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Dos consórcios à Covid: Cabeto deixa Sesa após dois anos e sete meses
Reportagem

Dos consórcios à Covid: Cabeto deixa Sesa após dois anos e sete meses

| Ceará | Médico cardiologista, Cabeto deixa o Governo depois assumir a Sesa no início do segundo mandato de Camilo. Governador ainda não anunciou substituto para o ex-secretário, que deve priorizar vida acadêmica e atendimento a pacientes
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FORTALEZA,CE, BRASIL, 13.07.2021: Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Dr. Cabeto), secretário de Saúde do Estado durante coletiva para anúncio da Unidade Móvel do Centro de Testagem para Viajantes do Aeroporto de Fortaleza.   (Fotos: Fabio Lima/O POVO). (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA FORTALEZA,CE, BRASIL, 13.07.2021: Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Dr. Cabeto), secretário de Saúde do Estado durante coletiva para anúncio da Unidade Móvel do Centro de Testagem para Viajantes do Aeroporto de Fortaleza. (Fotos: Fabio Lima/O POVO).

Após mais de dois anos e meio no comando da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), o médico Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, conhecido como Cabeto, deixou ontem o posto. O anúncio foi feito pelo governador Camilo Santana (PT) pelas redes sociais.

"Comunico aos cearenses que estaremos fazendo mudanças no comando da Sesa. Dr. Cabeto, que esteve à frente da pasta nos últimos dois anos e sete meses, manifestou seu desejo de saída", informou Camilo, acrescentando agradecimento ao agora ex-secretário por "todo o trabalho e dedicação ao nosso estado, sobretudo no momento desafiador da pandemia".

"Seu empenho, juntamente com toda a equipe", continuou o petista, "fez o nosso estado avançar nas políticas de saúde pública, melhorando o acolhimento das pessoas".

Até a noite dessa terça-feira, 17, o Governo não havia divulgado nome de substituto para a Sesa. Fontes consultadas pelo O POVO asseguram que Camilo não deve fazer mudanças drásticas nas diretrizes da pasta, optando por escolha que conjugue as mesmas qualidades de Cabeto.

Como secretário, o cardiologista trabalhou principalmente em duas frentes: modernização e interiorização da saúde e adoção de critérios técnicos para ocupação de cargos nos consórcios hospitalares geridos com participação do Estado, antes de livre escolha de prefeitos e alvos de investigação tanto do Tribunal de Contas do Estado (TCE) quanto do Ministério Público no Estado (MP-CE).

Nessa disputa, Cabeto comprou brigas com gestores municipais e deputados da base governista na Assembleia Legislativa (AL-CE), onde chegaram a pedir sua "cabeça" a Camilo, que o manteve na função. O secretário venceu essa contenda, mas não sem desgaste.

Já durante a pandemia, capitaneou elaboração de protocolos sanitários de enfrentamento da doença, que registra mais de 920 mil contágios e 23 mil mortes em todo o Estado. A atuação do Ceará nesse período foi elogiada na comunidade científica. Embora não tenha ficado imune a críticas, como em um ensaio de flexibilização do isolamento social em abril do ano passado.

Conforme relatos colhidos pela reportagem, aquele foi um dos momentos de grande tensão pelo qual o então secretário passou, tendo de firmar posição pela manutenção do decreto que impunha medidas sanitárias que vinham sendo contestadas pelo empresariado. No mesmo dia em que flexibilizou decreto, o governador recuaria, restabelecendo o isolamento.

Além desse embate com prefeitos e setores influentes da economia, como comércio e indústria, houve outros choques internos. Com a área econômica do Palácio da Abolição, por exemplo, as rusgas se somaram, principalmente no processo de fixação de um piso salarial para a categoria da Saúde no âmbito de concurso, em que enfrentou resistências.

Nomeado ainda no começo da segunda gestão de Camilo como um dos nomes fortes do secretariado, Cabeto deixa a Sesa com vacinação avançada e quadro de pandemia da Covid-19 estabilizado, cenário no qual o governador vem autorizando reabertura gradual. Entre ações por implementar, há concurso previsto para preenchimento de 6 mil vagas para a Fundação Regional de Saúde (Funsaúde).

Fora da administração, o médico deve priorizar a vida acadêmica e a clínica, que nunca deixou de fato, mesmo enquanto esteve secretário. Acumula, porém, capital político, resultado das ações contra o coronavírus. Cabeto o usará?

