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Ceará tem mais de quatro milhões de veículos; crescimento da frota entre 2023 e 2024 foi de 3,9%
Reportagem

Ceará tem mais de quatro milhões de veículos; crescimento da frota entre 2023 e 2024 foi de 3,9%

Frota de veículos no Estado está atualmente em 4.020.623 . Dado implica em mudanças na infraestutura estadual e apresenta desafios para a mobilidade
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Fortaleza, CE, BR 22.07.25 Aumento na frota de veículos em Fortaleza (Fco Fontenele/O POVO) (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Fortaleza, CE, BR 22.07.25 Aumento na frota de veículos em Fortaleza (Fco Fontenele/O POVO)

O vaivém de pernas em cidades cearenses disputa cada vez mais espaço, físico e sonoro, com rodas e motores. Frota de veículos no Estado passou de 4 milhões e aumentou 3,9% entre 2023 e 2024. Disparo, maior desde 2019, implica em mudanças na infraestrutura e traz desafios para a mobilidade urbana.

Leia também: Motos por aplicativo: usuários trocam coletivos em busca de agilidade, preço e segurança

Números constam em balanço do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE) e consideram somente transportes motorizados que precisam ter licenciamento. No levantamento feito até julho recente, órgão identificou que a unidade federativa se encontra com 4.020.623 veículos emplacados. 

São 1.713.409 motocicletas e 1.405.024 carros. Demais configuram como caminhonete (264.845), motoneta (248.800), caminhão (86.062), entre outras categorias. 

Entre 2023 e 2024, o aumento correspondeu a 3,9%, saltando de 3.768.628 para 3.917.095. Percentual é o maior registrado desde 2019, quando houve aumento de 4.1% do índice em relação a 2018. 

Considerando o balanço feito até julho, Fortaleza aparece concentrando 1.316.567 dos mais de 4 milhões de veículos do Estado. Capital é a cidade com o maior número de transportes motorizados, sendo seguida por Juazeiro do Norte (154.439); Caucaia (128.605); Sobral (116.525) e Maracanaú (96.806).

Conforme Ademar Gondim, chefe do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), o crescimento da frota no Estado é positivo e indica que a "economia está girando".

"O aumento da frota significa aumento do poder aquisitivo, que (as pessoas) estão preferindo comprar automóveis do que outras coisas", destaca. O docente, membro do Conselho de Leitores do O POVO,  enfatiza que o crescimento do número de veículos, independente do tipo e da finalidade, implica que mais negócios estão sendo realizados e impacta também os setores de manutenção e de combustíveis, gerando mais empregos em áreas como oficinas, por exemplo.

Gondim aponta ainda que o aumento da frota indica que usuários buscam por mais conforto e segurança, uma vez que se deparam com transportes públicos deficientes. Ele frisa que fatores como o aumento da tarifa de ônibus e a redução da oferta desses veículos contribuem para o fenômeno. 

No entanto, esse crescimento pode causar congestionamentos e impactar o meio ambiente. “Quanto mais moto ou carro você tiver, mais você tem poluição sonora e atmosférica. Aumenta também o risco de ter um acidente”, explica Mário Azevedo, especialista em planejamento e operação de transporte.

No Centro de Fortaleza, cidade cearense com o maior número de veículos emplacados, relatos sobre transtornos causados pelo aumento da frota são facilmente encontrados. Entre as problemáticas, motoristas e pedestres destacam a falta de educação de condutores no trânsito. 

No cair da tarde, em horário de pico semanal, pernas e rodas se confundem de forma mais perceptiva. Na área que compreende à Praça do Ferreira, no Centro, motocicletas chegam a passar sobre calçadas, "raspando" em pedestres e carros se misturam com bicicletas e passantes.

Região passa atualmente por uma reforma, que deve alargar o equipamento em até oito metros nos trechos que compreendem as ruas Major Facundo e Pedro Pereira. Entre intervenções previstas estão também travessias elevadas, remodelação dos passeios com acessibilidade, melhora da pavimentação e paraciclos.

Francisco Feitosa, 72, que atua há duas décadas como taxista na Praça, diz ter percebido um aumento de veículos, destacando crescimento "expressivo" de motos. 

"(Temos) vagas específicas, (mas) muitas vezes carros particulares entram na nossa vaga, o cara fecha o carro e vai embora. Quer dizer, uma vaga que era para o táxi trabalhar, está ocupada por uma pessoa que não faz parte do sistema (...) Outra coisa também é a moto, que estaciona entre um carro e outro, ou seja, entre dois táxis. Como aqui é rotatório, às vezes impede de seguir uma fila (...) educação zero", desabafa. 

