Em uma cidade onde a vida noturna e as opções de lazer estão sempre mudando e se reinventando, onde endereços comerciais mudam frequentemente seus nomes e donos, o número 207 na rua Dragão do Mar mantém sua alcunha há 20 anos. Idealizado pelo artista plástico irlandês Sean Bolger e por Patricia Carvalhedo, nascida nos Estados Unidos e criada em São José dos Campos (SP), o Órbita Bar nasceu em 1999, após decisão da dupla de "estacionar a kombi".
Depois de viajar por toda a Europa eles decidiram voltar ao Brasil, e a cidade escolhida foi Fortaleza. "Terra do meu pai, Terra do Sol, um sonho desde a minha infância", justifica Patrícia, que permanece no comando do Órbita Bar até os dias de hoje. Com a ideia de unir as paixões pela "música, arte, viagens e seus encontros e noites em boa companhia numa mesa de bar", os dois viram ali próximo ao mar, a galpões antigos e teatros o lugar ideal para um novo negócio. "Era a perfeita combinação histórica de área decadente e vocação boêmia, pareceu natural arriscar abrir um bar", lembra a empresária.
À época, a ideia era manter um lugar onde cultura, arte e música tivessem um ponto de convergência. "Não tínhamos grandes pretensões, assim como qualquer experiência no ramo. Fomos mudando e nos adaptando ao mercado e às exigências de seu tempo, mas a essência permanece", contextualiza Patrícia.
E foi a facilidade de adaptação que transformou a casa num celeiro para nomes da música autoral local. Vários artistas e bandas, hoje reconhecidos nacionalmente, fizeram suas primeiras aparições no palco do Órbita. A cantora Camila Marieta é um desses nomes. Desde que participou do Festival de Bandas Curto Circuito há três anos, ela mantém uma agenda fixa na Casa. "É um dos palcos mais importantes da Cidade, se não for o mais importante, que tem a maior visibilidade, e o público aceita bem o autoral", explica a cantora.
Bem antes do início da carreira de Camila, muitas outras gerações musicais passaram por ali. Bandas como Selvagens à Procura de Lei, Astronauta Marinho e Jonnata Doll e os Garotos Solventes usufruíram do espaço. "Era o único lugar que pagava as bandas, e isso era muito interessante. É muito difícil, você depende de bilheterias, e normalmente elas são muito 'miadas' na maioria das vezes, principalmente para bandas autorais, que não faziam covers", lembra o artista Jonnata Doll, que destaca ainda outro ponto positivo: o hábito de trazer bandas de fora, como Devendra Banhart e Nouvelle Vague.
O cantor Daniel Peixoto diz guardar um carinho especial pelo bar. "É uma Casa que ainda está nessa resistência, não tem mais em Fortaleza esse tipo de espaço, e está no mercado há 20 anos com programação semanal", defende. Mas o início de Daniel na casa não foi só feito de aceitação e retornos positivos. Alguns anos atrás, o Órbita passou por crises de imagem. Frequentadores se queixavam da forma como a Casa lidava com o público LGBT. "Quando fiz o primeiro show com o Montage, a casa ainda tinha o estigma de que os gays não eram bem vindos. De uma certa forma, começou ali uma revolução". Segundo Daniel, algumas pessoas denominavam, de forma pejorativa, a Montage como uma banda gay. "Nessa época não era comum, e a casa estava quebrando isso", explica o performer.
Jonnata Doll também cita que presenciou situações em que não concordava com a postura da Casa por algum tempo em relação ao público LGBT, mas justifica: "Era uma outra época. Hoje eu acredito que eles já devam ter superado isso. Acho que eles acabaram aprendendo com esses erros e mudando".
Para o cantor e frequentador Jeff Pereira, festas e projetos voltados ao público LGBT, como os recentes shows covers de Beyoncé e Lady Gaga, cativam e mostram que a Casa tem abertura para a diversidade. "Tinha-se uma ideia de era um lugar só de festas hetero-normativas, mas o que eu tenho visto é que isso vem se desconstruindo", explica Jeff.
Edson Baima, 22, estudante de jornalismo
"Um ponto positivo do Órbita que acho interessante é a variedade de festas que agradam diversos tipos de público, seja pop, funk, indie, rock, etc. A acústica para festas é boa, mas para bandas deixa a desejar, principalmente quando os demais instrumentos estão mais baixos que a bateria. Em dias de shows ou festas lotadas, a saída é bem complicada. Você demora muito pra sair. A casa é cheia de portas, mas só abre uma pra saída"
Victor Lourenço, 26, editor de vídeos
"Eu frequento a casa há nove anos. Vivi bastante coisa lá dentro. É um dos únicos lugares que eu vou porque tem festas para todo tipo de público. Na minha opinião, é uma das únicas casas noturnas que atende um público diverso, do rock ao funk, do brega ao pop, e eu acho muito interessante essa proposta. Eles tem muitas festas temáticas, que é o que me motiva a frequentar, porque muda um pouco as festas a que estamos acostumados"
Programação Órbita
Blue Vibrations
Atrações: Rafiusk, Two Folks, DJ Paluma, DJ Bubu
Quando: quinta, 25, a partir das 18h
Onde: Órbita Blue (av. Clóvis Arrais Maia, 3879 - Vicente Pinzon)
Telefone: (85) 99985-0257
Covernation
Atrações: Los Matadores (The killer), Dancing Shoes (Arctic Monkeys) e DJ Também Sou Hype
Quando: sexta, 26, às 21h
Onde: Órbita Bar (rua Dragão do Mar, 207 - Praia de Iracema)
Telefone: (85) 3453-1421
Festa Profana
Atrações: Omulu -SP, Armário de saia (RS), Los Gringos, Victor Wesley, Duro Bass, AK, Lucas BMR
Quando: sábado, 27, às
Onde: Órbita Bar (rua Dragão do Mar, 207 - Praia de Iracema)
Telefone: (85) 3453 1421
Festa Profana
Atrações: Djs Addler e Samurai
Quando: domingo, 28, a partir da meia-noite
Onde: Órbita Bar (rua Dragão do Mar, 207 - Praia de Iracema)
Telefone: (85) 3453 1421