Amigo, paciente e correligionário, Luiz Pontes, presidente estadual do PSDB, acredita que Cabeto "deixa o governo porque cumpriu sua missão".

"Ele já tinha manifestado que estava na hora de entregar e voltar a clinicar. Ele deu um jeito na Saúde. Foi pra lá com a Saúde com problema de mau desempenho. Era uma secretaria política, havia politicagem muito forte. Cabeto transformou a Saúde num exemplo, principalmente no combate à pandemia", avalia o tucano.

Pontes afirma que, apesar dessas divergências, o ex-secretário "fez uma administração técnica e sem desmerecer os políticos, aqueles que queriam fazer trabalho em prol da saúde", e que agora "vai focar nos pacientes dele".

Quando questionado se o partido deve conversar com ele sobre possível candidatura ano que vem, ressalva: "Acho que Cabeto tem sangue na veia de político".

Pelas redes, houve repercussão da saída de Cabeto. Senador pelo PSDB, Tasso Jereissati escreveu que "os cearenses testemunharam sua liderança firme e responsável no momento mais difícil da maior tragédia sanitária da história do Estado, a pandemia do Covid-19" e que "sua dedicação e competência, às vezes sacrificando sua própria saúde e de sua família, merecem de todos nós o reconhecimento".

Ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT) destacou a trajetória do ex-secretário e frisou: "Enquanto estive na Prefeitura, nossa equipe da saúde trabalhou junto e em cooperação com a equipe da saúde do Estado".

O POVO procurou o ex-prefeito para descartar rumor de que RC teria sido convidado para assumir a Sesa. Pela assessoria, a resposta foi que o pedetista estaria em São Paulo. Sobre possível convite, não houve retorno.

Acionado, o Governo do Estado informou que RC não manteve agenda com o governador nessa terça-feira. (leia mais em ÉRICO FIRMO, página 8; EDITORIAL, página 18)

 

Trajetória de Cabeto

Histórico na Sesa

Agora ex-secretário da Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, dr. Cabeto, é um dos médicos mais bem conceituados do Estado

Cabeto marcou a gestão à frente da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) em ações de combate à pandemia de Covid-19 desde 2020, tendo assumido a pasta no ano anterior

Em seu primeiro ano de gestão, estabeleceu novos critérios para preenchimento dos cargos nos consórcios de saúde no Estado, a fim de priorizar critérios técnicos na nomeação, antes de livre escolha de prefeitos. Novas regras vetavam indicações políticas nas autarquias. A decisão foi tomada pela Sesa após casos de irregularidades nos consórcios virem à tona

Ao lado do governador Camilo Santana (PT), Cabeto vinha sendo porta-voz do Governo na gerência da crise sanitária causada pela Covid-19

Desde o começo da pandemia, o Ceará foi um dos estados a adotar medidas rígidas de isolamento social, seguindo orientações científicas, incluindo dois lockdowns. A reabertura econômica gradual do Estado também foi resultado de participação ativa da Sesa

Antes de ocupar o cargo de titular da Sesa, Cabeto foi diretor do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), em Fortaleza. O médico, que pertence ao corpo docente da Universidade Federal do Ceará (UFC), foi cedido para o Palácio da Abolição

Não era a primeira vez que o médico tinha sido sondado. Cabeto já havia recusado a titularidade na gestão Camilo por pelo menos duas vezes, segundo O POVO apurou na época

Quando assumiu a pasta, o cardiologista exercia a vice-presidência do PSDB no Ceará. A secretaria estava sendo comandada por Marcos Gadelha Maia, que foi secretário-adjunto da Sesa até o fim de 2018

Cabeto é graduado em Medicina pela UFC (1990) e possui doutorado em cardiologia pela Universidade de São Paulo (2001). O médico tem experiência na área de cardiologia com ênfase nos temas: sistema nervoso autônomo, sistema cardiopulmonar e doença de Chagas

Também sob a gestão de Cabeto, o Governo passou a apostar com mais força na inovação do setor da saúde. O então secretário chegou a projetar em 2019 a intenção de, a partir dos Polos de Saúde do Porangabussu e do Eusébio, informatizar e implantar o registro eletrônico de saúde em todas as unidades de atendimento do Estado, nos quatro anos seguintes.

 

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