As eleições de Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Ceará (Fecomércio-CE), a serem realizadas em abril, trazem um fator inédito na história da entidade de 74 anos: dois candidatos disputam a presidência. Antes aliados, Luiz Gastão Bittencourt e Maurício Filizola inscrevem as chapas hoje, 21 de fevereiro. É o início formal da disputa por um dos braços mais fortes do empresariado cearense, que representa 34 sindicatos empresariais e movimenta uma receita anual de, pelo menos, R$ 400,96 milhões.
Os recursos correspondem ao montante destinado à manutenção das atividades do Serviço Social do Comércio (Sesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) – e não contam ainda com os recursos angariados pela própria Fecomércio via contribuição sindical e prestação de serviços aos associados que passou a oferecer desde 2000. É a partir do Sesc e do Senac que o Sistema Fecomércio demonstra o poder de alcance, levando atividades culturais, esportivas, de lazer, educacionais e ainda sociais.
Em 2021, de acordo com os respectivos portais de transparência, o Sesc contou com uma receita de R$ 292,29 milhões, enquanto o Senac somou R$ 108,67 milhões. As regras de manutenção das atividades foram instituídas em 1940, com a criação do Sistema S no Brasil. A contribuição é garantida por lei e representa 1% da folha de pagamento dos empresários, no caso do Senac, e 1,5% para o Sesc. Recursos arrecadados pelo INSS e repassado aos gestores.
Além da representatividade social, os gestores da Fecomércio garantem assento em todas as instâncias de representatividade empresarial no Ceará, desde o comércio (varejo e atacado) até os serviços, com destaque para o turismo. Controles e influências que estão em jogo no pleito aberto hoje e é disputado por adversários que já foram próximos.
Presidente e vice na última gestão, Gastão e Filizola romperam ano passado, quando o primeiro voltou da temporada em que assumiu um cargo na Confederação Nacional do Comércio (CNC), no Rio, e retomou a presidência ocupada pelo vice. As divergências na gestão a partir de tomadas de decisão de Gastão resultaram em uma carta aberta de Filizola que tornava público o racha dentro da Fecomércio Ceará.
Sem nunca ter tido uma disputa pela presidência tão aberta quanto a das eleições deste ano, a Fecomércio também não teve muitas mudanças no comando desde a fundação, em 1948. A instituição conta com apenas três presidentes ao longo de 74 anos – dois dos quais estão nos quadros de ex-dirigentes, e um é o atual líder da Federação.
Clóvis Arrais Maia – que hoje dá nome à maior comenda da Federação – fundou e liderou os comerciantes cearenses por longevos 36 anos. Ao mesmo tempo que criou a Fecomércio Ceará, também fundou o Sesc e o Senac. Foi sob o comando dele que o Sesc Iparana Hotel Ecológico, em 1954, e a sede do Senac na Avenida Tristão Gonçalves, em 1968, foram construídos.
Outro marco do fundador foi o Restaurante do Comerciário, no Centro de Fortaleza, e o início da expansão das atividades do Sistema Fecomércio para o Interior do Estado.
Já em 1984, José Leite Martins assume, sem disputa, a presidência da Fecomércio para um mandato de 14 anos. É na gestão dele que o ex-presidente é homenageado com a criação da “maior honraria do comércio”, a medalha Clóvis Arrais Maia.
Luiz Gastão Bittencourt é aclamado presidente da Fecomércio Ceará em 1998, unificando os comércios varejistas e atacadistas, e dá início a uma nova fase de expansão. O teatro Sesc Emiliano Queiroz, em 2000, o Senac Guaramiranga Hotel-Escola (hoje, unidade do IFCE), em 2003, e o teatro Patativa do Assaré, em 2008, são fundados.
Com o apoio de líderes de sindicatos patronais, que hoje dividem as forças dentro da instituição, a última gestão construiu a Fecomércio dos últimos 24 anos, inclusive com a fundação do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Ceará (IPDC).
Mas, desde a fundação, a formação da Fecomércio remonta cenários nos quais as lideranças econômicas foram reunidas para demonstrar a força que possuíam na sociedade. Em 1948, o Ceará – como todo o mundo – vivia o período pós-Segunda Guerra Mundial e teve na articulação de Clóvis Arrais Maia a formação de uma entidade representativa para o comércio varejista cearense.
O Estado, nesta época, possuía uma economia cuja principal força vinha da agropecuária e passou a migrar para a vocação atual, na qual comércio e serviços representam mais de 70% da atividade produtiva cearense. A constituição da Federação, ao mesmo tempo do Sesc e do Senac, reforçou o papel dos empresários do varejo na economia local e deram força política a eles.
Parte do Sistema S e sob a coordenação da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a Fecomércio se fez presente na realidade da população em diferentes âmbitos, como o restaurante do comerciário (até hoje em atividade no Centro de Fortaleza e levado a outras cidades), cursos de qualificação profissional, escolas de ensino fundamental e médio, além de atividades esportivas e festivais culturais.
Na pandemia, quando negócios fecharam as portas para evitar a contaminação por covid-19 e tiveram o faturamento zerado, a entidade esteve na esteira dos debates sobre o encerramento e a retomada das atividades econômicas no Estado. O momento, inclusive, teve os dois candidatos à presidência atuando em momentos distintos, mas de igual relevância.
Maurício Filizola comandou a Fecomércio em 2020 e lidou com primeiro lockdown no Ceará. Juntamente com líderes empresariais de outros setores, Filizola abriu espaço no comitê gestor da pandemia criado pelo governo do Estado e passou a negociar as demandas dos sindicatos filiados à Federação diretamente com os representantes da área de saúde.
