As chuvas de pré-estação registradas nos primeiros dias de 2022 no Ceará tendem a ter continuidade nos próximos três meses, conforme prognóstico meteorológico divulgado nesta quinta-feira, 20, pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). Dados indicam que, entre fevereiro e abril — três primeiros e mais importantes meses da quadra chuvosa —, o volume de precipitações no Estado tem 40% de chances de ficar acima da média histórica para o período. A possibilidade de
inverno
"O termo local é usado para expressar o período chuvoso no Estado. A rigor, fevereiro, março e abril são verão no hemisfério sul"
de seca é de 20% no intervalo.
As previsões desenham um cenário otimista para o período da quadra chuvosa. São esses os meses que costumam registrar os maiores níveis de pluviometria nos municípios cearenses. O ciclo serve como referência para os agricultores familiares definirem estratégias do manejo do solo e tempo certo para o plantio de alimentos como milho, feijão e mandioca. No ano passado, segundo números da Funceme, o Estado acumulou 438 milímetros (mm) de chuvas, índice ligeiramente inferior à normal climatológica do período, que varia entre 440 mm e 598 mm.
O prognóstico deste ano classifica as probabilidades de cenários meteorológicos do próximo trimestre em três níveis: chuvas abaixo do normal (volume inferior a 433 mm), dentro da normalidade (entre 433 e 587 mm) e acima do normal (superior a 587,1 mm). De forma isolada, o primeiro nível apresenta chances de predominância de 20%, enquanto os dois últimos têm 40% cada. As previsões para 2022 são as mais otimistas dos últimos dez anos, junto com as de 2020, quando o cenário mais positivo ia a 45% e o mediano a 35%.
Em coletiva de imprensa, o presidente da Funceme, Eduardo Martins, adiantou que no próximo mês a instituição divulgará um novo prognóstico climático para o trimestre que se estende de março a maio. Com isso, será possível acesso à previsão estendida até o último mês da quadra chuvosa. Martins ressaltou, ainda, que um novo sistema de previsão subsazonal, capaz de prever cenários de clima e tempo num intervalo de até 45 dias, está em fase final de implantação na Funceme. Atualmente, a maioria das previsões realizadas pelo órgão são válidas para o máximo de três dias.
“A nossa ideia é conseguir dar uma informação mais setorizada para a agricultura e para o setor de recursos hídricos, de modo que eles possam planejar melhor as suas ações com informações que realmente sejam mais afeitas àquele processo de decisão. É tentar entender a decisão e ver o que o nosso sistema pode prover em termos de informações para aquele tipo de decisão”, pontuou.
Ao contrário do ano passado, o prognóstico do trimestre fevereiro-abril deste ano não traz as previsões de forma regionalizada. Segundo a coordenadora de meteorologia da Funceme, Meiry Sakamoto, ainda não há dados precisos sobre as regiões do Estado que poderão acumular os maiores volumes de chuva. Por outro lado, ela observa que o cenário atual indica altas possibilidades de irregularidade espacial das precipitações. Na prática, isso significa que determinadas áreas podem concentrar níveis de pluviometria muito acima de outras.
“Nós gostaríamos de ter esse quadro mais regional, contudo as informações que temos, no momento, não são suficientes para que a gente possa dar esse indicativo com a segurança adequada. Mas, de antemão, o que já podemos dizer é que os modelos analisados indicam uma grande irregularidade espacial na distribuição dessas chuvas ao longo desses três meses. Poderemos ter regiões com mais precipitações do que outras, mas ainda não sabemos quais terão os maiores e menores volumes”, explicou Sakamoto.
A especialista ainda ressaltou que as previsões favoráveis ao registro de chuvas neste começo de ano no Ceará estão ligadas à predominância do fenômeno
La Niña
"Fenômeno natural que causa diminuição da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico Tropical Central e Oriental e favorece as chuvas no Nordeste"
, que exerce influência direta sobre os níveis de precipitações no Ceará. Caracterizado pela intensificação de ventos alísios (massas de ar quente e úmido), entre o centro e o leste do Oceano Pacífico, o sistema causa resfriamento das águas e influencia a formação de nuvens de chuva em várias partes do mundo. No Brasil, a atuação da La Niña resulta em precipitações mais volumosas no Nordeste e em parte da Amazônia.
Embora o fenômeno ainda não tenha ganhado força, o Ceará já acumula bons volumes de chuva no primeiro mês do ano. Segundo dados parciais da Funceme, nos 20 primeiros dias de janeiro, os 184 municípios cearenses registraram média de 126,9 mm de chuvas, cerca de 28% a mais do que o esperado para todo o mês (98,7 mm). No ano passado, o índice observado durante o mesmo intervalo foi de 45,9 mm.
As precipitações de pré-estação também vêm sendo antecipadas pela Funceme nos informes meteorológicos divulgados pela instituição desde o começo do ano. As previsões do órgão meteorológico coincidem com as observações feitas pelos “Profetas da Chuva”, de Quixadá, que na segunda semana do mês já haviam apontado tendência de bons volumes de chuvas no Estado até o fim da quadra chuvosa. (Colaborou Alexia Vieira)
Inverno
O que é chamado de "inverno" no serto cearense é parte do verão meteorológico no hemisfério sul. O termo é cabível, entretanto, por apresentar características climáticas condizentes com inverno