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Com perda do poder de compra, consumidor fortalezense se habitua a trocar produtos
Reportagem

Com perda do poder de compra, consumidor fortalezense se habitua a trocar produtos

| Preços 33% maiores | Mesmo com a troca de marcas, os relatos é de que não se economiza tanto quanto o esperado. Veja dicas para substituição de alimentos, quais itens sofreram os maiores aumentos, e como fica a inflação em produtos da Capital
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Variação entre preços de produtos faz com que fortalezense pesquise mais antes de comprar



 (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Variação entre preços de produtos faz com que fortalezense pesquise mais antes de comprar

Mês após mês, Socorro Barbosa tenta substituir os alimentos no carrinho de compras para driblar a alta dos preços. A dona de casa de 61 anos trocou a carne vermelha por ovos, salsicha e sardinha, em um exercício semanal para garantir o sustento familiar na busca pelo menor valor. Mas ela relata que mesmo com bastante pesquisa antes de escolher os produtos, não consegue economizar como antes.

E essa é a realidade vivida por muitos fortalezenses. Em pesquisa exclusiva ao O POVO, a Infomarket, empresa especializada em inteligência de mercado no varejo, comparou as categorias de produtos da cesta básica entre os meses de janeiro a abril de 2021, com o igual período de 2022. O conjunto ficou 33% mais caro em Fortaleza.

Do café à manteiga: tudo está pesando no bolso

Dentre as 16 categorias analisadas, estão itens como café, óleo de soja, arroz, açúcar e manteiga. O estudo foi realizado em 16 supermercados da capital cearense, e os preços checados diretamente na gôndola pelos pesquisadores. No total, foram comparados 82 itens de marcas diversas em uma mesma categoria.

O resultado mostra que apenas 18 apresentaram redução de preço, com os 64 restantes mais caros para o consumidor no período analisado. Cenoura, tomate, café e óleo de soja tiveram as maiores variações, e acompanham a tendência de encarecimento da gasolina e energia elétrica percebida pela população.

Entre os produtos que reduziram de preço estão essenciais como arroz, em média 15,3% mais barato, e o feijão, com 2,7% de alteração. O aumento na produção e as condições climáticas são algumas das razões para essas variações. Ainda com as reduções apresentadas, a alimentação ficou mais cara na capital e no restante do País.

Em entrevista ao O POVO, a diretora da Infomarket, Katrine Rodrigues, comenta sobre a perda do poder de compra da população em razão dos efeitos da pandemia de Covid-19 e da alta dos combustíveis: “É um desafio para o consumidor buscar alternativas para os alimentos que estão com preços elevados e, ao mesmo tempo, garantir uma alimentação de qualidade.”

Além da busca por produtos de marcas alternativas, o consumidor precisa comparar mercados diferentes para economizar nas compras, o que é outra dificuldade apontada pela diretora.

Desafio não é garantir somente menor preço

Sobre esse desafio, a nutricionista Rafaele Zanete observa que itens básicos para uma alimentação saudável como frutas, legumes e proteínas estão sendo substituídos por outros ricos em carboidratos como pães, biscoitos e outras massas. “Isso acontece porque a população desconhece formas mais saudáveis de substituição, e acaba priorizando apenas o preço.”

Zanete alerta que essa prática nem sempre gera economias de fato e que pode levar à construção de hábitos alimentares não saudáveis, que acarretam problemas de saúde no longo prazo, como obesidade, diabetes e desnutrição (carência de vitaminas e minerais).

Indica ainda que é possível ter uma alimentação balanceada fazendo as substituições certas. “Trocas como cenoura pelo jerimum e a batata inglesa pela doce mantêm o mesmo valor nutricional e ajudam a economizar”. Optar por produtos da safra como manga, abacate e tangerina são outra opção. “O importante é fazer economia e manter a alimentação balanceada.”

Socorro Barbosa, 61 anos, dona de casa(Foto: Sarah Melo/Especial para O Povo)
Foto: Sarah Melo/Especial para O Povo Socorro Barbosa, 61 anos, dona de casa

Para a aposentada Socorro Barbosa, há outra dificuldade enfrentada por ela e por tantos outros brasileiros na hora de economizar: “esperar o dinheiro cair na conta”. Ela conta que ao receber o valor da aposentadoria, logo procura por um mercado atacarejo, onde tenta comprar os produtos em maior quantidade “antes que aumentem ainda mais de preço.”

A moradora da região da Praia de Iracema diz ser mais “prático” optar por alimentos como a galinha, que tem mais formas de preparo, inclusive com o aproveitamento das sobras em sopas e caldos.

“Nós, donas de casa, precisamos ser santas e operar milagres. Deixamos de suprir nossas necessidades porque precisamos economizar o tempo todo. Gostaria que todos pudessem comer bem. Saco seco não se põe em pé.” 

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O que mais pesa no bolso para quem vive na Grande Fortaleza

Combustíveis, produtos farmacêuticos e alimentos. Esses são alguns dos itens que mais pesam no bolso dos fortalezenses, segundo dados de maio do IPCA-15, considerado a prévia da inflação. O relatório é divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa (IBGE) e mede os índices de preço ao consumidor.

A capital cearense apresenta o segundo índice mais alto do País, atrás somente do Rio de Janeiro para o acumulado de 2022, com 5,5% contra 5,74%. A média nacional ficou em 4,93%.

Na prévia do mês de maio, Fortaleza desponta com a inflação mais alta entre as capitais com os maiores índices, com 1,29%. Em abril, estava na sétima posição, com 0,98%.

O economista Alex Araújo avalia que, em relação à energia já se percebem os efeitos da correção da Enel, cuja alta na tarifa da conta de luz dos consumidores cearenses subiu até 25% em abril. "Também nos combustíveis, por conta do diferencial do imposto ICMS, que fica entre os mais elevados do País."

No caso dos alimentos, Araújo aponta que boa parte dos produtos da cesta básica são produzidos localmente, sujeitos aos impactos do clima e da sazonalidade. "Neste ano, apesar do volume das chuvas, a regularidade afetou alguns produtos, como hortaliças e verduras".

Já para as proteínas, a alta se dá pelo maior custo da soja e do milho, que são insumos na ração animal, e pela elevação dos preços internacionais das commodities.

Contudo, o economista aponta que é esperada uma desaceleração da inflação no segundo semestre, quando a Taxa Selic, que tem peso no controle do consumo, for ajustada levando em conta os efeitos da Guerra da Ucrânia e a queda do dólar norte-americano.

"Para as pessoas de menor renda, os preços continuam proibitivos, exigindo criatividade para o fechamento das finanças familiares", acrescenta o economista.

 

Brasil

Em maio, o IPCA-15 no Brasil foi de 0,59%. Essa é a maior variação para um mês de maio desde 2016, quando o índice foi de 0,86%. No ano, a prévia da inflação acumula alta de 4,93% e, em 12 meses, de 12,20%

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