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Apagão: sobrecarga na rede começou no Ceará
Reportagem

Apagão: sobrecarga na rede começou no Ceará

| Setor elétrico | No Brasil, 25 estados e Distrito Federal ficaram ontem várias horas sem luz, causando diversos transtornos nas cidades. Ministério de Minas e Energia investiga ainda a possibilidade de mais uma ocorrência em outro estado
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Custo Marginal da Operação (CMO) para esta semana, foi mantido em R$ 0,00 por megawatt-hora (MWh) em todos os subsistemas (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil Custo Marginal da Operação (CMO) para esta semana, foi mantido em R$ 0,00 por megawatt-hora (MWh) em todos os subsistemas

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) identificou uma falha em uma linha de transmissão de energia localizada no Ceará como um dos motivos do apagão que afetou 25 estados brasileiros e o Distrito Federal entre 8h29 e 14h49 de ontem, 15, deixando entre 27 milhões e 29 milhões de unidades consumidoras às escuras.

A falta de luz trouxe diversos transtornos ao funcionamento de setores e serviços. Semáforos desligados, rede de telecomunicações fora do ar e lojas fechadas são alguns exemplos. No Ceará, a energia foi totalmente reestabelecida às 12h14min, segundo a Enel.

A causa ainda não foi esclarecida e é motivo de investigação, segundo afirmou o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia), assim como a ocorrência de outra falha concomitante.

Apagão no Brasil: ministro explica o que aconteceu; assista ao vivo

 

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A simultaneidade de dois eventos de grande porte é apontada como motivo da queda do Sistema Integrado Nacional (SIN) pelo governo federal.

"Houve uma sobrecarga na região do Ceará, que fez o sistema entrar em colapso naquela região. O ONS imediatamente agiu, modulou a carga que estava chegando no Sul, Centro-Oeste e Sudeste, o que fez que alguns locais tivessem perda energética. O fato é que Norte e Nordeste tiveram perda abrupta do sistema", explicou o ministro.

Ao fim da tarde, de volta do Paraguai em evento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Silveira descartou qualquer suspeita sobre o abastecimento de energia.

Evento é classificado como raro pelo Governo

Hoje, as hidrelétricas estão alocadas em quatro grandes subsistemas regionais - Sudeste/Centro-Oeste (82,38%), Sul (92,48%), Nordeste (76,60%) e Norte (88,10%) - e todos possuem capacidade de geração acima dos 70%. Além disso, o fim da temporada de chuvas permite maior geração eólica e solar no Nordeste.

"Temos um sistema redundante. Para acontecer um evento dessa magnitude tem que acontecer dois eventos concomitantes em linhas de alta capacidade. É extremamente raro o que aconteceu", ressaltou, afirmando ainda que desconhece a propriedade da linha de transmissão no Ceará onde aconteceu uma das falhas.

Ao O POVO, Adão Linhares, especialista da área e secretário executivo de Energia e Telecomunicações do governo do Ceará, classificou o apagão como surpreendente dada a segurança do SIN e o modo como opera, com sistemas que se sobrepõem e garantem a conexão em caso de quedas de energia - o chamado N menos um.

Sobre a origem da falha, Linhares disse ser difícil identificar de imediato. Ele afirmou que há diversas empresas com grandes linhas de transmissão operando no Ceará, além da Eletrobras via Companhia Hidrelétrica do São Francisco, e considerou a apuração técnica do ONS como competente para apontar as causas.

"Precisamos aguardar informações mais detalhadas para saber exatamente. Mas isso é técnico, é matemática. Não tem erro. É olhar e dizer que aconteceu isso. Não dá margem para interpretação. Não tem o que fugir da realidade", afirmou sobre a precisão já reconhecida do SIN. O relatório que deve trazer os detalhes das falhas será concluído em 48 horas, de acordo com o MME.

Queda de quase 20 mil MW de energia

No momento do apagão, o ONS mapeou uma queda de quase 20 mil megawatts (MW) - 73.604,08 MW às 8h29 para 54.383,7 MW às 8h40 -, exatamente no momento quando parte da energia gerada pelos parques eólicos no Nordeste era direcionado ao sistema Sudeste/Centro-Oeste.

O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, ainda mencionou, pela manhã, "uma dificuldade operacional em Imperatriz, no Maranhão".

