Logo O POVO+
"Tempo é cérebro": reabilitação deve começar ainda no leito do hospital
Reportagem

"Tempo é cérebro": reabilitação deve começar ainda no leito do hospital

|Rapidez|Neuroplasticidade nas primeiras horas precisa ser aproveitada. Ao sair do hospital, pacientes têm dificuldades em continuar tratamento necessário
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Osita Sousa da Silva, 75, utilizou a gameterapia no tratamento de AVC no Hospital Regional do Sertão Central (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Osita Sousa da Silva, 75, utilizou a gameterapia no tratamento de AVC no Hospital Regional do Sertão Central

Um dos lemas de profissionais que trabalham com pacientes que passaram por um Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a frase "tempo é cérebro". Depois da rapidez do primeiro atendimento, que influencia diretamente na gravidade das sequelas, a reabilitação é o próximo passo que demanda urgência.

Nas primeiras 72 horas após o AVC, chamada de fase aguda, o paciente já deve começar a receber a atenção de uma equipe multidisciplinar, com fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e psicólogo. 

Ainda no leito do Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), localizado em Quixeramobim, a reabilitação é iniciada. "Quanto mais cedo esse processo de reaprendizado, menores são as sequelas", afirma o neurologista da unidade de AVC do HRSC, Vitor Abreu.

Ele explica que a neuroplasticidade — a capacidade de adaptação do cérebro — é o que faz os neurônios aprenderem as funções daqueles que "morreram" devido ao AVC. "Quanto antes a reabilitação acontece, mais rápido e mais neurônios vão aprendendo. Se isso começa muito tardiamente, dificilmente aqueles neurônios vão aprender", diz.

A neuroplasticidade também é menor em pessoas mais velhas. Apesar disso, Vitor afirma que não é "impossível" um idoso conseguir se recuperar totalmente de um acidente vascular.

Para iniciar, é determinado qual tipo de terapia será necessária. "Para identificar o nível de sequela, é preciso fazer vários testes para saber o que a pessoa consegue e não consegue realizar. Testes funcionais, como levar a mão à boca, escovar os dentes, pegar algo no chão", relata Ramon Távora, coordenador do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Uma das maneiras de avaliar isso é por meio da Escala de Rankin. Ramon explica que o paciente é avaliado em sete níveis, desde alguém sem sintomas, representado pelo zero, até o óbito, o último desfecho da escala representado pelo número 6.

O mecanismo de avaliação passa por diferentes condições de incapacidades e deficiências, como não conseguir realizar atividades diárias ou ficar acamado.

A disfagia — dificuldade de engolir alimentos ou líquidos — também é um dos primeiros aspectos analisados.

"Antes da primeira dieta do paciente ser dada, a gente precisa da avaliação da fono, para fazer uma alimentação por via segura. Se ele está com uma disfagia importante, não vai seguir com dieta oral, e sim por sonda", diz a coordenadora da Enfermagem da unidade de AVC, Mara Cibelly Pinheiro.

Manipular o membro que está paralisado, colocar o paciente sentado e até incentivar que ele ande são alguns dos exercícios feitos de forma constante ainda no hospital. "Usamos também aparelhos como bicicleta e escada, já para que esse paciente comece a ser preparado para o domicílio e quem sabe até voltar ao trabalho", relata Mara.

"A gente sabe que a internação hospitalar é algo rápido. Só que a reabilitação neuromuscular desses pacientes é de longo prazo. Demora muito para ele se recuperar. Então, a gente tem um objetivo principal: tornar o paciente mais independente", explica José Antônio Almeida Neto, fisioterapeuta da unidade de AVC do HRSC.

O que você achou desse conteúdo?