Viajar está mais caro. De acordo com os dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o preço médio das passagens aéreas saindo do Ceará ainda está 23,39% acima daquela praticada antes da pandemia.
E, apesar do recente recuo pela Petrobras no preço do querosene da aviação nas refinarias, não há perspectiva de queda significativa para os consumidores em geral neste ano.
Em fevereiro deste ano, último dado consolidado pela agência reguladora, o preço médio da tarifa no Ceará foi de R$ 677,12. São R$ 128,34 a mais do que a média de fevereiro de 2020 (R$ 548,78), um mês antes da pandemia explodir no País.
Em março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) das passagens aéreas, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até chegou a registrar uma queda de 11,85% em Fortaleza, mas logo veio a prévia da inflação (IPCA-15) em abril e projetou novo aumento de 11,97%.
No dia 2 de maio, a Petrobras chegou a anunciar uma redução de 11,5% no valor do querosene de aviação (QAV) nas refinarias. A queda representa 25,6% no acumulado do ano. Mas, segundo especialistas, o impacto dessa baixa no combustível não vai ter um efeito imediato no preço dos bilhetes.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), a explicação é porque o querosene corresponde a cerca de 40% do custo de uma empresa aérea.
Outro ponto levantado pela entidade é que a medida, embora positiva, ainda é insuficiente para cobrir a alta de 124% nos preços do combustível, observada na comparação do valor praticado hoje com o de abril de 2020.
"O QAV é o item de maior ineficiência econômica para as empresas aéreas. A Abear e suas associadas têm ampliado a interlocução do setor aéreo especialmente com o Governo Federal e o Congresso para buscar soluções que enfrentem a alta do preço do QAV e resultem na oferta de preços mais competitivos", informou a associação em nota ao O POVO.
Para o economista Ricardo Coimbra, essa redução nas refinarias, muito provavelmente, vem para gerar um impacto menor da elevação dos preços nas passagens aéreas, mas há outro fator determinante para essa escalada recente dos preços: "O forte crescimento da demanda após pandemia."
"O mercado da aviação desmobilizou parte da sua capacidade produtiva em função da pandemia. Parte das aeronaves são alugadas, uma parte significativa dos funcionários foi demitida. A demanda sempre vem antes da oferta, e hoje temos uma demanda muito significativa de voos e não teve o acompanhamento de oferta do que tinha antes da pandemia", analisa.
A associação que representa as companhias aéreas ainda acrescenta que os preços praticados pelas empresas variam de acordo com diversos fatores, e nem sempre o tempo de viagem e a distância são determinantes para o aumento do valor.
Também entram no cálculo a taxa de ocupação, a demanda por passageiros, a sazonalidade e até impostos estaduais, como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), para o cálculo do valor da passagem.
Assim, uma passagem entre Fortaleza e Natal pode ser mais cara do que Fortaleza e São Paulo, mesmo com a capital potiguar sendo muito mais perto, tendo em vista que a alíquota do ICMS no Rio Grande do Norte é de 20%, enquanto para a capital paulista é de 12% para o QAV.
A Abear também explica ao O POVO como se dá essa variação e os diversos fatores que podem influenciar no valor da passagem.
"O preço de uma passagem aérea tem relação direta com os custos das companhias, que por sua vez são impactados por fatores externos, como a cotação do dólar em relação ao real, que indexa mais da metade dos custos do setor, pressionando além do preço do combustível dos aviões, manutenção e arrendamento de aeronaves."
Em busca do menor preço
O influenciador catarinense Matheus Sommer, 24, viaja com a esposa, Samanta Broering Sommer, 23, e juntos eles criaram o ViverlaVida, onde compartilham dicas de viagens, roteiros, entre outras coisas.
Ao O POVO, ele contou que viaja desde 2015 e já passou por mais de 20 países, e hoje possui um curso que já tem mais de mil alunos, onde ele ensina as pessoas a viajar barato e como comprar a passagem de forma correta. E uma das técnicas que ele ensina é o skiplagging (quando um passageiro compra uma passagem para um determinado destino, mas fazendo uma escala no ponto onde realmente deseja desembarcar).
Ele explicou que aprendeu a prática de uma forma natural ao tentar adquirir uma passagem com duas semanas de antecedência.
"Uma vez eu estava pesquisando uma passagem para São Paulo e ela estava dando R$ 1000. E aí eu pensei: 'e se eu comprar uma passagem para Belo Horizonte que faça uma escala em Guarulhos, quanto que vai sair?', e aí fui pesquisar para o aeroporto de Confins com a escala em Guarulhos, e a passagem ficou R$ 550", falou.
Matheus disse que é difícil dizer o quanto é possível economizar com o skiplagging, mas contou algumas experiências onde ele conseguiu mais de mil dólares em desconto.
"Uma vez fui ver uma passagem de São Paulo para Los Angeles e estava quatro vezes mais barato pegar um voo até Las Vegas. Estava US$ 1.600 até Los Angeles, e uma até Las Vegas com escala em Los Angeles custava 460. Então gastei quase quatro vezes menos, então varia muito, mas tem bastante diferença sim".
Ele falou ainda que nunca teve problema utilizando a prática, e nem soube de ninguém que teve, mas ressaltou que é sempre importante tomar alguns cuidados.
Se o passageiro tiver comprado um voo de ida e volta junto e descartado o segundo trecho da ida, a volta será automaticamente cancelada, pois a companhia vai estar entendendo que o passageiro não compareceu para o trecho que ele comprou, o chamado no-show. Portanto, para utilizar o skiplagging o passageiro deve comprar somente o trecho.
Além disso, a modalidade também é complicada para quem precisa despachar bagagem, já que a mala normalmente vai até o destino final do bilhete.
"É só levar bagagem de mão e não despachar nada, porque você vai precisar sair no meio da viagem. Também deve ficar atento em relação ao visto. Se você quer descer num país que que tem um requisito de ter visto para desembarcar, você é obrigado a ter o visto daquele país."
Histórico do preço médio das passagens aéreas domésticas no Ceará
jan./2020 - R$ 525,62
fev./2020 - R$ 548,78
mar./2020 - R$ 451,61
abr./2020 - R$ 418,15
mai./2020 - R$ 425,22
jun./2020 - R$ 361,47
jul./2020 - R$ 347,21
ago./2020 - R$ 406,95
set./2020 - R$ 479,02
out./2020 - R$ 608,36
nov./2020 - R$ 535,69
dez./2020 - R$ 476,18
jan./2021 - R$ 483,81
fev./2021 - R$ 574,65
mar./2021 - R$ 449,03
abr./2021 - R$ 388,21
mai./2021 - R$ 475,61
jun./2021 - R$ 459,57
jul./2021 - R$ 584,12
ago./2021 - R$ 697,12
set./2021 - R$ 656,88
out./2021 - R$ 683,27
nov./2021 - R$ 552,34
dez./2021 - R$ 482,63
jan./2022 - R$ 516,96
fev./2022 - R$ 513,18
mar./2022 - R$ 640,57
abr./2022 - R$ 688,11
mai./2022 - R$ 711,18
jun./2022 - R$ 664,64
jul./2022 - R$ 685,51
ago./2022 - R$ 751,16
set./2022 - R$ 789,20
out./2022 - R$ 710,99
nov./2022 - R$ 675,09
dez./2022 - R$ 660,15
jan./2023 - R$ 682,49
fev./2023 - R$ 677,12
Fonte: Anac