Esta sexta-feira, 17, registrou a maior média de chuvas do ano no Ceará, com acúmulo de 29,1 milímetros. Em 141 dos 180 municípios cearenses houve precipitações, conforme acompanhamento da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). Considerando todo o mês de março, Estado acumula 132,1 mm. A média história esperada para o mês é de 203,4 mm.
Fevereiro e março, até então, somam 247,7 mm. A média da quadra chuvosa (de fevereiro a maio) é de 600,7 mm.
Mais da metade dos municípios registrou acumulado de chuvas acima de 50 mm entre 7 horas de quinta-feira, 16, e 7 horas de sexta. O acréscimo teve "impacto bastante grande na média do mês", conforme avaliação de Meiry Sakamoto, gerente de meteorologia da Funceme. As precipitações observadas ao longo da semana fizeram o acumulado do mês "praticamente" dobrar.
O maior registro do dia foi observado no posto pluviométrico de Nova Russas (125 mm), na região da Ibiapaba. Seguido de Quixeré (124 mm), na região Jaguaribana, e de Pacatuba (120 mm), no Litoral de Fortaleza. Ainda na quinta, Pacatuba, teve alagamentos em casas e desabamento de muros.
Após fortes chuvas, no município de Aratuba, localizado a 120,3 km de Fortaleza, um deslizamento de terra deixou duas crianças (2 e 8 anos) e uma mulher de 21 anos mortas, além de três feridos. Foram 79 mm de precipitações. De acordo com Sakamoto, choveu 54 mm no intervalo entre 12h e 13h15min na cidade.
Ela explica que as chuvas da faixa litorânea e parte centro-norte do Estado foram causadas principalmente pela Zona de Convergência Intertropical (Zcit). O fenômeno gera nuvens do tipo cumulonimbus, associada a raios e trovões e que ocasiona chuvas de grande intensidade em curto período, como as observadas em Aratuba.
"Essas chuvas já eram esperadas. A gente já vem desde janeiro falando da irregularidade. Já aconteceu em fevereiro, no começo de março não foi tão intenso. A partir do dia 13 [de março], praticamente todos os dias teve algum município com mais de 100 mm, contribuiu muito para a média do mês", detalha.
A faixa litorânea tem recebido mais chuvas, como o Maciço de Baturité que já acumulou 183,1 mm, o que representa 86,4% da normal histórica do mês. A média da região para o período é de 212 mm.
Para este sábado, 18, a previsão é de risco médio de chuvas de intensidade considerável para o Ceará como um todo, com risco pouco menor na parte sul. A meteorologista explica a Funceme envia os avisos meteorológicos para a Defesa Civil do Ceará, que faz chegar aos municípios a informação.
"E os municípios, sabendo das áreas de risco, podem ficar mais atentos a riscos de deslizamentos, de alagamentos. As áreas de risco são delimitado locais com risco de ocorrências", detalha.
Vítimas são sepultadas em meio a aplausos
O momento em que o deslizamento de terra aconteceu segue latente na memória de quem presenciou a cena, principalmente daqueles que correram até o local para prestar socorro. Marcos Martins, 42, conta que, por volta de meio-dia, um homem avisou do desabamento das casas e pediu ajuda para os vizinhos. Logo em seguida diversas pessoas passaram a auxiliar as vítimas nos escombros.
O agricultor se uniu aos demais populares e começou a tentar tirar a lama do local para encontrar as pessoas soterradas. Foi nesse momento que ele se deparou com os corpos de Antônia Samara Santos, 21, e do filho dela, João Gabriel Santos, 2, que morreram abraçados um no outro.
"Doeu, viu. Eu nunca pensei em passar por uma situação dessa", disse Marcos, que é parente das vítimas. Ele conta que a família está muito entristecida e surpresa com a tragédia.
O agricultor relata ainda que o pai de Antônio Guilherme Martins, 8, outra vítima que morreu no deslizamento, gritava pedindo para localizarem o filho dele. O homem também estava em uma das casas que foi soterrada, mas sobreviveu. "A gente cavava com a pá, com as mãos também", conta Marcos.
