Quem esteve atento ao mercado de investimentos durante 2022 notou que as turbulências foram naturais. Em tempos de instabilidade política, em meio à economia mundial derrapante ainda sofrendo com os efeitos da pandemia, enquanto uma guerra impacta a cadeia de suprimentos de meio mundo, muitas lições podem ser depreendidas e expectativas são geradas para o ano que chegou.
Alzenir Marinho, 40, contadora e MBA em Planejamento Financeiro, começou a investir em 2009 ao comprar ações da Petrobras e acumulou um prejuízo nesta experiência por falta de conhecimento. Desde ali passou a se preparar melhor e hoje já possui um conhecimento básico, de saber o que é Selic, CDI, renda fixa e renda variável.
Ela conta ainda que 2022 deixou algumas lições: no sobe e desce da Bolsa, é preciso aproveitar as ações baratas e comprar na baixa e que antes de investir em qualquer coisa é preciso montar uma reserva de emergência.
Para 2023 tem uma estratégia clara: "Não tenho dúvida de que em 2023 mais da metade da minha carteira vai estar alocada em renda fixa, mas também não vou perder as oportunidades, de ações de empresas bem consolidadas, que paguem bons dividendos, além de que pretendo me aventurar comprando cotas de fundos imobiliários".
Se a grande questão para quem investe for como se precaver, o professor de Economia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio, Rubens Moura, detalha: "Vai depender do quanto o investidor é adepto ao risco, se é mais neutro ou se é avesso."
Para quem investir no longo prazo sem grandes oscilações, há boas novidades. No aniversário dos 20 anos do programa Tesouro Direto, o governo lança o título Tesouro RendA+, que se propõe a funcionar como uma renda adicional à aposentadoria. O título garantirá ao investidor no vencimento a inflação oficial (IPCA), mais uma taxa de juros, que hoje estão acima de 6% ao ano.
Nesse aporte, o aplicador escolhe uma data estimada de aposentadoria e garante renda complementar por 20 anos (240 parcelas) após o vencimento do papel. O Tesouro RendA+ estará disponível para pessoas físicas a partir de 30 de janeiro de 2023 e o pagamento poderá ser feito via Pix.
"Não vejo grandes oscilações na renda fixa no cenário que está posto, o que é bom para o investidor mais conservador. Investir em títulos públicos vai render um bom dinheiro. Se você é um sujeito que busca os mercados com melhores perspectivas para 2023, apesar do risco", avalia Rubens.
Ele pontua que, mesmo na renda variável é possível se posicionar bem e conseguir boas perspectivas, mesmo com uma troca de governo federal. Sobre as opções, cita o caso da Eletrobras, em que há questionamentos sobre qual será a postura do PT ante à privatização. Mas na sua avaliação é preciso ser pragmático na análise, pois a empresa está num processo de enxugamento, vai cortar custos e ficará mais rentável.
"A partir disso, o que vai acontecer é maior lucro por ação, os dividendos. Então, mesmo para as pessoas que não compraram ações da Eletrobras na privatização, podem comprar agora, pois a tendência é que o movimento da empresa evolua parecido com o que ocorreu com grandes empresas privatizadas, como a Vale".
A atenção ao cenário macroeconômico é um dos pontos em que o investidor precisa estar atento em 2023. O economista chefe do banco MUFG Brasil, Carlos Pedroso e o economista-sênior do MUFG Brasil, Maurício Nakahodo, detalham que a posição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é similar ao que foi nos seus dois governos, de perfil pragmático, ainda que os gastos sociais e investimentos públicos aumentem.
O esperado, segundo a análise do banco, é que o contexto econômico herdado impeça algo além de restrições orçamentárias. "Neste ambiente de inflação e juros mais elevados, a atividade econômica enfraqueceria (em caso de déficit grave na relação dívida/PIB), o que levaria a uma piora adicional das contas públicas. Ou seja, entraríamos em um ciclo econômico negativo, e entendemos que o governo está consciente da necessidade de evitar este cenário".
Os caminhos para os poupadores
O primeiro caminho para começar a ter rentabilidade e evoluir de poupador para investidor é tirar o dinheiro da poupança, diz Bruna Allemann, educadora financeira da Acordo Certo, fintech de renegociação de dívidas. "O mercado oferece várias formas seguras para o seu dinheiro render a longo prazo, com um retorno muito melhor que o da poupança, que é de apenas 4,5% ao ano."
Perfil de risco
O economista-chefe e líder da equipe de Asset Management da TM3 Capital, Lucas Dezordi, frisa ainda que, antes de investir, qualquer pessoa deve se perguntar qual seu perfil de risco. Risco e retorno andam de mãos dadas. Se o objetivo for mais retorno, é preciso correr mais riscos. Entretanto, fazer isto da forma correta, após uma boa análise, pode diminuir as chances de perda e aumentar os ganhos.
Como começar em
tempos de Selic alta?
Lucas Dezordi, da TM3 Capital, destaca que temas como a posse do novo governo e incertezas econômicas globais exigem cautela ao escolher ativos, mas indica: "Investimentos pós-fixados atrelados ao CDI são boas opções para compor as carteiras. Ao contrário, títulos atrelados à inflação podem fazer parte da carteira, mas em menor percentual. Outras opções são fundos imobiliários e também é interessante dedicar uma parte do investimento em Small Caps (empresas negociadas em bolsa, que possuem menor valor de mercado, que estão fora do radar de grande parte dos investidores, mas podem proporcionar ganhos potenciais positivos no médio prazo). Existem alguns títulos bem interessantes no mercado", afirma.
