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‘Novo pré-sal’: estudos apontam existência de campos de petróleo no Ceará
Reportagem

‘Novo pré-sal’: estudos apontam existência de campos de petróleo no Ceará

| Extração | Áreas seriam em alto-mar, a cerca de 300 km da costa e com mais de 4 mil metros de profundidade
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ÁREA vai do Amapá até o Rio Grande do Norte (Foto: AURELIO ALVES)
Foto: AURELIO ALVES ÁREA vai do Amapá até o Rio Grande do Norte

O Ceará deve contar com parte de novos campos de petróleo em alto-mar, segundo o estudo “Novo pré-sal no arco norte do território brasileiro”. A análise conduzida por profissionais do Maranhão avaliou dez, de cem pontos de possível exploração identificados a partir de estudos sísmicos, e sinaliza uma reserva de aproximadamente 30 bilhões de barris de petróleo. Com a exploração, a promessa é desenvolvimento socioeconômico a partir da chegada de multinacionais do setor e da divisão dos royalties de petróleo entre municípios, Estado e União.

Margem equatorial brasileira
Margem equatorial brasileira (Foto: Margem equatorial brasileira)

“A primeira gota de óleo demora, até porque ela é intensiva. Financeiramente, estamos falando de milhões ou bilhões de dólares facilmente. Para se ter uma ideia, uma plataforma marítima tem estimativa de US$ 1 milhão gastos em manutenção a cada 24 horas”, estima Allan Kardec Duailibe, professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e um dos autores do estudo.

Ele projeta para os estados nordestinos da chamada costa equatorial uma realidade semelhante a do Rio de Janeiro, que teve repasses de R$ 3 bilhões em 2019 vindos dos royalties de petróleo extraídos da costa marítima. Mas a referência ao “pré-sal é uma analogia para as pessoas entenderem melhor”, explica Duailibe. Ele, juntamente com o biólogo Pedro Victor Zalán e o professor da Escola Superior de Guerra Ronaldo Gomes Carmona, analisou e observou que não há camada de sal antes das reservas de petróleo da área que vai desde a foz do Rio Amazonas até o Rio Grande do Norte.

Além disso, enquanto a lâmina d’água do pré-Sal atinge apenas 2,5 mil metros de extensão com mais cerca de 2 mil metros de sal, a da costa equatorial é de aproximadamente 4 mil metros apenas de água. A característica deve tornar a extração mais barata para as empresas, que já foram informadas da nova possibilidade e pretendem participar da exploração. O índice de sucesso é de 45%, segundo o estudo.

“Fui com o professor Carmona ao Rio de Janeiro recentemente e conversamos com a Abespetro (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo) e eles ficaram muitíssimo interessados nessa exploração aqui. Então, nós estamos falando que certamente os grandes players do setor vêm para cá. O que precisa é uma segurança jurídica de que pode ser feita a exploração. Por isso estamos ofertando a parte científica para que o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais) possa autorizar exploração no litoral equatorial do Brasil. Disponibilizamos nosso pessoal de biológica, oceanografia... Tem muita gente boa aqui, no Pará, e certamente no Ceará, ao se agregar, também terá”, conta o professor da UFMA.

Ele explica que petroleiras já exploravam áreas de formação geológica semelhante à costa do Pará, Maranhão e Ceará nos países vizinhos da Guiana, Guiana Francesa e Suriname. “Este último, por exemplo, foi um dos poucos países do planeta que teve superávit mesmo com a pandemia. Justamente por conta do petróleo”, ressalta.

Ao observar características geológicas semelhantes na costa equatorial brasileira, foi feito um estudo com uma sonda sísmica pela qual foram detectados possíveis campos de exploração.

Para dar seguimento nos planos, cuja articulação já conta com a UFMA e a Federação das Indústrias do Estado do Maranhão (Fiema), o professor e seus colegas precisam da autorização da ANP. A inclusão dos novos campos no próximo leilão de exploração -  17ª Rodada de Licitações de Blocos para Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural, sob o regime de concessão, com leilão previsto para outubro de 2021 - foi até feita, segundo ele, mas, depois de o Ibama pedir mais tempo para estudos, foi retirada. Agora, Duailibe reúne especialistas para oferecer estudos técnicos necessários para o início da perfuração.

“O próximo passo é colocar para as empresas comprarem aquela área para exploração. Ou seja, vai ter que furar. Assim, verificam se os locais que a gente suspeita que tenham óleo, realmente tenham”, reforça, estimando um prazo de cinco a oito anos desde a fase de pesquisas até o início da exploração, mas que já articula toda a cadeia produtiva e começa a gerar as riquezas necessárias.

"A oportunidade do Brasil é agora. Há um debate sobre novas fontes de energia. Ou o Brasil entra agora, ou não entra nunca mais", alerta.

Bruno Iughetti
Bruno Iughetti

Estudo é bastante promissor para o Ceará

Eu acho o estudo bastante promissor, mas é prematuro estimarmos uma produção como foi anunciada. A notícias é alvissareira, faz sentido, realmente esses estudo geológicos levam a essas conclusões e é extremamente benéfico, porque é uma área pouco explorada. Nós quase que não falamos dessa dessa região com tanto potencial, como tá sendo anunciada. Evidentemente, os estudos precisam chegar a um denominador comum e passar a exploração. E aí, sim, nós vamos ter uma certeza de quanto a estimativa de petróleo deste "novo pré-Sal". As condições geológicas observadas até agora são excepcionais. O que nos enchem de boas expectativas para o momento em que fizerem a devida exploração da área.

E os tempos são outros. No pré-sal, praticamente, a Petrobras capitaneou a exploração. Eu acho que essa nova área estará aberta aos grandes players, a exemplo do que já existe nas guianas. A Exxon Mobil praticamente domina a produção na Guiana. Isso incentiva para que ela possa participar dessa nova rodada de negociação na costa equatorial. Eu acredito que vão entrar muitos players internacionais, além, obviamente, da própria Petrobras. Embora, a companhia esteja participando dos blocos mais atrativos porque está em um programa de desinvestimento.

Agora, pra nós aqui do Ceará, confirmando-se a jazida que eles já estão mencionando de 30 bilhões de barris petróleo, vai depender se abrangerá a nossa costa também. Imaginando-se que sim, para nós vai ser um resultado fantástico, porque nós vamos passar de importadores de petróleo para exportadores. Ou seja, para o Ceará seria realmente excepcional os resultados. Traria maior renda e os royalties, a exemplo do fenômeno que aconteceu no bloco do Rio de Janeiro. Aquelas cidades se desenvolveram o dia para a noite com chegada da exploração de petróleo. O mesmo fenômeno ocorrerá pra nós aqui a confirmar essa exploração. E para o Estado do Ceará traz resultados estupendos porque a nossa produção de petróleo, hoje, é pífia. Tanto é que a Petrobras está abrindo mão dos campos da Fazenda Belém e Icapuí.

Bruno Iughetti

Consultor na área de petróleo e gás

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