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Terceira onda de Covid é provável, mas ações podem amenizar novo pico
Reportagem

Terceira onda de Covid é provável, mas ações podem amenizar novo pico

|DINÂMICA DA PANDEMIA| O POVO conversou com especialistas sobre o cenário epidemiológico no Brasil e no Ceará. Momento atual é de queda lenta no Estado; medidas do Governo e cuidados da população devem ser mantidos
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No fim de abril, quando o Estado passou por desabastecimento da CoronaVac, multidão buscou locais de vacinação em Fortaleza para receber segunda dose. (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita No fim de abril, quando o Estado passou por desabastecimento da CoronaVac, multidão buscou locais de vacinação em Fortaleza para receber segunda dose.

O Ceará pode enfrentar uma terceira onda da Covid-19 a partir do próximo mês. Segundo projeções do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME, na sigla em inglês) da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, o Estado terá um novo pico óbitos no dia 25 de junho caso o pior cenário aconteça — as pessoas vacinadas deixem de usar máscaras e abandonem o isolamento social.

“Sem dúvida nenhuma [uma terceira onda] está no nosso horizonte. Porque o vírus continua presente e, mais do que isso, os números de novos casos seguem muito elevados.” É o que afirma Marcelo Gomes, pesquisador da Fiocruz e coordenador do InfoGripe, que acompanha casos registrados de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Brasil. Atualmente, o Ceará tem cerca de 15 casos semanais de SRAG a cada 100 mil habitantes. Em períodos anteriores à Covid-19, esse número sequer chegava a um caso por semana.

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Denominação genérica para quadros respiratórios graves que incluem febre, tosse ou dor de garganta e dificuldade de respirar, a SRAG pode ser um indicador da pandemia. O elevado patamar de casos vem após um movimento dinâmico da Covid-19 em meio a ampliação de leitos, chegada de variante mais contagiosa, lockdown de quase um mês e campanha de vacinação claudicante. Depois de crescimento acentuado desde dezembro, o Estado atingiu um pico ao final de fevereiro. Um declive leve em março, volta a subir em abril e agora está em queda lenta - a qual pode se manter em um patamar três vezes superior ao menor de 2020, entre outubro e novembro.

“Desde o ano passado a gente alerta para a possibilidade de a Covid-19 passar a ser endêmica com surtos epidêmicos em intervalos. É um processo muito complexo, uma doença de fácil transmissão e vem mostrando variantes”, aponta a epidemiologista Lígia Kerr. Para ela, o movimento de ondas subsequentes é "bastante possível” pelos próximos anos. "Isso porque a vacinação, como está sendo feita, dificilmente será capaz de conter um grande aumento nos casos e óbitos", explica.

Até o dia sexta-feira passada, 21/5, de acordo com a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), mais de 2,5 milhões de cearenses haviam recebido alguma dose contra a doença. Destes, 942.322 pessoas completaram o esquema vacinal, o que equivale a apenas 10% da população do Estado. 

Conforme explicam Rafael Lopes e Leonardo Bastos, membros do Observatório Covid-19 BR, o sobe e desce das curvas de casos e óbitos é sempre um reflexo das atitudes tomadas (ou não) para conter infecções. ”Se a nossa política continuar a ser abrir e fechar atividades baseando-se em ter ou não vagas de internação para todos os casos graves, veremos esse ciclo se repetir diversas vezes”.

“Enquanto tivermos circulação do vírus e se há pessoas interagindo de forma que possibilite contágio, haverá em algum momento mais casos e, posteriormente, mais óbitos. Para evitar isso, devemos entender os riscos de atividades e trabalharmos com protocolos que minimizem esses riscos”, lembra Lopes. 

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Em nota, a Sesa e Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS) afirmam monitorar em tempo real o cenário epidemiológico com objetivo de garantir a assistência ampla à população. As pastas apontam “imprevisibilidade do fim da pandemia da Covid-19 por falta de vacinação em massa”. Por isso, projetam cenários futuros “baseados em dados estatísticos e análises de especialistas, buscando antecipar decisões, planejar ações e assegurar estoques de insumos, assim como está sendo feito nos momentos mais críticos de transmissão, internação e óbitos pela doença”.

 

Os momentos da pandemia no Ceará

15 de março de 2020: registrados os três primeiros casos de infecção pelo coronavírus. Os pacientes são pessoas que viajaram para o exterior

20 de março: Sesa confirma que há transmissão comunitária do Sars-Cov-2. A população cearense já transmite a doença dentro do próprio Estado

26 de março: é registrada a primeira morte por Covid-19 no Ceará. A vítima foi José Maria Dutra, de 72 anos

8 de maio: Fortaleza se torna a 3ª capital brasileira a adotar o lockdown. Todas as atividades não essenciais são suspensas e há controle nas entradas e saídas do Município. No decorrer do mês, restrições rígidas são recomendadas a cidades do Interior

11 de maio: fica marcado como a data em que mais pessoas morreram vítimas da Covid-19 durante a primeira onda. Foram registrados 162 óbitos

1º de junho: em meio à primeira onda, o Estado tem o maior número de novos casos confirmados em um único dia. Foram 3.524 cearenses diagnosticados com a doença

