O janeiro chuvoso deste ano renovou mais cedo a paisagem do sertão cearense. A caatinga seca e cinza deu lugar ao verde da pastagem nativa e das árvores que integram o bioma. Além de transformar o cenário, as chuvas são motivo de esperança e de alegria para o sertanejo.
Dados da Funceme apontam chuva 95,2% acima do esperado para o primeiro mês do ano, que é considerado de pré-estação chuvosa. No Ceará, a normal climatológica para todo o período, de 98,7 milímetros (mm), já foi superada. Até esta quinta-feira, 20, o Estado acumulava 126,9 mm. O volume tende a ser ainda maior, já que ainda faltam quase duas semanas para o mês acabar.
Uma das regiões beneficiadas com as precipitações é o Centro-Sul. Em Iguatu, por exemplo, nos primeiros 20 dias deste mês já foram registrados 285 mm, 128,6% a mais do que a média histórica para o período, que é de 124,7mm.
O resultado de boas chuvas encanta o sertanejo. A caatinga refloresce com as primeiras precipitações. Córregos, riachos, rios e barragens também recebem as primeiras águas de 2022.
Na sede do distrito de José de Alencar, na zona rural de Iguatu, a barragem local está transbordando, para a alegria dos moradores. A queda d’água é atrativa até para pessoas de comunidades vizinhas.
O diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Evanilson Saraiva, pontuou que “as roças estão verdes, a terra bem molhada e acreditamos que neste ano o inverno será muito bom”.
O agrônomo, Marcos Coelho, oriundo do Recife (PE), visitou a região nesta semana e mostrou surpresa com a transformação da paisagem. “Em novembro estive aqui e estava tudo seco, mas agora surgiu um verde forte e o clima está mais ameno”.
Na região do Cariri, onde as chuvas chegam mais cedo, os agricultores já preparam a terra para o plantio de grãos. “É costume preparar a terra e fazer o cultivo de milho e feijão logo em janeiro”, disse o produtor rural Miguel Alves, que está plantando quatro hectares de grãos. “Neste ano, o inverno começou cedo e vai se estender por seis meses”, prevê o agricultor, Francisco Vítor, da localidade de Guassussê, zona rural de Orós.
Quem percorre as estradas vicinais nesta época do ano percebe o predomínio do verde no roçado. O clima é de alegria entre os produtores rurais desde o início deste ano com a chegada de fortes chuvas. A precipitação, geralmente durante a madrugada, deixa a manhã sob clima agradável.
Para o diretor regional da Empresa de Assistência Técnica Extensão Rural do Ceará (Ematerce) em Iguatu, Mauro Nogueira, “a chuva tem a força de mudar o humor do sertanejo porque o campo está verde e renova a esperança em bom inverno”.
O gado bovino criado de forma extensiva ocupa campos de pastagem e tem alimentação segura com a continuidade das chuvas a partir de fevereiro, quando começa a quadra chuvosa no Ceará.
Na pré-estação, o quadro favorável às chuvas predomina em todas as regiões do Estado, conforme números parciais da Funceme. Mesmo antes do fim do mês, as oito divisões territoriais do Ceará já ultrapassaram o volume de precipitações esperado para janeiro. (Colaborou Luciano Cesário)
Cariri
Normal climatológica: 148,3 mm
Observado: 161,3 mm
Desvio: +8,8%
Ibiapaba
Normal climatológica: 108,5 mm
Observado: 145,4 mm
Desvio: +34%
Jaguaribana
Normal climatológica: 83,6 mm
Observado: 113 mm
Desvio: + 35,1%
Litoral de Fortaleza
Normal climatológica: 97,2 mm
Observado: 162,1 mm
Desvio: +66,7%
Litoral do Pecém
Normal climatológica: 88,1 mm
Observado: 122,3 mm
Desvio: +38,8%
Litoral Norte
Normal climatológica: 111 mm
Observado: 115,9 mm
Desvio: +4,4%
Maciço do Baturité
Normal climatológica: 95,9 mm
Observado: 194 mm
Desvio: +102,3%
Sertão Central e Inhamuns
Normal climatológica: 88,1 mm
Observado: 118,3 mm
Desvio: +34,4%
Se o verde já tomou conta das paisagens, a mesma mudança de cenário não ocorre em relação à situação dos reservatórios hídricos cearenses, que permanecem à beira da escassez. Mesmo com as chuvas de janeiro, dos dez maiores açudes do Ceará, apenas dois estão com aporte acima de 50%. O Castanhão, maior barragem do Estado, enfrenta um dos quadros mais críticos, segundo dados fornecidos pelo Portal Hidrológico do Ceará, gerenciado pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh).
Castanhão (Bacia do Médio Jaguaribe)
Capacidade: 6.700 hectômetros cúbicos (hm3)
Volume: 8,51%
Orós (Bacia do Alto Jaguaribe)
Capacidade: 1.940 hectômetros cúbicos (hm3)
Volume: 22,93%
Banabuiú (Bacia do Banabuiú)
Capacidade: 1.601 hectômetros cúbicos (hm3)
Volume: 8,21%
Araras (Bacia de Acaraú)
Capacidade: 859 hectômetros cúbicos (hm3)
Volume: 64,45%
Figueiredo (Bacia do Médio Jaguaribe)
Capacidade: 509 hectômetros cúbicos (hm3)
Volume: 30,46%
Pedras Brancas (Bacia do Banabuiú)
Capacidade: 456 hectômetros cúbicos (hm3)
Volume: 2,81%
Pacoti (Bacia Metropolitana)
Capacidade: 380 hectômetros cúbicos (hm3)
Volume: 21,59%
Pentecoste (Bacia do Curu)
Capacidade: 360 hectômetros cúbicos (hm3)
Volume: 7,64%
General Sampaio (Bacia do Curu)
Capacidade: 322 hectômetros cúbicos (hm3)
Volume: 6,20%
Taquara (Bacia de Acaraú)
Capacidade: 320 hectômetros cúbicos (hm3)
Volume: 69,94%
Atualizada às 19h59 min em 21/1/2022
*Erramos: Os percentuais de recarga hídrica dos reservatórios informados na primeira versão desta matéria estavam imprecisos. Devido a um erro no manejo das estatísticas, os dados anteriormente citados faziam referência a janeiro de 2019 e não ao mesmo mês de 2022. Pelo equívoco, pedimos desculpas.