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Dragão do Mar completa 20 anos entre acertos e ajustes
Vida & Arte

Dragão do Mar completa 20 anos entre acertos e ajustes

Centro Dragão do Mar completa 20 anos procurando lidar com desafios relacionados à área cultural e questões financeiras
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Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, um dos locais do evento (Foto: Mateus Dantas)
Foto: Mateus Dantas Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, um dos locais do evento

Gestado durante anos pelo então secretário da Cultura do Estado Paulo Linhares, no governo Ciro Gomes, em parceria com o compositor e arquiteto Fausto Nilo, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC) foi entregue somente no governo Tasso Jereissati, em 28 de abril de 1999. Na véspera do aniversário de 20 anos do Centro, o Vida&Arte reflete sobre o momento atual e que desafios permanecem.

Paulo, há quase sete anos presidente do Instituto Dragão do Mar (IDM) - Organização Social (OS) que gere o CDMAC e diversos outros equipamentos em parceria com o Governo do Ceará -, lembra que o Centro nasceu ligado à experiência formativa que ocorria à época e levava o mesmo nome da atual OS. "Eu falava muito de três coisas fundamentais: formação, criação e difusão. Sempre imaginei essas coisas muito articuladas e o Dragão entraria como potência de difusão cultural, entre um projeto de formação artística potente (a escola) e um projeto de incentivo à criação", recupera.

Apesar dessa articulação inicial, a parte formativa foi fechada poucos anos após a abertura do centro cultural. Atualmente, com o Porto Iracema das Artes e outras iniciativas, o gestor vê como foco de atuação o fortalecimento desse lado, adiantando que o governo do Estado lançará em breve o projeto Superação, que ocorrerá em diferentes secretárias trazendo ações formativas com foco em população jovem e de baixa renda. "Parte importante do orçamento de cultura do Estado será concentrado na área da formação cultural, que vai ser nesse projeto criado por nós do IDM e gestado pela Secult", avança Paulo.

Outro movimento importante nos 20 anos do Dragão é a separação oficial entre o centro cultural e o IDM, concretizada no começo do ano a partir da criação de uma superintendência própria para o CDMAC. A responsabilidade fica com a artista e gestora Natasha Faria, que destaca como prioridade inicial da gestão uma série de reformas estruturais, previstas para iniciarem em maio e alcançarem, por exemplo, os museus, as salas de cinema e o teatro. "O Centro precisa ser reajustado para a próxima década. Nossa preocupação é com uma reforma que não vá separada do Teatro São José, da Biblioteca Pública, da Praia de Iracema", destaca, apontando para integração ao entorno, historicamente ponto de debate.

Para artistas ouvidos pelo Vida&Arte, os 20 anos do Dragão do Mar se equilibram entre comemorações e demandas. Para a atriz e contadora de histórias Paula Yemanjá, há a necessidade de uma reflexão sobre o Centro. "É bom comemorar um equipamento cultural de 20 anos, mas é necessário questionar como pode ser melhorada a sua atuação", inicia. Um dos pontos de questionamento é em relação à redução de programações específicas. "A contação de história tinha espaço e horário na grade dos sábados. Tinha saraus, também. Houve uma diminuição da literatura oral no Centro e é uma pena, porque era um acesso gratuito, aberto", destaca. "Pelo tamanho da Cidade, temos poucos espaços culturais, então acaba sendo difícil (para os artistas) acesso a esses espaços. Não conseguimos ficar dois meses em cartaz no teatro porque há poucos teatros públicos", avança Paula, que faz parte do grupo Os Pícaros Incorrigíveis.

O bailarino e coreógrafo Fauller, que se apresentou no Teatro Dragão do Mar no último final de semana, lembra do papel do Governo nessa equação. "O Dragão tem potencial grande não só para a dança, mas todas as linguagens. Na conjuntura política que estamos vivendo ele é, sobretudo, um esforço político, (mas) eu gostaria de vê-lo melhor cuidado. Eu sei do esforço da gestão, dos funcionários, mas não vejo o mesmo esforço por parte do Governo do Estado, assim como também não vejo com outros equipamentos culturais", aponta, citando o caso do Centro Cultural Bom Jardim, que há meses sofre com questões estruturais. "Estamos numa cidade que tem o luxo de ter um equipamento cultural desse porte, mas ao mesmo tempo que é um luxo, é o mínimo, é obrigação do Estado", sublinha.