1º de junho: no mesmo dia, tem início o plano de retomada gradual da economia. O processo prevê uma fase inicial de transição, em que estão contemplados 17 setores, e mais quatro fases

Julho: leitos de UTI para Covid-19 reduzem 33% em Fortaleza. Com redução de indicadores, leitos de UTI destinados exclusivamente à Covid-19 passam a atender outras demandas

Outubro: casos aumentam em Fortaleza, especialmente em bairros de alto IDH e entre pessoas de 20 a 49 anos. Em novembro, a situação persiste, mas com dispersão de casos em áreas periféricas - o que se repete em dezembro

Janeiro de 2021: o ano inicia com expressivo aumento no número de casos confirmados de Covid-19. O movimento passa a ser observado também na curva de óbitos

18 de janeiro: começa a vacinação contra a Covid-19, poucos minutos depois da chegada das primeiras 218 mil doses da Coronavac em Fortaleza

18 de fevereiro: Estado passa a viver sob toque de recolher a partir de 22 horas e aulas presenciais são suspensas. Na semana seguinte, a medida é antecipada para as 20h

8 de fevereiro: é confirmada a presença da variante P1 do coronavírus em três pacientes no Ceará. Menos um mês depois, a mutação E484K, associada às três atuais variantes de preocupação, é identificada em 71% dos casos estudados Fiocruz no Estado

5 de março: diante da segunda onda, é decretado novo lockdown em Fortaleza. Medida passa a ser adotada por alguns municípios do Interior

13 de março: pela primeira vez, desde o início da pandemia, o lockdown se estende simultaneamente para todo o Ceará

23 de março: é o dia em que mais cearenses morreram pelo coronavírus em 2021. Foram registrados 141 óbitos

Abril: o Ceará chega a 5.146 leitos ativos exclusivos para tratamento de pacientes infectados pelo coronavírus. O número é 74% maior que no pico da primeira onda

5 de abril: o Estado atinge o recorde de casos de Covid-19 registrados em um único dia. Foram 6.163 diagnósticos

12 de abril: inicia a reabertura das atividades econômicas que estavam restritas

24 de abril: até a data, a segunda onda da pandemia no Ceará já conta com 11,6 mil casos a mais do que a primeira. É o equivalente a um aumento de 76,4%

Maio: pandemia no Ceará está em desaceleração sustentada, mas é lenta. Casos e óbitos diminuem. As internações em UPAs caíram 37,7% na primeira quinzena. Leitos de UTI para Covid-19 beiram 90% de ocupação e taxa de positividades dos exames é próxima de 40%

17 de maio: em quatro meses de vacinação, mais de 1,5 milhão de cearenses recebeu pelo menos uma dose. Apenas 10% da população (909.659 pessoas) completou o esquema vacinal. A imunização têm garantido menos casos entre profissionais de saúde e redução da gravidade entre idosos com mais de 75 anos

As ondas da Covid-19 no mundo

Malásia: vive uma terceira onda e está em lockdown até 7 de junho

Japão: o impacto do coronavírus no Japão foi menor que em muitos outros países. Ainda assim, o país enfrentou três ondas da Covid-19 — a última, em janeiro, foi a mais grave e mortífera. Agora, os especialistas temem uma quarta onda, impulsionada por variantes mais contagiosas e em meio à vacinação lenta

Europa: o Reino Unido passou por uma terceira onda em janeiro. Em março, outros países do continente, como Alemanha, França. e Itália viram os casos e óbitos por Covid-19 aumentarem novamente

Índia: atravessa uma segunda onda devastadora superando recordes diários de casos e de óbitos. Desde 1º de maio, todos os adultos podem ser vacinados contra a Covid-19, mas vários estados passam por desabastecimento

Estados Unidos: depois de enfrentar, no início do ano, uma terceira onda substancialmente maior que as anteriores, o país teve um novo aumento de casos em abril. O recrudescimento se deu em estados que relaxaram as medidas restritivas. Com avanços da vacinação, o movimento parece não vir seguido por aumento nos óbitos

América Latina: em meio à terceira onda da pandemia e de protestos multitudinários contra o governo, a Colômbia registra recordes diários de mortes. Já a Argentina vive uma longa segunda onda e está em lockdown até 29 de maio.

Cuidados precisam ser mantidos

Conforme os especialistas, por um longo período de tempo, devemos manter as medidas contra o coronavírus, especialmente distanciamento e uso de máscaras. "Se a gente baixa a guarda, além de perder essa queda lenta, corre o risco de entrar em um platô ou até voltar a uma curva de crescimento a partir de um patamar que já é extremamente elevado", enfatiza Gomes.

Projeções para o Brasil

A projeção feita pelo IHME mostra que o Brasil pode ultrapassar 750 mil mortes ao fim de junho. No pior cenário, o País enfrentaria o pico da 3ª onda em 6 de julho, com 3.960 pessoas morrendo nesta data. Já nos cenários mais controlados, o pico seria em 5 de junho, quando 3.115 brasileiros seriam vitimados pela pandemia.

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