Já Auri Freitas, 33, que há dez anos atua como mototaxista na região, reclama que o Centro tem se voltado "cada vez mais" para pedestres e ciclistas, reduzindo faixas para motos e carros. "Além da quantidade de automóveis, que cada dia aumenta, tem essa questão, né? Que o trânsito no Centro da Cidade hoje em dia tá muito, muito caótico, porque o espaço para o condutor está cada dia mais reduzido", aponta. 

Thalita Góis, 32, que trabalha como assistente de Recursos Humanos (RH) em uma empresa da região, conta que na ida para o estabelecimento já teve a bicicleta danificada após um carro invadir a ciclovia e bater nela.

Mesmo quando não está sob o veículo, o sentimento ainda é de "desorganização". "Até nas passagens onde eles (motoristas e condutores) têm que dar prioridade para a gente que é pedestre (eles ficam) querendo acelerar e a gente fica querendo passar, respeitando o que é de prioridade da gente, mas eles estão com pressa"

Para ela, os direitos de ciclistas e pedestres têm sido mais divulgados, mas ainda são pouco respeitados. "Está faltando educação no trânsito. Falta uma ação um pouco mais educativa, que mostre que a Cidade está se voltando e está respeitando um pouco mais a gente", aponta.

Cinco cidades cearenses com o maior número de frota:

Fortaleza:1.316.567
Juazeiro do Norte: 154.439
Caucaia: 128.605
Sobral: 116.525
Maracanaú: 96.806

Número de veículos no Ceará nos últimos sete anos:

2018: 3.182.714
2019: 3.313.630
2020: 3.423.239
2021: 3.534.437
2022: 3.643.488
2023: 3.768.628
2024: 3.917.095

Presença expressiva

Motocicletas e motonetas representam a maioria da frota

Nessa "disputa" por espaço, as motocicletas e as motonetas se sobressaem entre os demais transportes. Considerando o dado do Detran levantado até julho recente, elas totalizam, juntas, 1.962.209 dos mais de 4 milhões de veículos emplacados do Estado, representando 48,8% da frota total.

Presença expressiva desses meios de transporte é um fenômeno que já vem sendo observado há algum tempo. Em janeiro último, por exemplo, uma pesquisa da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) apontou que as motocicletas lideraram a venda de veículos em 2024.

Conforme publicado pelo O POVO na época, entre os motivos apontados pela instituição para explicar a liderança está o fato de que, depois da pandemia, as pessoas passaram a sentir a necessidade de um transporte para condução pessoal e profissional, sendo a moto o mais financeiramente acessível.

Mário Azevedo, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da UFC, cita como outro motivo para o crescimento desse meio a "forte publicidade" que há no mercado de compra e venda desses veículos. Como carros são mais caros, as pessoas que conseguem investem primeiro em motocicletas.

Fortaleza, CE, BR 22.07.25 Aumento na frota de veículos em Fortaleza (Fco Fontenele/O POVO)(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Fortaleza, CE, BR 22.07.25 Aumento na frota de veículos em Fortaleza (Fco Fontenele/O POVO)

Ele também cita a falta de transportes públicos regularizados, principalmente no Interior, que leva usuários a buscarem alternativas. "É o primeiro passo que a pessoa vai tomar para ter uma mobilidade maior. Depois que ela tiver um pouco mais de dinheiro ela pode pular para um automóvel”, destaca.

No entanto, o professor Ademar Gondim faz um alerta sobre o perigo de acidentes causados por motos, uma vez que elas não possuem tanta segurança. "As pessoas passaram a adquirir mais motos. O risco não compensa", opina.

Impacto e solução

Incentivo a transporte público pode ser caminho

Embora considere positivo o aumento de veículos, Gondim pontua que a saída para evitar transtornos na mobilidade urbana é garantir um transporte coletivo com oferta massiva, o que segundo aponta não acontece em Fortaleza. Docente frisa que o ideal é que usuários tenham uma educação mais consciente sobre o trânsito, fazendo uso de carros ou motos somente aos finais de semana, por exemplo.

Linha de pensamento é parecida com a adotada pelo professor Mário Azevedo. De acordo com ele, é preciso existir um equilíbrio entre preparar municípios para comportar veículos e promover incentivos a transportes públicos, para que não ocorra um inchaço no tráfego, como percebido em São Paulo. 

"A cidade em si tem que trabalhar nos dois sentidos, tanto aumentar (vias para veículos) como restringir (o uso dos mesmos), se não você transforma a cidade todinha em via e estacionamento, vai derrubando casas e lojas (para construir infraestruturas). A política mais correta é incentivar o transporte coletivo, o público, porque um veículo só carrega mais gente”, explica o docente da UFC. 

