Um ano e meio após o leilão que movimentou R$ 46,7 bilhões e 10 meses desde a ativação do sinal da nova tecnologia no Brasil, o 5G ainda representa menos de 10% do total de conexões feitas por usuários de telefonia móvel.
Já no setor produtivo, a expectativa de avanços na saúde, indústria e agronegócio ainda estão nos laboratórios de pesquisa e nos poucos projetos pilotos em atividade do País.
Os especialistas ouvidos pelo O POVO são unânimes sobre o principal motivo de o 5G não ter maior uso: o custo da tecnologia ainda é muito alto.
Ao observar a cadeia produtiva de telecomunicações, o professor do Instituto Federal do Ceará (IFCE), Edson Almeida, afirma que a ampliação da quinta geração de telefonia móvel esbarra no preço dos equipamentos utilizados na transmissão do sinal.
Isso porque, diferentemente da migração do 3G para o 4G, é necessário uma troca de peças importantes para garantir a conexão.
"Se fizer um cálculo simples, de quantas células 5G seriam necessárias para o atendimento do município de Fortaleza, sem Região Metropolitana, seria preciso, no mínimo, em torno de 1,3 mil antenas 5G instaladas na Cidade. E é um município pequeno, mas de ocupação 100%. Vamos considerar que essa antena custa R$ 1 milhão, por baixo. Temos aí aproximadamente R$ 1,33 bilhão de investimento pelas operadoras para atender 100% de Fortaleza. Então, existe um investimento muito pesado pelas operadoras para prover o serviço", exemplifica.
Hoje, 48 municípios no País contam com o sinal liberado e cobertura pelas operadoras. Nessas cidades, nas quais apenas parte do território conta com equipamentos instalados, 7,3 milhões de acessos são contabilizados apenas para o 5G. O número, no entanto, representa 2,9% dos 250,64 milhões de conexões quando se soma os acessos 2G, 3G e 4G.
Fortaleza, inclusive, é a 7ª cidade em número de acessos 5G do País e a líder neste comparativo entre as cidades nordestinas já conectadas, segundo os dados de fevereiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Ao todo, são 238.710 acessos e o número pode crescer a partir da atualização da legislação que dita as regras para as licenças de instalação de antenas na cidade.
"A mudança veio compatibilizar a legislação municipal às normas técnicas para a implantação e compartilhamento de infraestrutura de suportes, atendendo a recomendações do relatório de barreiras regulatórias que impactam o desenvolvimento das redes 5G no Brasil editado pela Agência Nacional de Telecomunicações", ressaltou ao O POVO Luciana Lobo, secretária de Urbanismo e Meio Ambiente da Capital.
Ela ainda destaca a "governança digital que Fortaleza possui, oferecendo um sistema de Licenciamento Digital que pode ser feito de forma 100% virtual."
Segundo explica, é um procedimento de apenas uma fase "que contempla a análise ambiental e urbanística" para a implantação das antenas 5G. Disponível na "plataforma de Licenciamento Autodeclaratório", pode ter "a licença emitida (quando pagamento de taxa) em até 30 minutos."
No entanto, Diogo Della Torres, coordenador de infraestrutura da Conexis - associação que representa as operadoras de telefonia no Brasil -, ressalta o esforço da Capital para isso e aponta a falta de legislação coerente com a federal nos municípios como um outro empecilho para a ampliação do sinal 5G.
"Quando chegamos no ponto do licenciamento, buscamos os municípios para obter autorização de instalação e, no Ceará de forma geral, é um grande gargalo devido a ausência da legislação específica", lamenta.
Sobre a lei aprovada em Fortaleza, Della Torres aponta a necessidade de alguns ajustes, que já empreende esforços para acontecer ao contatar o vice-prefeito Élcio Batista e a secretária Luciana Lobo, mas destaca o esforço da Prefeitura no sentido de agilizar os processos.
"Com o avanço da tecnologia 5G em Fortaleza, o que se espera é um surgimento a médio e longo prazos de novos negócios, principalmente em setores como inteligência artificial e processamento de dados, por exemplo, e, consequentemente, um incremento na economia da Cidade", estima Luciana Lobo.
Conexões
A Anatel já liberou 682 cidades, mas apenas 48 contam com 5G. A Conexis diz que as operadoras buscam acelerar a ampliação mas, com as dificuldades, confirmam a oferta dentro do cronograma definido no leilão.