Cartazes, imprensa, redes sociais e site do Porto Iracema das Artes convidaram: artistas cearenses com trabalhos artísticos relacionados à água poderiam enviar seus materiais para a seleção da mostra Poéticas das Águas. Os critérios: ter entre 15 e 29 anos e ser aluno ou ex-aluno da rede pública de ensino do Ceará. Dos interessados, a curadoria de Iana Soares, Aline Albuquerque e Carolina Vieira, todas coordenadoras de atividades do Porto, selecionou vinte obras para estarem expostas a partir de hoje, 17, às 19 horas, no pátio da Escola.
A arte encanta, comunica, transmite o que inquieta, convida a refletir. Como o nome sugere, a mostra é fruto de um caminho artístico pensado para trazer uma reflexão sobre o uso e a importância da água. “O intuito é ver o que a juventude cearense está pensando e refletindo artisticamente sobre coisas que nos acontecem. Nesse caso, a água. A mostra é bem diversa, alguns trabalhos falam de questões ligadas à poluição, outros de questões mais sociais e políticas. Eles se conectam pelo interesse amplo que já deveria importar a todos: a preservação da água”, pontua Iana Soares, coordenadora do Programa de Fotopoéticas.
Foram selecionados desenhos, fotografias, gravuras, ilustrações, vídeos e performances. Entre eles, Ouro de Tolo, de Bárbara de Moira, 21. Em meio a aulas de biologia e artes visuais, a artista criou uma escultura para a mostra. “Meu objetivo é tencionar a mercantilização da água doce, recurso hídrico menos disponível. Antes de ser artista, eu era da biologia e trabalhei com ecologia aquática, então, tenho noção de como o impacto de poluição, uso indevido e má gestão da água são graves no nosso Estado”, aponta.
“Ao pintar um garrafão de ouro e colocar num lugar de visibilidade e requinte, quase como um objeto de luxo, eu estou questionando para quem é essa água e de quem é o direito a esse bem comum tão necessário à vida”, provoca Bárbara. A obra compõe um alto pedestal vermelho que guarda um garrafão de água dourado feito ouro. “Costumam falar que a água é o ouro do futuro, mas não sei se fica tão evidente o porquê. A água é um recurso natural muito importante para todas as formas de vida, e é um absurdo que haja uma capitalização tão grande em cima”, conclui.
A Transposição, de Lívio do Sertão, atravessou o Ceará para compor a mostra. Residente do Cariri, o artista de 28 anos criou a foto-performance já no início de 2019, durante um passeio à Chapada do Araripe. “Na imagem, eu apareço segurando um fragmento de cano, tentando mudar o curso da água de uma bica. Eu tento modificar o caminho dessa água, levando para outro local, mas não consigo. A minha ideia é questionar esses deslocamentos de água dos rios, nascentes, barragens. Não necessariamente sendo contra ou a favor, mas questionando como e para quê isso acontece”, explica.
A Mostra é uma realização do Porto, em parceria com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), e fica exposta até 22 de novembro. Na abertura de hoje, os artistas discutem e conversam sobre suas obras.”Além de propor uma reflexão sobre a água, a ideia é mostrar que o Porto é um espaço para criar. Nesse momento de cortes federais (orçamentais), é importante ver que muitas obras decorrem de formações artísticas”, finaliza Iana.
Abertura da mostra Poéticas das Águas
Quando: hoje, 17, às 19 horas
Onde: Pátio do Porto Iracema das Artes (Rua Dragão do Mar, nº 160 - Praia de Iracema)
Gratuito
Exposição: de 17 de outubro a 22 de novembro
Visitação: segunda a sexta, de 8h30min às 22h