Azevedo também pontua que o crescimento de automóveis e motos, assim como de meios de transportes alternativos (como os de aplicativo), pode causar um impacto negativo no sistema coletivo. 

"O transporte público vai perdendo o número de passageiros, vai piorando por conta disso. Acaba desequilibrando o transporte público, pois você perde passageiro, perde receita e isso diminui o serviço, pois (a empresa) não tem condição de pagar (custos)", explica. 

Conforme Dimas Barreira, presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus do Ceará (Sindiônibus), essa tem sido uma realidade desafiadora para o Estado. Ele pontua que a demanda tem caido muito e que isso impacta no serviço ofertado, uma vez que a frequência (em que ônibus passam) diminui. 

"A gente tem o valor da tarifa, o volume dos subsídios e a oferta, eu preciso equilibrar essas três coisas. A gente tem conseguido manter uma oferta maior do que a demanda, mas a gente precisa seguir lutando por mais espaço no orçamento", destaca o representante do Sindiônibus.

Dimas também frisa que, em Fortaleza, a Prefeitura começou a aportar subsídios para segurar o preço da passagem e conta que alguns municípios cearenses têm começado a buscar modelos diferentes de financiamento. Segundo Dimas, o sistema não consegue se manter somente por meio das tarifas.

Infraestrutura

Ações no Estado e Capital 

Jorge Trindade, diretor de Educação de Trânsito do Detran-CE, explica que o órgão tem adotado uma "série de medidas estratégicas e integradas para minimizar os impactos ocasionados pelo aumento da frota de veículos" no Estado. Entre elas a implementação e requalificação de sinalização viária, voltada para a prevenção de sinistros, sendo realizadas a fim de ordenar o uso das vias pelos diversos modais.

"Campanhas educativas permanentes são realizadas em todo o Estado, com o intuito de estimular o cumprimento das normas de trânsito e o respeito à convivência harmônica nas vias, com temáticas das mais variadas e voltadas para todos os usuários do trânsito, em especial aos mais vulneráveis, que são os pedestres, ciclistas e motociclistas", diz Jorge. 

Ele pontua que o Detran dispõe de Escolas de Educação para o Trânsito que recebem diariamente crianças e adolescentes de escolas públicas e particulares. Jorge destaca ainda que o Detran incentiva os municípios cearenses a se integrarem ao Sistema Nacional de Trânsito, "prestando auxílio técnico para que, através da municipalização, ações integradas sejam viabilizadas e intensificadas".

Em Fortaleza, a Autarquia Municipal do Trânsito (AMC) destaca que tem concentrado esforços para "mapear e revitalizar a sinalização viária em todas as regiões da Cidade, renovando faixas de retenção, ajustando limites de velocidade e instalando novos semáforos inteligentes".

Entre ações realizadas no primeiro semestre deste ano pelo órgão, estão: implantação de sinalização horizontal e vertical, incentivo à micromobilidade, projetos de alteração de circulação, cursos de capacitação e ações educativas, alteração de horários da Zona Azul, entre outros.

INFGRÁFICO

Dez cidades cearense com o maior número de frota:

Fortaleza: 1.304.066
Juazeiro do Norte: 152.412
Caucaia: 126.505
Sobral: 115.335
Maracanaú: 94.877
Crato: 66.069
Iguatu: 62.130
Itapipoca: 50.138
Tiangua: 50.014
Russas: 44.312
Crateús: 40.319

Número de veículos no Ceará nos últimos sete anos:

2018: 3.182.714
2019: 3.313.630
2020: 3.423.239
2021: 3.534.437
2022: 3.643.488
2023: 3.768.628
2024: 3.917.095

Fortaleza, CE, BR 22.07.25 Aumento na frota de veículos em Fortaleza (Fco Fontenele/O POVO)
Fortaleza, CE, BR 22.07.25 Aumento na frota de veículos em Fortaleza (Fco Fontenele/O POVO)

Motos e motonetas são maioria

Em janeiro, pesquisa da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) apontou que as motocicletas lideraram a venda de veículos em 2024.

Conforme publicado pelo O POVO na época, entre os motivos apontados pela instituição para explicar a liderança está o fato de que, depois da pandemia, as pessoas passaram a sentir a necessidade de um transporte para condução pessoal e profissional, sendo a moto o mais financeiramente acessível.

Mário Azevedo, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da UFC, pontua como outra motivação para o crescimento desse meio a forte publicidade que existe no mercado de compra e venda desses veículos. Como carros são mais caros, as pessoas que conseguem investem primeiro em motocicletas.

