As regiões semiáridas, que correspondem a cerca de 92% do território do Ceará e são geralmente associadas à seca e ao calor, estão passando por uma transformação. O que antes era previsível, com períodos de estiagem mais longos seguidos por estações chuvosas, agora é marcado por extremos cada vez mais inesperados.
Pesquisadores apontam que tempestades localizadas e perigosamente intensas, secas ainda mais severas e temperaturas recordes já fazem parte do novo cenário do Ceará. Nesse contexto, o Estado se vê diante do dilema: como garantir abastecimento, alimento e desenvolvimento para sua população enquanto enfrenta os impactos crescentes das mudanças climáticas?
Os efeitos das alterações no clima estão diretamente ligados ao aumento das temperaturas globais. É o que ressalta o doutor em Meteorologia e pesquisador da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Francisco Vasconcelos Júnior. "O efeito estufa é um aspecto natural e essencial para a vida na Terra, mas quando ocorre um desequilíbrio, com mais gases de efeito estufa do que o necessário na atmosfera, temos a intensificação do aquecimento global", explica o meteorologista.
De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), uma iniciativa do Observatório do Clima, o Ceará emitiu em 2022, ano mais recente observado, mais de 22 milhões de toneladas de CO2 equivalente (CO2e). A métrica representa todos os gases de efeito estufa, como metano (CH4) e óxido nitroso (N2O).
Com o quantitativo, o Estado é o 4° maior emissor de gases do efeito estufa do Nordeste, atrás somente de Maranhão, Bahia e Pernambuco. Em relação ao Brasil, o Estado ocupa a 20ª posição.
Por consequência, um estudo publicado em 2023 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou que a temperatura média da Região Nordeste já aumentou em 1,5 grau Celsius (°C) em relação ao período entre 1961 a 1990.
Naquela época, a média era de 30,7°C. Nos anos seguintes, essa média subiu gradualmente: para 31,2°C entre 1991 e 2000; 31,6°C entre 2001 e 2010; e chegou a 32,2°C no período de 2011 a 2020. A temperatura média do ar no Ceará teve um aumento de 1,8ºC nos últimos 63 anos, de acordo com estudo da Funceme.
No Ceará, estudos estão em andamento para avaliar com precisão os impactos do aquecimento global e sua influência nas temperaturas locais. "Esse aumento é esperado globalmente, mas é algo que já estamos vivendo aqui", disse o meteorologista da Funceme.
Grupos sociais vulneráveis
Pessoas com deficiência ou doenças crônicas: são mais vulneráveis em eventos climáticos extremos, que podem agravar doenças cardíacas e pulmonares, causando complicações graves.
Idosos: suscetíveis a hipertermia e hipotermia devido à dificuldade em regular a temperatura corporal,
além de desidratação,
que agrava problemas
como derrames.
Crianças: vulneráveis a hipertermia, hipotermia, infecções e doenças respiratórias, como asma, agravadas pela poluição
durante ondas de calor.
Trabalhadores rurais e indígenas: muitas vezes expostos diretamente a
secas, inundações e eventos extremos, afetando a saúde
e a segurança alimentar.
Pessoas de baixa renda:
com menor acesso a recursos como ar-condicionado e cuidados médicos, correm mais riscos em calor extremo.
Pessoas com problemas de saúde mental: o calor extremo afeta aqueles que tomam medicamentos psiquiátricos, pois interferem na regulação
da temperatura corporal
Fonte: Jonathan Vicente, mestre em Saúde Coletiva e doutorando em Mudança Climática e Saúde pela Universidade de Berna.