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Exportação de brasileiros chega a 4,5 milhões de pessoas
Reportagem

Exportação de brasileiros chega a 4,5 milhões de pessoas

Estimativa é da Polícia Federal e empresas de migração trabalham com o dado; País não tem estatística pública de quantos cidadãos estudam ou moram fora, mesmo com programas de intercâmbio estão aquecidos
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China, que tem a capital Xangai, é uma dos países que mais recebeu brasileiros neste primeiro semestre de 2023 (Foto: HECTOR RETAMAL / AFP)
Foto: HECTOR RETAMAL / AFP China, que tem a capital Xangai, é uma dos países que mais recebeu brasileiros neste primeiro semestre de 2023

O contexto econômico e social, a promessa de uma vida melhor, com maior remuneração e melhores condições de vida, como mais segurança e poder de consumo, ainda fazem com que milhares de brasileiros sonhem em ter uma carreira internacional.  

Essa não é uma nova realidade, mas o pós-pandemia tem mostrado que mais brasileiros estão buscando estudar e/ou trabalhar no Exterior. Já são mais de 4,5 milhões, conforme dados da Polícia Federal. O ano passado foi período de bater recordes, segundo levantamento da Fragomen, uma das empresas especializadas em imigração mais antigas do mundo e com escritório no Brasil.

Se compararmos os primeiros semestres de 2022 e 2023, destinos tradicionais, como os Estados Unidos e Espanha e Alemanha, tiveram queda na imigração de brasileiros de 14%, 56% e 5%, respectivamente.

Mas, na contramão desse movimento, a busca por oportunidades na China cresceu 321% neste mesmo período, seguida pelo Paraguai (175%), Colômbia (162%) e por Portugal, com crescimento de 100%.

Segundo Diana Quintas, CEO da Fragomen e vice-presidente da Associação Brasileira de Especialistas em Migração e Mobilidade Internacional (Abemmi), o Brasil não possui nenhuma estatística pública que tenha dados oficiais de quantos cidadãos estão morando fora, em qual país e fazendo o que.

Diferentemente do caminho inverso, já que o Ministério da Justiça possui todos os dados de quantos estrangeiros estão no Brasil, em qual localidade e com qual ocupação.

"O que temos são algumas matérias ou eventos que participamos. Acabei de participar de uma ação da Abemmi, em que uma representante da Polícia Federal divulgou o valor de 4,5 milhões de brasileiros que estariam morando fora, mas no Ministério das Relações Exteriores, por exemplo, não temos nada para se fazer esse recorte."

Ela comenta que, no caso da China, a busca é por oportunidade de mercados que surgem, não só de vistos de trabalho, como de negócios.

Porém, ainda não se tem como mensurar se a movimentação estava reprimida, por conta da pandemia e do fechamento total do País, ou se há, realmente, aumento do fluxo de trabalho.

Já para o Paraguai há uma movimentação para se empreender e também para estudar. Como também já ocorre há alguns anos, muitos jovens buscam países da América Latina para cursar Medicina, por exemplo, com preços mais acessíveis e a possibilidade de se revalidar o diploma.

O agronegócio, indústria de energia e investimento brasileiro na indústria de celulose no Paraguai também são apontados como motivadores para esse fluxo de pessoas.

"O brasileiro estava acostumado a ir para os Estados Unidos, mas hoje não existe uma abertura migratória lá, enquanto outros países estão se abrindo para os brasileiros de forma diferente. Então ele começa a ver Portugal, em que ele já vai desde o dia 1 com um visto de forma correta, ou para a Alemanha, se ele falar alemão. Então, outras oportunidades vão se abrindo e o historicamente mais procurado vai diminuindo", disse Diana, ressaltando que de 2021 para 2023 a procura por Portugal aumentou em 400%.

Para estudo, o Canadá também é muito procurado, conforme números da Fragomen, principalmente para estudantes mais velhos, que buscam mestrado e podem levar a família, levando em conta que o cônjuge recebe visto de trabalho.

