Pegando o País de surpresa, anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Lava Jato provocou ontem nova virada de mesa no cenário político brasileiro. Com o retorno do petista ao jogo eleitoral, o clima geral é de "estaca zero" nas articulações para a eleição de 2022, com promessa de acirramento ainda maior da polarização entre Lula e Jair Bolsonaro.
Até a noite de segunda-feira, o ex-presidente ainda não havia se manifestado sobre o caráter político da decisão, se limitando a uma nota técnica de sua defesa na Justiça. Até ontem pré-candidato do PT para 2022, Fernando Haddad (PT) afirmou, no entanto, que a decisão de Fachin faz com que nova candidatura do ex-presidente seja "decorrência natural".
Por justiça, a luta sempre vale. Sem ela, não há paz.
— Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) March 8, 2021
"Todas as vezes que falei do assunto fiz a ressalva sobre a precedência de Lula, que sempre apoiei (...) a Justiça é um fato a celebrar", disse ao jornal Folha de S.Paulo. Presidente nacional do PT, a deputada Gleisi Hoffmann elogiou a decisão, mas afirmou "lamentar" que ela tenha demorado cinco anos. "O processo não poderia ter impedido Lula de ser candidato".
Durante a tarde de ontem, diversos políticos se manifestaram sobre uma possível candidatura de Lula. Lideranças que tentam construir "terceira via" fora do petismo e do bolsonarismo, como o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), falaram da possibilidade de polarização ainda mais acirrada entre petistas e bolsonaristas.
"Do ponto de vista político, o que cabe agora àqueles que se opõem ao PT e ao Bolsonaro é que consigam compor um projeto de centro, centro-esquerda ou centro-direita viável, que tenha chance de fazer o enfrentamento às duas posições mais fortes", disse, citando possíveis indicações de João Doria (PSDB), Luciano Huck (sem partido), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Eduardo Leite (PSDB), e dizendo que o grupo deveria se unir em um projeto único.
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Líder do Cidadania, uma das siglas que tenta costurar uma aliança entre siglas de esquerda, centro e direita em oposição a Bolsonaro, o ex-deputado Roberto Freire afirmou que a reabilitação do petista já estava no radar, mas deve causar "mais confusão" no jogo político.
Atualmente aliado do Planalto, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), surpreendeu ao publicar mensagem nas redes sociais em que indica não se opor à anulação dos processos de Lula. "Minha maior dúvida é se a decisão monocrática foi para absolver Lula ou Moro. Lula pode até merecer. Moro, jamais!". Apesar da fala, Lula não foi "absolvido" por Fachin, que apenas anulou processos contra o petista.
Outro atual aliado de Bolsonaro que também já apoiou governos do PT, o presidente do Republicanos e liderança da Igreja Universal, Marcos Pereira (SP), também começou a tratar Lula como presidenciável em 2022. "Ele é um candidato forte", disse ao Estadão.
Nome da "terceira via", o apresentador Luciano Huck disparou indireta a Lula. "É respeitar a decisão do STF e refletir com equilíbrio sobre o momento que vem pela frente. Mas uma coisa é fato: figurinha repetida não completa álbum".