PANORAMA SOBRE AS PERSPECTIVAS PARA OS INVESTIMENTOS EM 2023
O primeiro grande ponto é o grau de previsões do mercado financeiro: muito baixo. Cuidados com as previsões. Ou seja, obviamente, ambientes de Selic alta são para renda variável ou ações sofrendo. Por outro lado, a maior parte das previsões indicam um viés decrescente da Selic e se discute em qual velocidade isso ocorreria.
Neste cenário, é preciso olhar o horizonte de investimentos de longo prazo. O investidor deve começar a comprar e expôr parte do seu patrimônio para ações e esse patrimônio deve ser beneficiado no médio e longo prazo, num processo de transferência de oportunidade da renda fixa para renda variável.
A melhor forma de um investidor se precaver, independente de governo, é a receita de bolo de qualquer investimento: pensar no longo prazo e diversificação. Abrir mão de ações é um mau negócio, assim como é necessário aproveitar os vieses de alta da Selic e oportunidades na Renda Fixa.
Neste processo de diversificação, na Renda Variável são destacáveis as oportunidades de Fundos de fundos de Renda Variável, que contam com comitês de investimentos, com gestores que escolhem as melhores ações de forma coordenada, o que diminui os riscos dos investidores no mercado de ações.
A expectativa de manutenção da Selic em 13,75% no primeiro semestre de 2023, mantendo o patamar de juros altos e de diminuição gradual apenas em 2024, deve proporcionar boas opções de rentabilidade para quem escolher boas opções de investimentos em renda fixa.
Com o risco fiscal, o cenário é pautado em incertezas que podem gerar oportunidades. A sugestão de investimento e a proporção de cada alocação sempre vai depender do perfil do investidor. Ao considerar um investidor conservador que não quer ver nenhuma oscilação na carteira, uma carteira pautada em ativos pós-fixados, atrelados ao CDI seria uma escolha interessante. Um investimento que renda 100% CDI, por exemplo, estaria pagando algo em torno de 13,65% ao ano.
Todos os investimentos do Tesouro estão com taxas que nos últimos dez anos, foram vistas somente em 2016. Isso significa que é uma super oportunidade para fazer alocações. Destaque para opções de Tesouro Pré-Fixado e Tesouro Inflação, tanto para carregar no vencimento, quanto para fazer uma marcação a mercado para aquele investidor mais avançado. O interessante é que esses investimentos estão entregando juros reais bem altos, nossa referência é de uma carteira nos entregar IPCA + 6,00% ao ano, e hoje conseguimos isso dentro das NTN-B, ou o famoso 1% ao mês, que conseguimos com os tesouros pré fixados.
Desde meados de 2017, existe um movimento crescente de migração dos investidores, principalmente pessoas físicas, para a categoria de Fundos Imobiliários. A isenção do Imposto de Renda para este perfil de investidor, somada ao atrativo da “renda mensal”, conquistaram as carteiras desse público nos últimos anos.
Para quem ainda não conhece, apesar de apresentarem estruturas similares, existem diferenças entre FIIs e Fiagros. No primeiro, o foco são nas operações do setor imobiliário, construção civil, o que o mercado chama de "real state", com lastro em bens ou negócios imobiliários. Já os Fiagros focam no fomento de investimentos na cadeia do agronegócio, com lastro em bens ou negócios na cadeia do agro.
Para 2023, a expectativa é de que essa modalidade de investimentos continue em alta pela diversificação oferecida à carteira do investidor, alta liquidez e com custo de entrada baixo, com a grande maioria dos FIIs e Fiagros com cotas listadas com valores entre R$ 10 e R$ 100.
Quanto às opções, o atual momento da Selic em alta pode beneficiar os aportes em fundos indexados ao CDI, como é o caso da maioria dos Fiagros. Já as opções indexadas à inflação - que têm perspectivas de alta em 2023, podem beneficiar principalmente os "FIIs de papel", que é como são conhecidos os FIIs de CRIs.
Finalmente regulamentado em 2022, o mercado de criptoativos oferece grandes perspectivas sobre como será seu desenvolvimento no Brasil a partir de 2023. É preciso ressaltar que o mercado de cripto passou por uma das maiores crises de sua história em 2022, ano marcado por quebra de exchanges centralizadas, grandes Venture Capitals e players centralizados de custódia e empréstimos em cripto. Acreditamos que o ano de 2023 será o ano da reconstrução no mercado de criptomoedas, com mais transparência e foco em projetos sólidos.
Três opções devem se destacar pelo potencial analisado: DeFi, Self Custody e Layer 2. O mercado DeFi foi resiliente mesmo nessas grandes crises de confiança, mostrando que o processo de descentralização das finanças é algo que veio para ficar e trazer mais segurança ao investidor. Projetos como Uniswap, Aave e Maker tiveram um melhor comportamento do que a média bem do mercado nesse período de turbulência.
O setor de custódia por conta própria também saiu mais forte, trazendo a consciência de que criptomoedas podem ser custodiadas pelo próprio usuário, sem necessidade de intermediários. Projetos como Ledger e Metamask (que não possuem token) e até mesmo o projeto da TWT podem ganhar relevância.
O mercado está construindo as bases para a escalabilidade quando focamos em transações e adoção. Projetos de segunda camada que utilizam a rede Ethereum como Polygon (MATIC), Arbitrum e Optimism (OP) têm ganhado destaque e podem ser os responsáveis pela recuperação do mercado em 2023.