Exportando os nossos cérebros 

Questionada se o Brasil está "exportando os seus cérebros", Diana afirma que sim, que é necessário ter uma política migratória de atração para a volta destes brasileiros que já foram qualificados ou que estão se qualificando no Exterior, já que a internacionalização da carreira é uma realidade, mas a mão de obra aqui no País está com escassez em algumas áreas.

A possibilidade de se tentar colocações de trabalho fora sem patrocínio é algo que foi modificado recentemente na legislação migratória de diversos países, como Portugal, Alemanha e Reino Unido.

"Esse sem patrocínio é muito importante e está ligado à escassez de mão de obra. Ou seja, o trabalhador estrangeiro não precisa mais que uma empresa se responsabilize por ele no país. O objetivo é exatamente esse, a busca regularizada por emprego."

A ainda tem o visto de nômade digital, onde se tem diversas pesquisas que apontam que 40% do trabalho realizado no mundo poderia ser remoto, ou seja, de qualquer lugar, não só da sua casa, mas de outros países. "Vem nessa linha de fuga de cérebros, escassez de mão de obra, envelhecimento da população e, assim, você trabalha de qualquer lugar do mundo, desde que seja pela internet e sem colocar a mão de obra local em risco." 

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Convênios de universidades são possibilidade de ir para o exterior


Universidade Federal do Ceará (UFC)

Há duas formas de intercâmbio para estudantes de graduação da UFC:


1. Através do programa UFC Mundo, que destina vagas em Instituições de Ensino Superior (IES) estrangeiras, com as quais a UFC têm convênio firmado, para nossos alunos, selecionados via edital.
2. Através da mobilidade livre, onde nem sempre há um acordo prévio entre a UFC e a IES estrangeira.

*Para estudantes de pós-graduação, bem como para professores, geralmente o intercâmbio acontece através de contato ou colaboração prévia entre orientadores, laboratórios ou centro de pesquisa da UFC e da IES estrangeira.

Números:

De 2010 a 2022, a UFC firmou convênio com 318 instituições de ensino superior estrangeiras em 37 países diferentes.

No período, 2.274 alunos realizaram ações de mobilidade acadêmica internacional.

EUA - 505
França - 394
Espanha - 210
Reino Unido - 194
Canadá - 175
Alemanha - 160
Austrália - 146
Portugal - 128

Também foram destinos: Itália, Irlanda, Escócia, Hungria, Bélgica, Holanda, entre outros.

Incentivos:
Para estudantes de graduação que realizam intercâmbio através do programa UFC Mundo, é oferecido o abono das taxas acadêmicas. As Universidades estrangeiras, mesmo as públicas, não são gratuitas e cobram taxas acadêmicas semestrais ou anuais que podem chegar a 3 mil euros.

Gerenciamento de oportunidades de bolsas de estudo oferecidas por universidades ou órgãos de fomento internacionais, com elaboração de estratégias para selecionar estudantes que se enquadrem no perfil exigido.

Já os alunos de pós-graduação, em sua grande maioria, realizam intercâmbio com recursos dos órgãos de fomento brasileiros, principalmente CAPES, CPNq e Funcap.

Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Para garantir a mobilidade estudantil a UECE utiliza alguns programas federais já existentes, como o Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior – PDSE CAPES.

Além disso, atualmente, também se vale da mobilidade virtual, como é o caso do Programa de Intercâmbio Acadêmico Latino-Americano – PILA Virtual, oportunizando estudantes de graduação e de pós-graduação da UECE cursarem disciplinas em universidades latino-americanas.

Números:

De 2012 até 2020 foram beneficiados 12 alunos e, após a pandemia, foram 9 estudantes.

Os países mais buscados pelos estudantes são Espanha e Portugal.