Ele também cita a falta de transportes públicos regularizados, principalmente no Interior, o que leva usuários a buscarem alternativas. "É o primeiro passo que a pessoa vai tomar para ter uma mobilidade maior. Depois que ela tiver um pouco mais de dinheiro, ela pode pular para um automóvel", destaca.

No entanto, o professor Ademar Gondim faz um alerta sobre o perigo de acidentes causados por motos, uma vez que elas não possuem tanta segurança. "As pessoas passaram a adquirir mais motos. O risco não compensa", opina.

Incentivo ao transporte público pode ser caminho

Para o chefe do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ademar Gondim, a saída para evitar transtornos na mobilidade urbana é garantir um transporte coletivo com oferta massiva, o que segundo aponta não acontece em Fortaleza. Docente frisa que o ideal é que usuários tenham uma educação mais consciente sobre o trânsito, fazendo uso de carros ou motos somente aos finais de semana, por exemplo.

Linha de pensamento é parecida com a adotada pelo professor Mário Azevedo. De acordo com ele, é preciso existir um equilíbrio entre preparar municípios para comportar veículos e promover incentivos a transportes públicos, para que não ocorra um inchaço no tráfego, como percebido em São Paulo.

"A Cidade tem que trabalhar nos dois sentidos, tanto aumentar (vias para veículos) como restringir (o uso dos mesmos), senão você transforma tudo em via e estacionamento, vai derrubando casas e lojas (para construir infraestruturas). A política mais correta é incentivar o transporte coletivo, o público, porque um veículo só carrega mais gente", explica.

Azevedo também pontua que o crescimento de automóveis e motos, assim como de meios de transportes alternativos (como os de aplicativo), pode causar um impacto negativo no sistema coletivo.

"O transporte público vai perdendo o número de passageiros, vai piorando por conta disso. Acaba desequilibrando o transporte público, pois você perde passageiro, perde receita e isso diminui o serviço, pois (a empresa) não tem condição de pagar (custos)", explica.

Conforme Dimas Barreira, presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus do Ceará (Sindiônibus), essa tem sido uma realidade desafiadora para o Estado. Ele pontua que a demanda tem caído muito e impacta no serviço ofertado, uma vez que a frequência (em que ônibus passam) diminui.

"A gente tem o valor da tarifa, o volume dos subsídios e a oferta, eu preciso equilibrar essas três coisas. A gente tem conseguido manter uma oferta maior do que a demanda, mas a gente precisa seguir lutando por mais espaço no orçamento", destaca o representante do Sindiônibus.

Dimas também frisa que, em Fortaleza, a Prefeitura começou a aportar subsídios para segurar o preço da passagem e conta que alguns municípios cearenses têm começado a buscar modelos diferentes de financiamento. Segundo Dimas, o sistema não consegue se manter somente por meio das tarifas.

Jorge Trindade, diretor de Educação de Trânsito do Detran-CE, explica que o órgão tem adotado uma "série de medidas estratégicas e integradas para minimizar os impactos ocasionados pelo aumento da frota de veículos" no Estado. Entre elas a implementação e requalificação de sinalização viária, voltada para a prevenção de sinistros, sendo realizadas a fim de ordenar o uso das vias pelos diversos modais.

"Campanhas educativas permanentes são realizadas em todo o Estado, com o intuito de estimular o cumprimento das normas de trânsito e o respeito à convivência harmônica nas vias. Com temáticas das mais variadas e voltadas para todos os usuários do trânsito, em especial aos mais vulneráveis, que são os pedestres, ciclistas e motociclistas", diz Jorge.

Ele pontua que o Detran dispõe de Escolas de Educação para o Trânsito que recebem diariamente crianças e adolescentes de escolas públicas e particulares. Jorge destaca ainda que o Detran incentiva os municípios cearenses a se integrarem ao Sistema Nacional de Trânsito, "prestando auxílio técnico para que, através da municipalização, ações integradas sejam viabilizadas e intensificadas".

Em Fortaleza, a Autarquia Municipal do Trânsito (AMC) destaca que tem concentrado esforços para "mapear e revitalizar a sinalização viária em todas as regiões da Cidade, renovando faixas de retenção, ajustando limites de velocidade e instalando novos semáforos inteligentes".

Entre ações realizadas no primeiro semestre deste ano pelo órgão, estão: implantação de sinalização horizontal e vertical, incentivo à micromobilidade, projetos de alteração de circulação, cursos de capacitação e ações educativas, alteração de horários da Zona Azul, entre outros.

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