Mas isso foi descartado pelo ministro de Minas e Energia à tarde, que assegurou: "o último relatório da ONS aponta que o único evento que se pode afirmar até este momento é este no norte do Nordeste, mais precisamente no Ceará".

Em nota, a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) disse que as empresas do setor "atuaram imediatamente para o restabelecimento do fornecimento de energia" e destacou que "avaliações preliminares do Ministério de Minas e Energia (MME) confirmam que o problema não envolveu o segmento de distribuição".

"O setor elétrico é dividido em geração, transmissão e distribuição. E neste caso não houve qualquer falha no sistema de distribuição", afirmou Marcos Madureira, presidente da entidade, no comunicado.

 

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Polícia Federal e Abin vão ser acionadas pelo MME

O Ministério da Justiça será acionado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) para que a Polícia Federal (PF) e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) investiguem o apagão ocorrido ontem no País. De acordo com o titular do MME, Alexandre Silveira, um eventual "dolo" não é descartado pelo governo federal como motivo do blackout.

No fim da tarde, quando convocou a imprensa para comentar sobre a falha, Silveira lembrou dos atentados às torres de transmissão de energia em Brasília. Foram 11 ataques que resultaram em 16 torres de energia danificadas e quatro derrubadas entre 8 e 24 de janeiro, o que levantou a possibilidade de dolo pelo ministro.

"Estou oficiando o Ministério da Justiça para que seja criado um inquérito policial para que apure com detalhes o que poderia ter ocorrido além do que diagnosticar o que ocorreu", afirmou, citando a PF e a Abin.

Silveira acrescentou que o setor energético é "um setor estratégico para brasileiros e brasileiras" e o pedido da participação de braços da Justiça na investigação é justificável.

Eletrobras vira alvo de críticas de Alexandre Silveira

Responsável por 74.088,57 quilômetros de linhas de transmissão de energia do Brasil - 23.569,50 deles geridos plenamente ou em parceria com a Companhia Hidrelétrica do Rio São Francisco (Chesf) -, a Eletrobras esteve sob holofotes durante o dia de ontem após a primeira-dama Janja da Silva tuitar sobre a privatização da empresa, feita no ano passado, logo após o início do apagão.

Ao ser perguntado sobre a responsabilidade da empresa no blackout, o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) afirmou ser leviano relacionar o ocorrido diretamente à Eletrobras, mas desabafou sobre o comportamento da empresa para com o governo.

"É importante que uma empresa estratégica como a Eletrobras tenha sinergia com o poder público, porque é ao poder público que pedem respostas. Não tivemos sequer a solidariedade da Eletrobras nesse sentido, mas, como disse, vamos levar a cabo as apurações tanto do ponto de vista técnico quanto das outras possibilidades", disparou.

Silveira destacou que foi contra a privatização da empresa e considera ruim para o País ter uma área estratégica como a de energia nas mãos da iniciativa privada. "Ninguém bateu na porta da Eletrobras para saber o que aconteceu pela falta de energia hoje. A Eletrobras era o principal braço do governo brasileiro nesse sentido e detém a maior parte da geração e da transmissão de energia do País", continuou.

Outra inquietação levada a público pelo ministro foi de ter tomado conhecimento da saída do CEO da companhia, Wilson Ferreira Jr, pela imprensa. "Seria natural se a União não tivesse nenhuma participação (na empresa). Por ser uma empresa regulada, é para ter uma atenção - vamos chamar assim - para com o governo brasileiro. Qualquer acionista tem que saber o que passa por uma SA e essa correlação está desequilibrada", assinalou.

A saída de Ferreira Jr, segundo a imprensa nacional, ocorreu após embates com os acionistas da 3G na companhia, e depois de o Ministério de Minas e Energia pedir a suspensão do Plano de Demissão Voluntária (PDV) da companhia. Ivan Monteiro, então presidente do Conselho de Administração, assumiu a presidência da companhia. Em seu lugar no Conselho, ficou Vicente Falconi Campos.

Relação

Perguntado se o evento foi em uma das linhas de transmissão da Eletrobras, Silveira observou: "Não tenho essa informação. O fato é que a Eletrobras detém a maior parte da geração e da transmissão do Brasil"

Provas

O ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) enfatizou que não há provas de atentados como motivo dos apagões, mas disse que qualquer nova informação deverá tornar o Sistema Interligado Nacional mais seguro

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