Paula faz coro em relação aos problemas que envolvem o CCBJ e lembra, também, do atraso de pagamentos de cachês de artistas. "Vivemos uma fase da desmobilização e destruição de estruturas públicas para a cultura. No Ceará, a gente vê um desmonte quando pensa os atrasos e as morosidades da liberação de verba para os equipamentos. (É preciso) pensar como conseguir acelerar e melhorar as relações entre as instituições e os grupos", defende a artista.

Natasha afirma que, em termos de programação, o Centro deverá ter como foco para o segundo semestre os meses de julho, por conta das férias, e outubro, quando ocorrerá o Fórum Nacional de Museus. "Ele será um momento emblemático para pensar patrimônio, memória e em como o centro cultural é um lugar também de memória. 20 anos é muito tempo nessa cidade", ressalta. A programação infantil, ainda, deve ser fortificada. "Vamos pensar uma faixa no cinema para filmes infantis, uma programação para a família", exemplifica.

Em relação a questões de atraso, Natasha atesta que o Dragão do Mar está "em fase de pagamento". "Vamos celebrar os 20 anos com a expectativa que as dívidas sejam sanadas", espera. "Temos nosso orçamento e ele, sendo ligado a cultura, acaba mais fragilizado", aponta a gestora, que adianta um desejo do CDMAC de "buscar ajuda no setor privado". "Não é que o Estado vá deixar de financiar e dar suporte, mas também vamos, nos próximos anos, buscar proximidade com a iniciativa privada para fazer o que se pretende com mais respiro e tranquilidade", afirma. Em relação aos processos burocráticos, a gestora diz de um desejo de simplificação. "Nossa estrutura administrativa é pesada, burocrática, então as coisas seguem um fluxo mais complicado. Queríamos tudo simples, mas há coisas acima de nós nas finanças do Estado", explica. "Pretendemos simplificar contratos referentes à cessão de pauta e espaços, fazendo uma série de ações que tem a ver com nossa administração direta e pensando junto com o IDM e os setores jurídico e financeiro para ver como podemos simplificar", desenvolve.

A expectativa é, enfim, que os ajustes pensados para o Centro Dragão do Mar - físicos ou imateriais - tragam retornos positivos. "É saudável fazer esse olhar crítico em cima do equipamento e ir projetando como ele vai estar nos próximos 20 anos, isso sem esquecer dos outros equipamentos. A gente vê o Centro Cultural Bom Jardim sofrendo com um descaso tremendo. Quer a gente comemore, então, esses 20 anos do Dragão, que venham mais 20, e também mais 20 centros como ele, com autonomia de gerência e verba fixa no orçamento para a promoção da cultura", torce Paula Yemanjá.

Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. (Foto: Mateus Dantas / O POVO)
Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. (Foto: Mateus Dantas / O POVO)

Dragão do Mar

Onde: rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema

Informações:

www.dragaodomar.org.br

Horário geral: de segunda a quinta, de 8 às 22 horas; finais de semana e feriados, de 8 às 23 horas. Às segundas, cinema, cafés, museus, Multigaleria e bilheterias estão fechados

O Dragão em números

VISITANTES

2014 - 1,5 milhões

2015 - 1,3 milhões

2016 - 1,8 milhões

2017 - 2,1 milhões

2018 - 1,3 milhões

ORÇAMENTO*

2015 - R$ 800 mil

2016 - R$ 4,8 milhões

2017 - R$ 4,3 milhões

2018 - R$ 5,1 milhões

2019 - R$ 849 mil

*destinado para programação de todos os espaços do Centro Dragão do Mar, incluindo ação cultural e museus.

Fonte: Dragão do Mar

 

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