Em maio de 2021, Gastão retorna do Rio de Janeiro e reassume a presidência da Fecomércio. Terminados os lockdowns, a temporada, então, era de retomada. Reuniões com o governo estadual, sindicatos, bancos e instituições de ensino superior marcaram o período, em ações cujo objetivo foi de fortalecer os projetos da entidade e trazer benefícios aos associados.
Quem deles for eleito deve enfrentar as incertezas que todo ano de eleição presidencial traz para a economia e atuar no fortalecimento da entidade no período no qual, enfim, espera-se que seja o do pós-pandemia.
Estrutura da Fecomércio Ceará
A instituição
A Fecomércio Ceará foi fundada em 1948 e atua em todos os 184 municípios do Estado, seja em unidades próprias ou em parcerias. Hoje, conta com 34 sindicatos de empresas filiados e uma estrutura organizacional para atender mais de 150 mil empresas.
A Federação representa um segmento da economia que, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responde por 52,9% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual, sendo 16,3% referente ao comércio e 36,6% a serviços, ocupando juntos mais de 878,5 mil postos de trabalho (dados Caged 2021).
No mesmo ano, nascem os braços sociais da Fecomércio: o Serviço Social do Comércio (Sesc) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Já em 1998 é criado o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Ceará (IPDC).
Sesc
O Sesc é uma instituição social, de caráter privado e sem fins lucrativos, mantida por empresários do comércio de bens, turismo e serviços. Entre as principais atribuições estão o planejamento e a execução de ações nas áreas de Educação, Saúde, Cultura, Lazer e Assistência, com oferta de eventos e serviços.
Sesc possui seis Unidades Operacionais: duas em Fortaleza (Unidades Centro e Unidade Fortaleza) e quatro no Interior do Estado (Crato, Juazeiro do Norte, Iguatu e Sobral). Ainda em Fortaleza, tem o Teatro Sesc Emiliano Queiroz, as Escolas Educar Sesc e os restaurantes Sesc RioMar Fortaleza e RioMar Presidente Kennedy.
Fora da Capital, possui o Sesc Iparana-Hotel Ecológico, em Caucaia, e seis centros educacionais, onde é desenvolvido o Programa Sesc Ler: Aracati, Crateús, Ibiapina, Itapipoca, Quixeramobim e São Gonçalo do Amarante.
Senac
O Senac é referência em educação profissional, em todo o País. Oferta aos trabalhadores e gestores mais de 800 cursos voltados à qualificação de mão de obra e soluções empresariais para o setor do comércio de bens, serviços e turismo. No Ceará, mais de 300 mil profissionais já foram qualificados pela instituição, nos últimos 10 anos.
Os cursos vão desde a formação básica até pós-graduação, passando por turmas de aprendizagem, de qualificação, de técnico e aperfeiçoamento. o Senac tem 13 unidades fixas, distribuídas em Fortaleza (Centro e Aldeota), Aquiraz, Cedro, Crato, Iguatu, Juazeiro do Norte, Maranguape, Sobral, Itapipoca e Quixadá.
Conta também com quatro unidades móveis – nas áreas de Turismo, Lazer e Hospitalidade; Informática; Beleza e Saúde. A instituição integra ainda a Rede Nacional Senac de Educação a Distância e vai até as empresas, criando soluções educacionais customizadas a partir de seu perfil e seus objetivos.
IPDC
Criado em 1998, o IPDC leva informações e dados estatísticos que auxiliam as ações de planejamento e desenvolvimento das empresas.
O Instituto realiza e desenvolve 12 pesquisas, sobretudo, de viés econômico, fornecendo dados referentes ao comportamento do consumidor, à situação econômica do comércio local e a tendências de mercado e de consumo dos fortalezenses.
Presidentes
Natural de Campos Sales, Clóvis Arrais Maia radicou-se em Fortaleza na década de 1930 e se destacou pela participação nas instituições representativas do comércio. Também fez parte dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac, e nacionalmente da Confederação do Comércio. Dá nome à honraria do comércio no Estado, a Medalha Clóvis Arrais Maia. Em Fortaleza, é nome de avenida.
Quando assumiu, em 1984, o assunto mais discutido era o alto número de falências e concordatas. Foi um dos entusiastas das federações varejistas e atacadistas. Criou a Medalha Clóvis Arrais Maia e dá nome à Comenda José Leite Martins por Excelência na Prestação de Serviços no mbito de Atuação do Senac.
Graduado em Gestão Comercial, é empresário do setor de serviços, atuando em empresas de asseio, conservação, segurança e administração presidiária. É o atual presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará, dos Conselhos do Sesc (Serviço Social do Comércio) e do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e do Ipdc (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Ceará).
Conheça os candidatos
Luiz Gastão Bittencourt
Graduado em Gestão Comercial, é empresário do setor de serviços, atuando em empresas de asseio, conservação, segurança e administração presidiária. É o atual presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará, dos Conselhos do Sesc (Serviço Social do Comércio) e do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e do Ipdc (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Ceará).
Maurício Filizola
Graduado em Farmácia pela Universidade Federal do Ceará, o empresário Maurício Filizola é presidente da rede de farmácias Santa Branca e diretor tesoureiro do Sindicato do Comércio Varejista dos Produtos Farmacêuticos do Estado do Ceará (Sincofarma-CE). É o atual 1ª vice-presidente da Fecomércio-CE e representa a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) no Conselho Nacional de Saúde (CNS).
A eleição
A votação acontece no dia 5 de abril de 2022, na sede da Fecomércio Ceará. O mandato tem início em 30 de maio de 2022 e vai até 29 de maio de 2026.
O quórum para validar a eleição é de 70% dos 34 sindicatos associados. Todo sindicato tem peso igual na votação.