Parcerias internacionais:
Alemanha
Angola
Canadá
Chile
China
Espanha
Estados Unidos
França
Hungria
México
Paraguai
Portugal

Universidade de Fortaleza (Unifor)

A Unifor promove o Programa de Intercâmbio Acadêmico, onde os alunos têm a oportunidade de cursar disciplinas relacionadas a seu curso em uma instituição internacional parceira da Universidade de Fortaleza, de 6 meses a até 1 ano. O Programa possui requisitos específicos, datas fixas para a realização de inscrição (no início de cada semestre). Durante a mobilidade, os alunos Unifor não arcam com os gastos acadêmicos na universidade parceira.

Dupla Titulação: iniciativa em parceria com as coordenações de curso do Centro de Ciências da Comunicação e Gestão – CCG e Centro de Ciências da Tecnologia – CCT.
Esse programa permite que o alino tenha duas graduações, sendo uma com titulação internacional. Os cursos contemplados com esse programa são: Administração, Ciências Contábeis, Marketing, Comércio Exterior, Economia, Jornalismo e Engenharia Civil. As instituições parceiras para Dupla Titulação são: Berlin School of Economics and Law (Alemanha), Instituto Politécnico do Porto (Portugal) e Universidad Autónoma de Occidente (Colômbia).

A Assessoria Internacional tem parceria com o Banco Santander para o Programa Top España, que tem como objetivo proporcionar ao aluno o contato com a cultura da Espanha e o aperfeiçoamento da língua espanhola durante uma viagem de três semanas à cidade de Salamanca. A bolsa do Santander contempla passagens, curso de espanhol, alimentação e hospedagem em residência universitária. Para o Programa Top España, a seleção ocorre anualmente. Normalmente, de 3 a 7 bolsas são divulgadas por processo de seleção. O edital de seleção para o Top España 2023 sairá em breve.

Números:
Em 2019 (pré-pandemia) foram enviamos 145 alunos em intercâmbio;
Em 2021 foram apenas 31 alunos.
Em 2022 já foram 91 alunos em intercâmbio acadêmico.

Custos:
Os alunos que participam do Programa de Intercâmbio Acadêmico ou da Dupla Titulação não necessitam arcar com gastos acadêmicos durante sua mobilidade, porém há poucas exceções em que os alunos arcam com algumas taxas.

Países mais buscados pelos estudantes:

Os países mais procurados pelos alunos da Unifor são localizados na Europa, como Espanha, Portugal, Alemanha e Holanda.

Fontes: UFC, Uece e Unifor

 

Ainda estudante, mas já do mundo

Na reta final do curso de Jornalismo, a estudante da Universidade de Fortaleza (Unifor), Julia Freitas Neves, 24 anos, viu no programa "Top España", em parceria da instituição de ensino com o banco Santander, uma boa oportunidade de experienciar a vida estudantil fora do País, na cidade de Salamanca.

"O que me fez procurar o intercâmbio foi a tentativa de ter essa última experiência enquanto eu ainda estou na graduação e também de ir para outro lugar, estudar nesse outro lugar, ver como é, enfim, ter essa experiência."

Ela afirma que a experiência também é um termômetro para alçar voos maiores. "Pretendo tentar trabalhar fora do País se surgir a oportunidade dentro da minha área, com certeza."

As universidades, por meio de convênios, possuem uma série de oportunidades de se experienciar outros conhecimentos e outras culturas.

Na Universidade Federal do Ceará (UFC), de 2012 a 2022, 2.274 alunos realizaram ações de mobilidade acadêmica internacional. Já na Universidade do Estado do Ceará (Uece), de 2012 até agora foram 21 alunos que realizaram intercâmbio e, na Unifor, foram 267 de 2019 até 2022.

O coordenador de Convênios Internacionais da UFC, professor Rodrigo Rego, diz que a universidade faz de tudo para aumentar e fomentar a movimentação de estudantes internacionalmente e vê o processo em que se está no Brasil, como muito positivo.

No Brasil, a Capes possui, ao longo do primeiro semestre de 2023, 3,4 mil bolsistas. Porém, a agência governamental não tem o número total de estudantes que fazem curso no exterior, pois há diferentes formas de mobilidade internacional.

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