Claudiana Ribeiro dos Santos, irmã de Samara, conta que ajudou a cavar para encontrar a familiar. "A gente cavava, chamava por ela, para ver se encontrava. Era a gente cavando e levando choque. Quanto mais a gente puxava barro com a mão, mais barro caía em cima dela. Ela já estava sem vida", afirma.
A irmã da vítima explica que, apesar de a casa ser localizada na margem da encosta, não imaginava que a família estaria em risco. "A gente nunca ia imaginar que ia acontecer um negócio desse", disse.
O velório das vítimas ocorreu nessa sexta-feira, 17, na capela da Paróquia São Francisco de Paula, no centro de Aratuba. Guilherme, João Gabriel e Samara foram enterrados por volta das 12h30min. Em meio as lágrimas, muitos aplausos puderam ser ouvidos no momento que os caixões deixaram a capela. (Gabriela Almeida, Gabriel Borges e Alexia Vieira)
Quadra chuvosa: Ceará alcança marca de 13 açudes sangrando em 2023
Entre 157 reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), 13 açudes do Ceará atingiram a capacidade máxima, e outros dez com volume acima de 90%. No mesmo período, em 2022, oito reservatórios estavam sangrando e outros sete estavam acima dos 90%. Os dados foram coletados por volta das 10h30min desta sexta-feira, 17, no Portal Hidrológico, da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
Após fortes chuvas na região, o açude São Pedro da Timbaúba, no município de Miraíma, tornou-se o 13º açude a sangrar na manhã desta sexta-feira, 17.
Segundo a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), os açudes menores são os primeiros a sangrar. Por isso, embora em número de reservatórios a notícia seja positiva, em valores totais pouca coisa mudou.
O Ceará está com 32,3% da capacidade hídrica abastecida. Em janeiro, esse número era de 31,4%.
Nenhum dos três maiores reservatórios do Estado possuem um volume acima dos 50%. O Castanhão, maior açude do Ceará, possui 19,87% do nível preenchido; Orós está com 46,41% e Banabuiú, 9,08%. Além disso, outros 64 reservatórios estão com volume inferior a 30%.
Entre as bacias hidrográficas, a de Coreaú é a que tem a maior reserva: 76,1% da capacidade está preenchida. Em segundo lugar vem a do Baixo Jaguaribe, com 70,7%. Acaraú, Litoral Norte e Região Metropolitana de Fortaleza apresentam índices acima de 60%.
Segundo João Lúcio Farias, presidente da Cogerh, é necessário aguardar o fim da quadra chuvosa para traçar um diagnóstico definitivo sobre as reservas hídricas do Ceará.
O motivo é que as chuvas são distribuídas de forma irregular tanto na área do Estado quanto no tempo. Deste modo, o órgão realiza o monitoramento contínuo dos açudes, mas emite os relatórios apenas ao fim do período. (Colaborou Gabriel Damasceno/Especial para O POVO)
MAIS PRECIPITAÇÕES
SEXTA
Na noite de ontem, 17, foram registradas chuvas no Ceará principalmente na região Norte.
SÁBADO
No sábado, 18, segundo a Funceme, céu varia entre nublado e parcialmente nublado com chuva.
domingo
Já para o dia 19, o céu varia de nublado a parcialmente nublado com chuva em todas as macrorregiões do Ceará.
Quatro regiões do Estado têm alerta de chuvas intensas
Quatro regiões do Ceará devem registrar chuvas fortes entre este sábado, 18, e o domingo, 19, sendo elas: as áreas da Região Metropolitana de Fortaleza, Serra de Ibiapaba, Crato e Maciço de Baturité. Nessa última se situa a cidade de Aratuba, onde um deslizamento de terra provocado pelas precipitações deixou três pessoas mortas nessa semana. Informações são do governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT).
O alerta foi feito ao petista pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). Gestor informou que foram emitidos avisos para todos os prefeitos das regiões citadas sobre a possibilidade de intensas precipitações nos próximos dias. Além disso, também foi solicitado dados sobre os açudes, reservatórios e barragens, com o objetivo de identificar riscos inerentes a essas estruturas.
