A moeda brasileira Real está ampliando o seu formato para o digital, denominada como Drex, apesar de os outros meios de pagamento continuarem em utilização, como o dinheiro físico, os cartões e o Pix. A moeda digital do Banco Central (CBDC, na sigla em inglês), cuja expectativa de lançamento está para o fim de 2024, será utilizada pela autoridade monetária e instituições financeiras autorizadas para facilitar transações no País.
“Com o Drex, novos prestadores de serviços financeiros e novos modelos de negócios surgirão a custos menores. Isso porque os serviços financeiros inteligentes que acontecerem na Plataforma Drex serão automatizados, seguros, programáveis e padronizados”, de acordo com o Banco Central do Brasil (BC), que citou ainda um “elevado grau de auditabilidade, rastreabilidade e transparência”.
O gerente de plataformas digitais na TecBan – empresa que faz parte do projeto piloto do Drex –, Luiz Fernando Lopes, acredita no real digital como uma importante complementaridade dos meios de pagamento. “O potencial é enorme e tende a impactar também positivamente a forma como acontece a dinâmica financeira no Brasil, sendo bom para pessoa física e jurídica”.
“Em 2024, veremos maior definição e alinhamento para o Drex, sobretudo no que diz respeito ao amadurecimento dos processos de segurança e privacidade. Processos esses que trouxeram ainda mais complexidade para o projeto piloto”, analisou Lopes, que não descarta a possibilidade de atraso no lançamento do projeto, cuja previsão está para o final deste ano, mas sem data definida.
Além disso, o Drex possuirá o mesmo valor da moeda física, diferentemente do que ocorre com criptoativos, segundo a diretora-executiva da Associação Brasileira das Empresas Tokenizadoras de Ativos e Blockchain (ABToken), Regina Pedroso. “Sua movimentação será exclusivamente em ambiente digital amparado pela tecnologia Blockchain (registro que armazena dados em cadeia de blocos interconectados)”.
Os testes da moeda já estão em andamento no País por meio de instituições financeiras e empresas parceiras. O Banco do Brasil (BB), inclusive, disse ao O POVO que firmou um acordo de cooperação técnica com a companhia Giesecke+Devrient Currency Technology (G+D) para a “experimentação de uma solução de pagamentos offline dentro do piloto Drex”.
O diretor-comercial da G+D Brasil, Helio Inoue, detalhou que os testes de uso em ambiente restrito trarão à tona situações cotidianas que deverão ser avaliadas antes de serem implantadas à população. “Para que uma moeda digital pública faça seu papel de inclusão, ela deve funcionar para todos, em qualquer lugar e a qualquer hora”.
O estudo do BB já foi testado em países como Gana e Tailândia. Outras nações também exploram projetos de CBDC, como a China, Suíça e alguns países do Caribe, conforme o sócio da consultoria de inovação Spiralem, Bruno Diniz. “Ao analisar a realidade brasileira e o desenvolvimento do projeto, podemos perceber que o impacto potencial pode ser ainda mais significativo no Brasil”, informou.
“Enquanto o Pix revolucionou os pagamentos, o Drex está pronto para transformar outros aspectos dos produtos financeiros, incluindo soluções de maior valor e transações imediatas, como transferências de titularidade simultâneas às transações financeiras. Isso não deve ser visto como um limitador; na verdade, o Drex oferece mais opções e possibilidades”, acrescentou Diniz.
Pagamentos instantâneos com inclusão financeira, redução de custos, transparência, segurança, controle monetário, combate à evasão fiscal e à lavagem de dinheiro, adoção internacional e estudos de acesso offline ao Drex para áreas sem conectividade foram algumas dessas possibilidades citadas pelo gerente de negócios digitais na empresa de tecnologia CTC, Arthur Ozassa.
A tendência de aceitação do real digital, no entanto, vai depender de diferentes fatores, a exemplo da aceitação pública, regulamentação governamental e resolução de desafios técnicos, com alguns países já explorando ou implementando CBDC, enquanto outros avaliam seus benefícios e riscos, na visão de Ozassa.
Saiba mais sobre o Drex
O Drex é a moeda brasileira Real que está sendo desenvolvida em formato digital, dispondo do mesmo valor e aceitação do dinheiro físico, com garantias semelhantes. O Drex é regulado pelo Banco Central (BC) e emitido em sua plataforma ou instituições autorizadas, dependendo de um banco ou outra instituição para uso do cidadão.
As principais tecnologias na Plataforma Drex são tecnologia de registro distribuído (DLT, em inglês), contratos inteligentes e transações variadas com ativos digitais (tokens). “Essas tecnologias são utilizadas para dar segurança às transações e permitir que o Drex seja utilizado para liquidação de obrigação contratual”, disse o BC.
Segundo o Banco Central, o nome Drex combina letras em uma palavra com “som forte e moderno”. Tanto a letra "d" como "r" fazem referência ao Real Digital, o "e" vem de eletrônico e o "x" traz a ideia de conexão, associada à tecnologia utilizada. “O conceito visual da marca Drex remete ao universo digital, refletindo o contexto da agenda de modernização financeira conduzida pelo Banco Central”, disse o órgão.
O Drex disponibilizará diversas transações financeiras com ativos digitais e contratos inteligentes à população. “Esses serviços financeiros inteligentes serão liquidados pelos bancos dentro da Plataforma Drex do Banco Central (BC), que é um ambiente em desenvolvimento utilizando a tecnologia de registro distribuído (DLT, em inglês)”, segundo o BC.
“Para ter acesso à Plataforma Drex, você precisará de um intermediário financeiro autorizado, como um banco. Esse intermediário fará a transferência do seu dinheiro depositado em conta para sua carteira digital do Drex, para que você possa realizar transações com ativos digitais com total segurança”, complementou o Banco Central.
O cliente deverá pagar o valor cobrado pela instituição financeira referente à oferta do produto ou serviço na Plataforma Drex, que abrange crédito, investimento, seguros, serviços inteligentes, entre outros. É o que já ocorre com as demais operações atuais. “O Drex irá favorecer a oferta de produtos e serviços financeiros com custos menores aos praticados atualmente”, informou o Banco Central.
“A Plataforma Drex, atendendo às normas brasileiras, apresentará os mesmos níveis de segurança cibernética e de privacidade hoje disponíveis nas operações realizadas no Sistema Financeiro Nacional (SFN) e no Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB)”, informou o Banco Central, que supervisionará e fiscalizará o Drex.