses do imunizante e aguarda a chegada de outras 35 milhões até a primeira quinzena de fevereiro. A primeira fase do Plano Estadual de Imunização ocorrerá de 25 de janeiro a 28 de março, focada em 9 milhões de pessoas - profissionais de saúde, idosos e indígenas.

Os testes clínicos da Coronavac no Brasil foram realizados com a participação de 12.476 voluntários, todos profissionais de saúde, em 16 centros de pesquisa no País. De acordo com Dimas Covas, diretor do Butantã, foram registrados 218 casos de Covid entre os voluntários, dos quais cerca de 160 ocorreram no grupo que recebeu placebo e pouco menos de 60, entre os vacinados. Considerando esses dados, o índice bruto de eficácia seria de 63%. A diferença deste dado para os 78% apresentados não foi explicada pelo Butantã, mas o órgão ressaltou que "o estudo é complexo". (Agência Estado)

Vacinação pode começar em 20 de janeiro com 8 milhões de doses

Na "melhor hipótese", a campanha de vacinação contra a Covid-19, no Brasil, pode ter início no dia 20 de janeiro, com estoque de 8 milhões de doses. A afirmação foi feita pelo secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, na tarde de ontem, 7, durante coletiva de imprensa. Serão 2 milhões de doses da vacina da Universidade de Oxford/AstraZeneca importadas da Índia e outras 6 milhões da Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan com a chinesa Sinovac, caso ambas as vacinas recebam autorização para uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Ainda na coletiva, realizada no Palácio do Planalto e transmitida nas redes sociais do Ministério da Saúde (MS), foi anunciada a assinatura de contrato com o Instituto Butantan para adquirir até 100 milhões de doses da Coronavac para 2021. Pela falta de orçamento para comercializar todas as doses, o contrato trata da aquisição inicial de 46 milhões de unidades e prevê a possibilidade de posterior renovação para compra das outras 54 milhões. Na manhã de ontem, 7, o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), anunciou, também em coletiva de imprensa, que a Coronavac teve eficácia de 78% nos estudos finais realizados no País.

Ao lado de secretários do Ministério e com críticas à imprensa, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que a aquisição foi possível graças à Medida Provisória (MP) 1.026/21, editada na última quarta-feira, 6, pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O texto dispõe sobre medidas excepcionais relativas à vacinação. Ele permite, por exemplo, a compra de insumos e vacinas em fase de desenvolvimento e antes do registro ou da autorização de uso emergencial concedida pela Anvisa.

"Menos de 24 horas depois da Medida Provisória, nós assinamos o contrato para a entrega das primeiras 46 milhões de doses até abril e de mais 54 milhões de doses no decorrer do ano, indo a 100 milhões de doses. No caso da vacina do Butantan, são duas doses por pessoa. Com duas doses, no tempo correto, a eficácia chega a 78%", afirmou o general.

Há possibilidades para o início da vacinação no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Na "melhor hipótese", o início será até 20 de janeiro. Na "hipótese intermediária", entre 20 de janeiro e dez de fevereiro. Já na possibilidade mais tardia, a população começará a ser vacinada entre o dia 10 de fevereiro e o início do mês de março.

Pazuello informou, ainda, que o Brasil conta, atualmente, com 354 milhões de doses de imunizantes asseguradas para 2021. Entram na conta 2 milhões de doses da AstraZeneca importadas da índia pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); 100,4 milhões da Fiocruz/AstraZeneca até julho — produção nacional com Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) importado —; 110 milhões da Fiocruz/AstraZeneca — produção integralmente nacional de agosto a dezembro —; 100 milhões de doses do Instituto Butantan/Sinovac e 42,5 milhões por parte do consórcio Covax Facility, iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em nota publicada após a segunda reunião do dia com o Instituto Butantan, a Anvisa afirmou que o Instituto não oficializou a submissão de uso emergencial. "A reunião de pré submissão é feita, a critério da empresa/instituição antes do envio de pedido formal de registro ou de autorização para uso emergencial", informa. Ao lado do governador João Dória (PSDB), o presidente do Instituto, Dimas Covas, havia afirmado na coletiva que a submissão poderia ser realizada ainda ontem ou nesta sexta-feira, 8.

Também nesta quinta-feira, a Fiocruz, a Anvisa e a AstraZeneca realizaram nova reunião de pré-submissão do pedido de uso emergencial das 2 milhões de doses prontas que serão importadas da Índia. No encontro, os documentos necessários — como o processo de produção da vacina pelo indiano Instituto Serum — foram apresentados à Agência. A Fiocruz afirmou que mantém a intenção de submeter o pedido até hoje, 8.

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