O governador informou ainda que se reuniu com um grupo de trabalho para avaliar a situação dos municípios afetados com as enchentes no Ceará nos últimos dias. O petista afirmou nas redes sociais que esteve reunido com secretarias da Casa Civil, Proteção Social, Recursos Hídricos, Cidades, PGE e Obras Públicas. O momento também contou com membros do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Casa Militar, Funceme, Sohidra, Cogerh, além da participação do presidente da Assembleia, Evandro Leitão (PDT).
De acordo com a Defesa Civil do Ceará, os municípios de Itapipoca, Aratuba, Uruburetama e Tururu estão correndo risco devido as chuvas intensas, e por isso seguem sendo monitorados. Na primeira cidade citada, conforme Elmano, houve identificação de uma barragem em risco de arrombamento.
Já no pequeno município de Aratuba, a população ainda vive as consequências da tragédia que abateu a cidade na quinta-feira, 16, quando o deslizamento de uma encosta atingiu duas residências. Na ocasião, faleceram João Gabriel Santos, de 2 anos, e sua mãe, Antônia Samara Santos, de 21, que morreram no local. A terceira vítima foi Antônio Guilherme Martins, de 8 anos, que estava em outra casa.
Dois sobreviventes receberam atendimento médico. Entre eles está um bebê recém-nascido, que segue agora internado em um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Instituto Doutor José Frota (IJF), em Fortaleza. Segundo instituição informou ao O POVO, até às 20 horas da sexta-feira, 17, a criança seguia apenas em "observação", mas o estabelecimento não detalhou o seu quadro de saúde.
Além de decretar luto oficial, a prefeitura da Cidade decretou estado de emergência por 90 dias. Pelo menos 15 residências situadas na área onde a tragédia ocorreu correm risco de colapso. Cerca de 45 moradores foram levados para um hotel e devem ser vinculados logo mais ao programa Aluguel Social.
O governador Elmano esteve na região essa sexta e ressaltou que a sua administração busca garantir abrigo para os impactados pelas chuvas em todas as regiões do Ceará. Para alojar todo este contingente de pessoas, o petista informou que existe a possibilidade de construção e de compra de imóveis.
O momento em que o deslizamento de terra aconteceu segue latente na memória de quem presenciou a cena, principalmente daqueles que correram até o local para prestar socorro. Marcos Martins, 42, conta que, por volta de meio-dia, um homem avisou do desabamento das casas e pediu ajuda para os vizinhos. Logo em seguida diversas pessoas passaram a auxiliar as vítimas nos escombros.
O agricultor se uniu aos demais populares e começou a tentar tirar a lama do local para encontrar as pessoas soterradas. Foi nesse momento que ele se deparou com os corpos de Antônia Samara Santos, 21, e do filho dela, João Gabriel Santos, 2, que morreram abraçados um no outro.
“Doeu, viu. Eu nunca pensei em passar por uma situação dessa”, disse Marcos, que é parente das vítimas. Ele conta que a família está muito entristecida e surpresa com a tragédia.
O agricultor relata ainda que o pai de Antônio Guilherme Martins, 8, outra vítima que morreu no deslizamento, gritava pedindo para localizarem o filho dele. O homem também estava em uma das casas que foi soterrada, mas sobreviveu. “A gente cavava com a pá, com as mãos também”, conta Marcos.
Claudiana Ribeiro dos Santos, irmã de Samara, conta que ajudou a cavar para encontrar a familiar. “A gente cavava, chamava por ela, para ver se encontrava. Era a gente cavando e levando choque. Quanto mais a gente puxava barro com a mão, mais barro caía em cima dela. Ela já estava sem vida”, afirma.
A irmã da vítima explica que, apesar de a casa ser localizada na margem da encosta, não imaginava que a família estaria em risco. “A gente nunca ia imaginar que ia acontecer um negócio desse”, disse.
O velório das vítimas ocorreu nessa sexta-feira, 17, na capela da Paróquia São Francisco de Paula, no centro de Aratuba. Guilherme, João Gabriel e Samara foram enterrados por volta das 12h30min. Em meio as lágrimas, muitos aplausos puderam ser ouvidos no momento que os caixões deixaram a capela.